Sexo básico

Enquanto um longo cigarro de palha girava naquela boca fétida, o dono daquele portal mal cheiroso, Jack perneta, observava ansioso o luxuoso funeral que passava pela avenida.
Em longas limusines transformadas em funerária iam para sua ultima morada os abastados, os eleitos pela sorte, e hoje não seria diferente, a primogenita de um barão dos diamantes estava alí, e a luxuosa urna funerária, branca, ornava com ares monumentais aquele féretro magnífico...
A bela jovem, com um corpo escultural, morta de colapso cardíaco dormia em sedas indianas, seu sono eterno...
Lamentos, gritos e choros convulsivos acompanhavam a passagem do evento fúnebre, ao fundo vinda do alto falante da catedral, a marcha fúnebre de chopin, tornava a irreversabilidade da trágica passagem, mais presente, real, como um punhalada certeira no coração de quem amava aquela alma bondosa, que brevemente iluminou os olhos de quem a conheceu...
E entre estas pessoas estava Jack, mendigo, portador de lugar cativo num dos cantos da igreja, onde pelo menos 2 vezes por semana passava a linda jovem a caminho das missas e novenas, e o olhava discretamente.
Na mente de Jack, na vida de Jack, aquele sonho impossível, soou durante todo tempo em que viveu a jovem, como o significado da derrota como ser humano, como um ceifar inadmissivel de algo que ele em seu íntimo desejou mais que sua própria vida...
Jack ajeitou o cigarro em sua boca, e sorriu levemente, depois adiantou-se, cemitério adentro, indo estacionar sua figura de farrapo humano há alguns jazigos de onde iam sepultar a moça...
Viu a majestosa limusine parar em frente ao portão, e seis senhores da alta sociedade levarem a urna funerária
até a morada final...Segunda gaveta, na lateral esquerda do jazigo da família da moça...
A tarde dourada findou aquele doído dia com a figura de Jack, se arrastando para a lateral da igreja onde dormia.
Depois o silencio beirando os muros altos do cemitério, uma ou outra coruja, dando as boas vindas ao breu da noite. Já nas horas mortas da madrugada, algo arfava entre os túmulos com uma talhadeira numa mão e um martelo na outra...
___Hummmm Hummmm, é alí...Hummm, rsrsrsrsrsr
Que beleza de jazigo, perfeito, não vejo a hora...Me aguarde princesa...Era Jack respirando sexo funebremente proibido...
Por duas vezes ele ouviu algo vindo de dentro do enorme jazigo que era mais tenebroso na noite, mas os generosos goles de tequila fizeram o medo desaparecer, viera para realizar seu sonho e realizaria...
___Pronto...Agora só afastar aqui...Isso.
Com a gaveta aberta, segurou com firmeza o caixão e puxou...
Já no exterior, retirou os parafusos com nervosa excitação, gemia a cada gesto, como a sentir prazer antecipado, colocou as mãos na fresta entre o caixão e a tampa, e lentamente a ergueu...
Seus olhos expeliram loucura e na insanidade dos necrófilos constatou que o caixão estava vazio...
Um vento gelado soprou-lhe a nuca e algo balbuciou...Jaaaaaaaack...
E ao virar duas pinças geladas em formato de mão abraçaram-lhe o pescoço, as mãos eram da jovem morta,
o corpo era da jovem morta, mas a voz que acompanhada de uma longa espada, não eram da jovem...
O brilho alaranjado nos olhos da criatura iluminaram o banho de sangue que se seguiu, em todas as direções
a espada cumpriu seu trajeto esmiuçando o corpo imprestável de Jack, e os gritos dele foram precedidos de
longas e tenebrosa risadas, que encheram o breu da noite...
A perfeição de algo que guardava o intocável, foi visto pela manhã, e exatamente como no dia anterior estava o mausoléu, nada fora tocado na noite...
Somente um detalhe diferente naquele local poderia notar o mais observador que olhasse na beirada do muro ali próximo, um desfeito cigarro de palha, semi enterrado entre as plantas... Algo imperceptivel, como um mendigo qualquer...

Malgaxe    

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 30/11/2011
Código do texto: T3365304
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