O amigo da vizinha

Um grito... Como tantos outros que deixavam em alerta a vizinhaça.
Quase uma rotina, e não raro no dia seguinte um rosto com hematoma, um olho roxo, o ódio da reincidencia da agressão, estampado em rostos assustados... Rostos de mulheres, geralmente inimigas da odiosa agressão
masculina...
Mas Isonete, uma mulata minguada, com a pele arroxeada aqui e alí, causadas por antigas surras, já não apanhava mais, tornou-se dominadora de qualquer situação, que envolvesse ela e o canalha de seu amásio,
um biriteiro conhecido, pelos porres homéricos, e pelas encrencas fúteis em quem que se envolvia, um lixo andante.
A causa da insolvencia da valentia do machão de cozinha, foi uma declaração que Isonete fez certo dia, quando a mão do covarde, virava horas numa sevícia desumana...
___ Para home...Para senão tu vai vê com meu amigo...!
A paralisia da besta foi imediata, um filme com homens fardados, com toga, e uma sombria cela, passou na cabeça dele imobilizando a mão que descia na infeliz, com sanha violenta, enfim se dava conta de que podia se dar mal,
mas encasquetou a ameaça de Isonete...
___ Oxemm...Amigo? Quinhé será o tar de amigo?
___ Cachorra, tu me aguarde...
Decididamente embora o medo, o amásio de Isonete não engoliu aquilo, devia haver um jeito de saber quem era o indolente a meter o bico em sua vida, aliás segundo ele era humilde, e é claro com alguns desentendimentos com a amásia, uns socos e pontapés na raquítica mulher,
mas para ele, nada de mais...
Foram-se os dias, uns após outros, porres e mais porres do amásio de Isonete,mas uma coisa mudou, via-se a raiva no rosto dele, mas limitou-se a isso, praticamente esquecendo a violência, e diante de qualquer ameaça a mulher repetia...
__Cuidado com meu amigo, Zé, ele é muito justo.
Embaralhou mais a cabeça do pobre cachaceiro, que cismou um chifre em sua cabeça, em certo entardecer, ele chegou em casa e decidiu, arrancar da mulher toda e qualquer confissão...
Já na agonia crepúscular o dia se fazia escuro dentro do casebre, quando o amásio adentrou... O cheiro fétido de alcool envelhecido na sua boca pouco afeita a uma escova, encheu o ambiente, ele percebeu o silêncio, e parou...Bailou o corpo na dança desconecta dos bêbados,
arregalou os olhos, e gritou...
___Isonete, cachorra, cadê tu miseráve, hoje eu tiro da tua boca o nome deste cabra...
E neste tom de voz ameaçadora, esticou a mão direita para o lado esquerdo da cintura e puxou 40 cm de lâmida, numa empunhadura robusta alí estava uma adaga, que reluziu na luz do pequeno lampeão em cima da mesa feita
de cedro farquejado, e o pior reluziu na mão nervosa do amásio, que evaporava ódio, afinal admitiu desgraçadamente que o chifre era dele realmente, ia resolver a situação, com sangue...
E assim cambaleante, a besta encaminhou-se para o quarto, para degolar a traidora...
Bateu uma, duas, tres vezes na porta do quarto e nada de resposta... Com jeito enfiou a agada no fresto e baixou a tramela da porta, abrindo-a...
Dois zunidos cortaram o silêncio do quarto, e como raio saindo das trevas, uma espada antiga brilhou acima da cabeça do amásio, uma, duas vezes, depois o silencio
novamente...
Os olhos arregalados do homem, sentiu o fio de aço penetrar-lhe fundo nas panturrilhas, mais alguns segundos, e novamente o fio quente da lâmina perfurava fundo suas nádegas, era abundante e quente o sangue que descia em direção ao chão, os gritos de dor cessaram
no momento em que a espada, num golpe incisivo, repartiu ao meio o homem, pelo abdomem, fazendo-o chafurdar em seu próprio sangue...
Dos delírios que antecedem a morte, voltou o amásio, para sentir bem perto da sua nuca, alguém se aproximar encostar o frio do aço de um revolver em sua cabeça e descarregar a arma...
Ainda crepitavam os ultimos brasidos do casebre, quando Isonete alí perto sentada num barranco, com os unicos pertences salvos, acariciava dentro de sua bolsa, um belo
revolver, presente de seu primeiro marido.
___ É meu amigo, vou te conservar ao meu lado, vai que...  
 

   
 

 

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 07/12/2011
Código do texto: T3377284
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