O Casamento dos Meus dois Melhores Amigos
 
 Queria estar de terno hoje para ficar à altura dessa cerimônia, mas não estou em condições de trajar uma roupa do tipo, isso devido a minha atual situação. Olhando para Mauro fico pensando em como vai ser a noite de núpcias dos dois, ri como se fossem os únicos seres cômicos da noite, e então senti o odor de óleo, graxa, e de fios queimados como se em algum canto daquele lugar houvesse tido um curto circuito e então a vi. Lee estava vestida de noiva, um curto vestido vermelho com um corte que deixava seu umbigo á mostra, (ela tinha que estar pagando umbiguinho), ela surgiu á porta do estabelecimento onde a cerimônia estava sendo feita, andava estranhamente, um andar quase enferrujado como de um velho, com um sério problema na coluna. Ela caminhava lentamente, seguindo o ritmo morno da marcha nupcial, que tocava num tom fúnebre, diferente do habitual, em suas mãos um horrível buquê de que Mauro fez questão de fazer da plantação que tinha em sua casa, “um buquê de maconha”, Mauro estava de frente para o padre que tinha uma cabeça medonha de grande e achatada, quase sem pescoço, o que dava a aparência de uma das tartarugas do projeto Itamar; um “homem de pouquíssimo corpo”. O noivo o encarou por um breve momento parecendo conhecê-lo de algum lugar, o religioso bocejou aparentemente sonolento e Mauro sentiu o hálito de Vinho barato e enjoativo vindo da boca do padre. Desviou seu olhar para a porta da igreja e a viu caminhando em sua direção.

- Meu Deus que porqueira é essa! – Balbuciou uma figura estranha, com uma barba estilo Volverine, e uma garrafa de vodka nas mãos. Ele era um dos padrinhos, cheio de pêlos pelo corpo e ossos querendo brotar de sua pele, a montanha de músculos engoliu de uma talada só quase meio litro da bebida, quando sentiu o peso da mão de sua acompanhante, “uma vampira", linda e triunfante, ela olhou para ele e o repreendeu:

- Acalme-se Calixto! Não vai se transformar num lobisomem logo agora né! – Disse Faby. Ele olhou de volta pra ela, rosnou, deu um ganido baixo e aquietou-se ao ver os longos caninos dela a mostra.

Lee olhava com seus olhos acesos para Mauro, seu escâner interno, analisou toda a estrutura óssea a sua frente, 1,97 m, de puro cálcio, uma ossada viva trajando um fraque cinza horrível, que Mauro havia recebido de seu amigo, junto de um bilhete que dizia:

- Maurão, esse é meu presente pra você rapá, faço questão que use essa porra! Do seu chapa do peito, Nem.

