Os sete Selos - Manuscritos Medievais

As escrituras eram tão obscuras. Aquela preciosidade condenada em suas mãos, um livro antiquíssimo, com a capa revestida de couro e ornamentada com motivos metálicos. Uma raridade, imersa em mistérios proibidos e lendas sinistras. Os dedos corriam estremecidos entre as linhas antigas, cuidadosamente registradas em folhas de velino. A luz da vela estava para se extinguir, e a todo o custo forçava os seus olhos cansados, para decifrar o que ali estava escrito.

Era o primeiro, e talvez o último dos monges, que tentado pela curiosidade, havia invadido a ala proibida. Em busca do Códex Giga, a que todos chamavam vulgarmente de a Bíblia do Diabo.

Tudo fora movido por aqueles estranhos pesadelos, ele precisava desesperadamente desvendar os seus segredos...

Antes, estes tais pesadelos, eram-lhe como fragmentos desconexos, que aos poucos tomaram forma. Despertava a noite, ofegante, com as vestes empapadas de suor, tinha o coração absorto em desespero, cruzava os dedos a rezar, mas aquela estranha sensação desoladora, não o abandonara. Os pesadelos cada vez mais frequentes, lhe pareciam reais demais, como meros fragmentos de uma memória que não lhe pertencia.

Ouvia o som de vozes distantes, se aproximando pelos corredores frios do monastério Beneditino. Quando finalmente seus olhos conseguiram absorver as linhas do códex, em um pergaminho qualquer, principiou a transcrevê-los velozmente. Os dedos fremiam de pavor, pois deveria partir o mais breve possível, estava a sentir o bafo gélido de algo a se aproximar em passos lentos. Se acaso alguém, descobri-se de sua fuga noturna, estaria condenado a reclusão ou então a ser emparedado vivo.

Afastando os pensamentos dúbios que sua mente concentrou-se em sua tarefa. E quando finalmente o seu trabalho estava concluído, desatou a correr entre as escadarias sinuosas e corredores extensos, esgueirou-se sorrateiro, prendendo a respiração, quando um grupo de monges cruzou a rezar de forma silenciosa. Sentia o suor a escorrer pela face, e o coração a retumbar no peito. Estaria a pecar? Indagou a si mesmo.

Por fim chegou a um lugar seguro, onde repousava todas as noites, um aposento simplório e úmido, onde uma pequena janela gradeada exibia os contornos da lua e os sons da noite que sussurravam entre a penumbra. Acendeu o lampião, e deitou-se em uma cama de palha, e colocou-se a ler desesperado. Seu latim, não era dos melhores, mas conseguiu decifrá-los;

Sete selos

Dos sete selos, sete se abriram

Das sete prisões da terra

Terríveis demônios despertaram

Dominaram em seus reinos

De fome, caos e guerra.

Da caverna mais obscura

Ao oceano mais profundo

Dos vulcões infernais

As montanhas invernais.

Os sete reinos, para sete reis

A punição aos homens tolos

O martírio de fúria e fogo

A princípio não compreendeu o teor diabólico daqueles versos. Mas aqueles malditos sonhos, eram um aviso talvez, ou um vislumbre do futuro que ainda estava por vir. Algo sombrio e destrutivo. Um pressentimento quiçá, uma sensação...

O Apocalipse...

Súbito a porta se abriu, em um rompante violento, escancarou-se ao ranger da madeira podre. A luz do lampião tremulou e se apagou. Na escuridão, em uma névoa densa, dois olhos rubros flamejaram na penumbra, como duas brasas incandescentes diabólicas. Uma boca horrenda se abriu em presas luminosas. O monge aturdido agarrou-se ao crucifixo de madeira e colocou-se a rezar. A figura bestial diante dele riu, escarnecendo do homem aterrorizado diante de si, tão fraco e patético, um verme, a que chamam de humano.

Um grito rompeu o silêncio da noite, rasgando a escuridão com sua dor...

Era o início do fim, e nada mais...

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Taiane Gonçalves Dias
Enviado por Taiane Gonçalves Dias em 28/11/2011
Reeditado em 03/12/2011
Código do texto: T3360362
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