A sauna

"O stress é um mal silencioso que mata e auto destroi o doente com a mesma facilidade e grau de eficiencia." 

O cotidiano estava matando aos poucos Clarice, aquela repetitiva rotina tornava sua vida enfadonha, mas infelizmente alguém tinha que fazer as tarefas diárias, os filhos na escola, o marido, Alceu, em seu trabalho e ela entrincheirada em casa, saía finais de semana aqui
e ali com o marido e filhos, era isso que a confortava...
Certa vez em seu descanso após o almoço, para depois continuar as tarefas, divagava porque as vezes se achava a pior das mulheres, teve vontade as vezes de largar tudo, era uma espécie de sindrome, de cansaço que lhe embaraçava a mente, derivando para breve loucura
aquele stress.
E foi numa dessas voltas às tarefas depois do almoço, que ela iniciou a lavagem das roupas, a velha máquina de lavar roncava pelo menos 3 vezes por semana, e como num rito ela fazia sempre o padrão, enchia a máquina de água, sabão em pó, virava pelo avesso as roupas, revirava
bolsos, e começava a lavagem.
Especialmente neste dia ela encontrou algo no bolso da bermuda do marido, exatamente aquela que ele usou na terça, quando foi a sauna, gentileza do patrão que liberava a sauna particular uma vez por semana para os funcionários depois do expediente, depois do tradicional futebol semanal.
Quando tocou a meia folha de papel no bolso esquerdo ela mostrou um olhar interrogativo, pois nunca acontecera algo semelhante, envolveu o papel em seus longos dedos e o retirou do bolso, ao primeiro olhar
não identificou as letras, precisou os óculos, pegou-os e a surpresa...
Em dez linhas, perfeitamente detalhado a anatomia prévia de um crime, com as pernas vacilantes, ela esbugalhou os olhos, sentou e vagarosamente,
deglutindo cada palavra, armazenou em seu cérebro o conteúdo do papel...
/...O serviço fica para o dia 27 de agosto, o material será entregue no mesmo dia, deve executar logo que chegue no endereço, não esqueça a arma pro serviço, fique atento.../
Resumiam estas palavras o suposto crime a ser perpetrado...
Clarice, foi até a sala deitou no sofá, não tinha dúvidas, era a mecânica de um crime, estava pálida o coração acelerado, embargado na garganta um choro que a lembrança do marido não deixava ser exteriorizado, ela não podia acreditar... Seu marido um assassino, e o que
mais a intrigou o endereço era de seu irmão, ficava ali ao lado... Logo o seu irmão?
Pensou e resolveu com seus botões investigar silenciosamente até onde ia aquilo, se por um lado amava o marido, de outro era seu irmão que estava em perigo...
Durante todo o tempo especulava com o marido para ver se ele dizia algo sobre o dia 27, mas chegou as vésperas e ela nada soube, com os nervos em frangalhos, viu no dia 26 o marido ficar em casa, alegando uma dor de cabeça, não tinha mais dúvidas ficara em casa para planejar melhor o crime...
Apesar dos afazeres não tirou os olhos do homem, durante a noite não dormiu, afinal poderia ele antecipar a tragédia, e em completa confusão mental, ela amanheceu o dia sentada na sala, veio a manhã do dia 27, liberou os filhos para a escola, e ao perceber pela fresta da porta que o marido telefonava para alguém, encostou o ouvido na porta e concluiu:
___Não vai trabalhar de novo...Vou dar um jeito neste assassino agora...
O som da água escorrendo no banheiro abafou o andar de Clarice pela casa, e na hora em que seu marido saiu do banheiro, uma... Duas... Tres machadadas, esfacelaram cabeça e torax do infeliz, transtornada e fora de si, esquartejou o marido ali no chão, espalhando os pedaços
numa poça de sangue...
Ainda segurava o machado quando um veículo parou em frente a sua casa e buzinou...
___Bom dia dona Clarice, vamos entregar e montar um guarda roupa na casa do seu irmão...
___Por um acaso a senhora não encontrou um recado do patrão pra mim numa bermuda...?
___É que a minha é igual a do Alceu e ele pegou  enganado no dia da sauna...
A cordinha da descarga e o basculante penduraram com perfeição Clarice no banheiro, terminou assim a tragédia causada pelo engano fatídico.
A "arma"? Bem a arma nada mais era que um apelido que eles deram para a parafusadeira elétrica...

 
Malgaxe

 

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 14/12/2011
Código do texto: T3389023
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