Escuridão (Proibido para menores de 16 anos)

- Eu não enxergo! Eu não enxergo nada! – Julia gritava tentando encontrar alguma saída para a situação em que se encontrava. Andava trombando nos móveis, sentindo o cheiro de sua filha, ou melhor, o cheiro que estava impregnado no corpo de sua pequena Clara. Julia sentia o liquido escorrer pelo extremo de sua face enquanto a forte ardência alcançava seus olhos. Ela tentava se situar, o calor infernal tomando todo aquele porão onde estava sendo torturada á dias. Ela era guiada pelo choro abafado de sua filha, que estava em algum canto em meio á escuridão que a cercava. A única certeza que Julia tinha é que aquele canalha estava morto, três passos atrás dela caído no chão com o pedaço de vidro, o mesmo vidro com que ele arrancou os olhos dela, e agora estava cravado na garganta de Reinaldo. Ela ainda podia sentir o gosto de sangue, o mesmo sangue que ela arrancara dele com os dentes, ao morder a língua sádica profundamente. Ele a queria mais uma vez, queria roubar o que restava da vitalidade dela, avançou como um cão no cio, trepando depravadamente sopre o corpo da mulher que o obcecava, rasgou a blusa dela e viu os seios fartos e suculentos, passou sua língua por sobre os lábios e arrancou-lhe o sutiã, cravando os dentes nos mamilos rígidos da formosa mulher á sua frente.

- E agora, você vai ser minha. Queimaremos todos no fogo do inferno! – Ela balançava negativamente a cabeça, mas ele ameaçava com sua voz rouca e sarcástica. – Ou será você, ou será ela. – Ele disse aos pés do ouvido de Julia. Essas palavras entraram como uma ventania fria que te surpreende pela janela, seguida de um sopro fúnebre do vento uivante do inverno. Ela balançou positivamente a cabeça e se entregou timidamente a ele, seduzindo-o ainda mais com sua cara de repulsa. E enquanto ele a beijava ela esperava o momento certo para atacar. E foi justamente quando a língua adentrou em sua boca e roçou na dela que seus dentes a prenderam e a sua expressão de timidez foi trocada pela ira e desprezo, os dois mesmos sentimentos que ele sempre receberá da mãe. Tão perto do céu da boca de Julia ele encontrou o inferno, enquanto ela arrancava parte de sua língua. Ela o soltou e cuspiu o pedaço de carne que havia arrancado dele num misto de sangue e saliva. Foi quando ele a atacou insanamente, esmurrando-a e chutando-a pelo chão. Julia olhava ao seu redor tentando achar algo para contra-atacar, mas não havia nada. Enlouquecido a pegou pelo pescoço com suas enormes e fortes mãos e segurou-a no ar a enforcando, manteve-a suspensa por segundos e então lançou-a á frente, contra o espelho que estava preso na parede. As costas dela bateram contra o vidro que quebrou-se caindo ao chão. Ela caiu aturdida e ele ajoelhou-se próximo a ela com os joelhos assentados sobre os mesmos peitos que ele tanto o incendiavam. Ela olhou para ele ainda zonza e Reinaldo sorriu enquanto o fogo tomava todo o lugar. Olhou para seu dedo e viu o objeto que há tanto temo ele usava, olhou nos olhos dela e ergueu sua mão revelando o que havia pegado no chão. Riu maliciosamente e a segurou firme com a mão esquerda enquanto ela gritava desesperada. Julia via como ele brincava com o caco de vidro, o fragmento do espelho era passado de lado na pele dela, seu coração disparado, a ponta do caco se aproximando de seus olhos, ela os fechou por reflexo e assim que a escuridão chegou, ela sentiu o vidro cortar sua pálpebra esquerda e chegar ao seu olho arranhando-o impiedoso e dolorosamente. Ela gritou de dor e logo em seguida ele fez o mesmo com o olho direito, arrancando-o por completo. Julia ficou incontrolável, e enquanto parte de seu corpo estava imóvel ela concentrou toda força em seus braços tentando livrar-se dele, debateu-se tanto que um de seus braços livrou-se e nesse pequeno intervalo de tempo ela começou a esmurrá-lo tentando acertá-lo no rosto. Num golpe de sorte acertou em cheio o nariz de Reinaldo que em reflexo deixou o vidro cair próximo ao pescoço dela. Com a mão livre ela segurou o caco de vidro e desferiu o golpe derradeiro acertando na jugular do homem que caiu sangrando como um porco. As mãos tentando arrancar o vidro que entrou lateralmente, rasgando a pele e sugando a vida deplorável daquele maníaco. Ao levantar-se sentiu o cheiro da gasolina que ele havia jogado sobre sua doce criança antes de incendiar o lugar. Procurava ouvir o choro da menina, os murmúrios chegavam á seu ouvido e ela os seguia, sentiu o fogo tomar seu corpo e resistindo atravessou as chamas e continuou no caminho enquanto a fumaça tomava todo o lugar. Ela ouviu a voz suave mais próxima, e trombou em algo, suas mãos percorreram a armação de madeira e ela reconheceu o berço. Suas mãos encontraram Clara encharcada, ela secou-a com o que restava de sua camisa tentando impedir que o fogo fosse atraído pelo liquido inflamável que tomava o corpo de sua pequena. A abraçou com as duas mãos e fez o caminho de volta enquanto o local era cercado pelas chamas. Ia devagar e tropeçando nos móveis e no fogo que queimava seu corpo, até que ao avistar algo a pequena clara falou pela primeira vez.

- Papai! – A garotinha que acabara de completar um ano de idade disse passando pelo corpo inerte que jazia no chão. Julia pisou sobre o corpo do homem que tanto a fizera sofrer e rumou em direção a porta com a certeza que nunca mais o veria, que nunca mais veria homem algum.

Fim...

Leiam...

1 - Velocidade, sexo e um feliz ano novo

2 - O amigo oculto

3 - Inimigo oculto

4 - O Jogo da Forca

5 - Pena de Morte

A todos um forte abraço e fiquem com Deus...

E é claro tenham um feliz ano novo!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 30/12/2011
Reeditado em 02/01/2012
Código do texto: T3414087
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.