Pequenos contos de terror (Editado)

Conto I

Passados alguns anos desde o dia que esteve naquela casa, via pelas janelas empoeiradas a mesma vista de sua infância. Tinha apenas 22 anos, mas desde os doze não ia até ali, haviam estranhas lembranças ligadas aquele lugar, como a historia da morte da pequena Anabelly, uma garotinha de 6 anos, que havia sido torturada e morta com cortes profundos pelo corpo. Tinha conhecido-a, detestava-a com todas as forças, uma menina muito mimada, certa vez tinha quebrado em mil pedaços sua bailarina de louça, presente de sua amada tia do interior.

Como em um filme, mil imagens em miscelânea surgiam em pequenos flashes em sua mente. Correndo pelos campos verdes, banhos no lago, seu primeiro beijo em um garoto muito lindo que morava perto da casa, brincando de bonecas no "sótão" (se é que aquilo poderia ser chamado de sotão), busca de tesouros no porão...

Ouviu um som de passos pela escada, sentiu o coração disparar, estava sozinha em casa, se virou e deslumbrou com o rosto da pequena Anabelly, com roupas cortadas e banhadas em sangue, como no dia que a matara, a garganta ficou seca, ela a olhava com olhos de dor e lamento, de repente solta uma gargalhada diabólica e desaparece escada abaixo. O vento sopra em seu rosto pela janela, seria o ultimo fantasma? O chão a sua volta estava molhado de sangue, uma grande poça na verdade, olhou para os pulsos cortados, sentiu frio, e caiu para trás sem vida, desistira finalmente de tentar sobreviver ao peso da morte de uma criança inocente...

***

Conto II

Finalmente e celebração do casamento acabara, ele não podia mais suportar o desejo de ter sua amada nos braços, sentir aquele corpo sob o seu, o calor daquela pele; o motorista ia rápido pela estrada que os levariam para o sitio de seus pais, ela estava calada, talvez fosse a emoção...

Chegaram finalmente, o motorista desceu as bagagens e se foi, não havia mais ninguém, ela tinha um olhar vazio, no salão principal havia uma lareira, afinal no inverno era sempre muito frio, ele pegou as malas e levou ao quarto, ela subiu em passos lentos, foi para o banheiro e se trocou, pôs uma camisola negra, de seda, com uma renda bem trabalhada no decote. Ele a abraçou, e sorriu, ela permanecia em um silencio frio, um olhar parado...

Deitou-se na cama, ele começou a beija-la, abraça-la e despi-la, a pele dela estava fria, e muito branca, um vento gelado entrava por alguma fresta, meio que inexplicavelmente, ele começou a tremer de frio, o vento se tornou mais e mais forte, os cabelos de sua amada pareciam se tornar mais pretos a cada vez que a beijava, e os lábios estavam vermelhos e entreabertos, os olhos parados para o teto, quando não mais suportava o frio se levantou e foi buscar a janela que permitia tal vento de lhe invadir a privacidade, desceu as escadas, voltou pelo corredor, e nenhuma fresta pode ver, mas ao entrar novamente no quarto olhou estarrecido, quem jazia deitado não era sua doce amada, e sim, uma criança de poucos anos, muito branca, com lábios muito vermelhos, e o corpo coberto de sangue...Nunca soube que aquela era a pequena que ele abusara no inicio de sua adolescência, que havia morrido naquele inverno em pleno galpão de ferramentas que havia nos fundos...

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Conto III

Era uma jovem muito triste, não suportava estar cercada de pessoas,fúteis e vendidas. Se escondia em cemitérios pelas madrugadas, suas vestes negras se misturavam à atmosfera lúgubre dos túmulos, o eco de seus passos era como musica para seus ouvidos, o silencio era tão cheio de paz, a solidão era sua unica e doce companhia. Lamentava estar viva, seus amigos eram tão fúteis, pseudo-revoltados, com suas falsas depressões, tão felizes em festas e shows e afirmavam partilhar de sua angustia depressiva quanto à presença das pessoas, chegava a ser engraçado, a quem queriam enganar?

Naquela noite, ouvia o som de alguma musica ao longe, um som meio fúnebre, quando escutou passos, olhou meio assustada, era um rapaz, alto, moreno porém pálido, com roupas negras, e olhar perdido, parecia não notar sua presença, sentou em um tumulo, olhava para a lápide, continuou sentada, vislumbrando sua nova companhia.

O som ao longe persistia, o vento soprava contra seu rosto, virou e notou que o garoto a olhava, levantou uma sobrancelha demonstrando duvida quanto a sua presença, ela ficou sem graça, ele levantou e foi em sua direção, ela nem sabia o que dizer, perdera o habito e conversar com estranhos.

Ele sentou a seu lado:

-O que faz aqui?

-Não sei...-foi o que ela respondeu.

Ele sorriu, começou a perguntar coisas a ela, do que gostava, o que fazia, contou coisas que jamais contara a ninguém, falou sobre sua infância, sobre suas desilusões, sobre seus sonhos, ele ouvia calado, ela sentiu que uma lágrima lhe escorria pela face, ele secou-lhe o rosto, ela pode sentir o quão fria era sua mão. Ele ficou olhando-a nos olhos e disse:

-Eu adoraria estar vivo para poder te beijar sabia, você é tão linda, tens sentimentos tão parecidos com os que eu tinha.

Sentiu uma dor, um medo, ela se levantou e foi para o túmulo onde ele estava sentado e vendo a lapide, lá estava o nome e a foto dele, ela olhou para ele em busca de respostas, mas ele ficou em silêncio...sentiu vontade de morrer também para poder tê-lo, pôs a mão sobre seu peito em busca de seu coração, não pôde senti-lo bater, olhou para ele e sentiu vontade de tocá-lo, sua mão podia sentir a pele dele, estava frio, mas podia sentir, tocou o rosto e o abraçou...com os olhos abertos pode ler finalmente seu próprio nome no túmulo que estava sentada...

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T Sophie
Enviado por T Sophie em 05/01/2007
Reeditado em 26/06/2014
Código do texto: T337263
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