Vingança...

Vingança...

Catando ainda os pedaços de seu vaso preferido ela sorria, mesmo que aquele caro objeto agora estivesse destruído ali no chão ela estava feliz. Comprara-o em uma viagem à Holanda, com uma grande amiga, lembrava muitos detalhes daquela viagem, sentia os mesmos cheiros e sensações daquele dia chuvoso, mas não eram apenas as lembranças que a deixavam bem, pois tudo estava em paz naquela casa, em sua mente, em sua alma.

O som dos cacos sendo colocados sobre a pá era tudo o que podia ser ouvido, aquela casa era muito afastada das outras. Era possível até, algumas vezes, ouvir sons noturnos como corujas, grilos, mas aquela noite estava especialmente calma, o mundo conspirava a seu favor.

Sentada em sua poltrona contemplava a cena, os olhos ainda arregalados de terror se congelaram em uma careta, quase cômica para um morto, ela sentia vontade de rir alto, era revigorante olhar para ele.

Tocando, mais uma vez, nos pulsos marcados, se lembrava da noite anterior, quando ele a amarrara na cama e a violentara, dizendo que a possuiria e que ela não poderia rejeita-lo, segurando com força as lágrimas só gemia, planejou aquela vingança com frieza e fúria. Ele a jogou com violência sobre a cama, rasgando as roupas e imobilizando os braços, amarrando na cama. Abrindo as pernas dela deixou todo o seu peso sustentado apenas em um travesseiro sob as nádegas, e sendo esticada pelos braços e pernas, a dor já era grande até ele trazer aquele chicote. O material era indistinguível, mas não deixava nenhuma marca apesar de arder a cada lambada. Ele se excitava a cada gemido dela, quando seu membro já latejava de desejo ele a penetrou, com força e violência, quase desfalecendo ela gritou, sentia o sangue escorrer dos pulsos, a coluna doía, mas o que realmente machucava era toda aquela humilhação. Depois de gozar em seu rosto, começou a lamber todo o corpo dela, logo mordia com força o bico de seus seios, quase a ponto de arrancar, arranhou sua pele com um pequeno instrumento metálico, jogando depois algo que fez seus olhos encherem de lágrimas, tamanha a ardência. Ele mais uma vez se excitava com tudo aquilo, levantando-a e penetrando-a por trás. Nem gemia mais, não havia mais força em seu corpo pra nada. Quando tudo aquilo acabou ela nem tinha certeza se estava viva.

Seria impossível tentar dormir amarrada daquele jeito, ficou olhando pro teto com todo o ódio que alguém podia sentir, não sabia como se libertar, mas jurou que mataria aquele maldito quando pudesse.

A madrugada chegou, ele estava no outro quarto dormindo, com os dentes cerrados tentava em vão se libertar das cordas, até que, se lembrando de seus tempos de adolescência, sussurrou:

-Poder das trevas, vingança que geme, faminta de sangue, que clama por morte, liberte esta alma, que a ti se oferece, ao preço que cobre...

Uma fumaça, semelhante a um nevoeiro, entrou pela fresta da janela. Logo tomava a forma de uma moça jovem, branca, de olhos acinzentados, com uma expressão melancólica. Sorriu com dentes animalescos, balançando afirmativamente a cabeça. Apontando um dedo fez se desfazerem os nós que a prendiam. Ficou um tempo olhando para ela antes de falar:

-Pague o preço...

Mesmo estando nua e demorando um pouco pra conseguir se por de pé, procurou com os olhos algum recipiente, que foi o vaso holandês. Colocando-o então no chão, abriu a gaveta pegando algumas velas brancas e as acendendo. O corpo da mulher não se iluminava, muito pelo contrario, o rosto parecia ficar mais escuro, como em uma sombra. Ela pegou a adaga que a aparição lhe oferecia e cortou um pouco abaixo da marca das amarras de seu pulso esquerdo. Uma pequena quantidade sangue escorreu para o fundo do vaso transparente.

-O que deseja além da libertação do corpo?

-Poder! Magia, eu quero destruí-lo!

-Sangue, lágrima e suor.

Ela fechou os olhos, o calor do fogo das velas parecia ter aumentado totalmente a temperatura do ambiente, mas ela só se concentrava no ódio que sentia. Logo de sua testa escorriam gotas de suor e de seus olhos lagrimas, que eram colhidos por garras frias, que sabia que se as visse sentiria total pavor, por isso manteve os olhos fechados.

Ouviu um rufar forte, como se uma ventania tivesse começado, seu corpo foi cheio de um poder incomparável. Toda a dor passou, era apenas ódio, seu desejo de vingança saia pelos poros.

Foi até onde estava o maldito, levantou-o no ar e jogou fortemente contra a parede, fazendo com que acordasse assustado.

-Como você se soltou sua puta!-disse depois de estar totalmente acordado.

-Você está morto seu imbecil, devia ter me matado enquanto teve chance, agora vai sofrer tanto que vai achar o inferno um lugar doce.

Como se arranhasse o ar, ela fez movimentos com as mãos, rasgando o corpo dele, este caiu desacreditado, o sangue escorria. Tentou sair correndo pela porta, mas foi levantado ate o teto, batendo fortemente e cabeça e caindo estrondosamente no chão. Ainda estando longe, fazendo movimentos com as mãos como se descascasse uma banana imaginaria, arrancou a pele dele, deixando em carne viva. Ele gritava com força, tendo todo o terror estampado nos olhos. Fez surgirem cobras ao redor dele, que o envolviam, escorrendo pelo corpo sem pele, e lambendo a carne, roçando os dentes, fazendo pequenas fendas, vermes começaram a comê-lo, os olhos dela em chamas se deleitavam com toda aquela dor. Até que fez tudo cessar, ele já estava quase morto.

Sentou a frente dele e ficou olhando-o, queria que seu sorriso malicioso fosse a ultima coisa que ele visse, ele tremia, mexia os lábios amaldiçoando-a. Quando deu o ultimo suspiro, o vaso que estava bem próximo dela agora se espatifou em mil pedaços, confirmando a morte do maldito. Ela estava vingada.

(Minha autoria)

T Sophie
Enviado por T Sophie em 04/01/2007
Reeditado em 07/01/2007
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