O ranger do metal do corpo cibernético da Lee era ouvido por todos. Era um som estridente, mas isso não a incomodava lerda como era, podiam detonar uma bomba e ela continuaria andando em direção aos braços do vascaino que a fazia feliz. Levando Lee ao altar estava sua mãe, uma senhora muito elegante, ops! Nem tanto, a coroa de peitos fartos, piercing, lábios carnudos e corpo todo lipoescultulrado andava num enorme salto e num micro vestido branco avassalador, lançando piscadelas para Calixto que estava sendo vigiado o tempo todo por sua acompanhante sanguinária. Passando segurando uma bandeja na mão, um homem fantasiado de palhaço, com uma risada demoníaca, servia alguns drinks estranhos e em outra bandeja carregava maçãs do amor feitas por Alexandre e Perla, mas Alexandre não pôde ir ao casamento, pois estava em um velório. Mauro caminhou até Lee com sua barba grotesca batendo até a altura de seu peito, como se fosse uma penca de uvas passas, brotando em uma árvore seca. Chegou até ela e emocionado segurou sua mão, notou que o óleo de Lee vazava e achou melhor não comentar, realmente ela precisava de uma troca de óleo urgente, mas isso faria quando estivessem a sós. Sorriu e caminharam juntos até o altar. Fitei Lee e Mauro juntos, eles eram tão horríveis, um esqueleto magro e alto, se casando com uma ciborg desmemoriada, tudo parecia tão horrível e tão lindo ao mesmo tempo, não entendia como, mas o certo era que um completava o outro, e isso se notava fácil, fácil no olhar.
O padre Murillo prosseguiu com a cerimônia enquanto eu via os rostos familiares á nossa volta. Jr, e sua máscara de Dumbleodore, Cássio com uma camisa com os dizeres (As feras que eu amo – Faby Cristal e Julio Dosan), D. Silva e Lucas de. Zan estavam sentados á frente de uma TV jogando o game Deuses da guerra. Logo atrás deles e aparentemente não gostando nada da festa, estava a diabinha Michele Dichel chorando em meio a soluços e sendo consolada por May, uma zumbi siliconada que trajava uma roupa de ballet ridícula. Num outro canto não tão menos esquisito estava um velho com cara de tarado, e duas periguetes. Também tinha um cara gordo, de longe me pareciam ser Risia, Mauricio, Cintia e o gerente da estrada do coco (loja onde a Pernambucana Lee já havia trabalhado), desse não me lembrava o nome, mas pouco importava, o cara era um chato. O discurso do padre foi breve, leu algumas palavras em latim muito mal falado, respingou um pouco de água benta, que na verdade cheirava a cachaça benta sobre a cabeça dos noivos e os casou. Mas Lee como sempre estava esquecendo-se de algo. Todos se olharam e Roberto Codax saiu do meio da capela do cemitério correndo em direção ao carro de Lee. Quebrou o vidro do pára-brisa e uma luz enorme tomou o local, entrando enfeitiçando a todos como se fosse uma fada de luz da tinkerbel.

Carregando as alianças vejo a única coisa que brilha naquele maldito cemitério, era Sol (pra quem não conhece... Sofia), a filha de Perla (também conhecida como Lee Rodrigues). Ela caminhou até eles e uma lágrima caiu de lado enquanto passava próxima sua avó, o vestido branco se incendiou e ela saiu correndo desnuda entrando em um quartinho isolado para se esconder. Mauro pegou a aliança e sorriu com seus dentes podres para a garotinha. Ele então repetiu cada palavra que o padre bêbado dizia e em seguida foi a vez da Lee. Ela fez o mesmo procedimento, Mauro, se tivesse pele e carne estaria suando naquele momento, mas o nervosismo era claro no bater de sua carcaça de ossos. O padre perguntou para ele se aceitaria se casar. Ele direcionou suas órbitas vazias na direção de Lee e a única coisa que lhe passou pela cabeça foi em tomar o buquê das mãos dela. Ela surpreendeu-se, mas ele foi claro.

- Só preciso de um pedaço meu amor! – Ele pegou o que precisava e então devolveu metade para ela, olhou para Sol e riu sem graça, encostou o chumaço enrolado das folhas da erva na cabeça flamejante da menina e acendeu-o levando a boca. Puxou toda a fumaça numa tragada só e o vapor escapou por todo seu vácuo impregnando a sala e provocando uma crise de tosse seguida de uma frenética crise de risos nos convidados. Ele então respondeu:

- Sim! Agora eu aceito! O padre sorriu e os abençoou ou pelo menos assim deveria ser, sentiu uma enorme vontade de beber o danado de seu vinho escondido no confessionário e correu até lá, entrou e deu de cara com aquela que havia conduzido Lee até Mauro, pensou em fugir, mas era tarde demais.

Eu fui o primeiro a querer dar um abraço no casal e gritei para que viessem até mim, afinal eu os apresentei, Mauro e Lee se aproximaram. Na minha mente um tantinho doida, eu jamais imaginei uma ciborgue apaixonada por um esqueleto comedor de ovos cozidos, mas ao pé do ouvido o Mauro me confessou que não resistiu a baixinha, trocou o chip dela e a reprogramou para amá-lo; mas o que ele ainda não sabia era que certo dia, a bateria da Lee arriou e ele pediu que eu a ligasse na tomada, não me explicou que ela não era bi volti sem saber eu pluguei a tomada na voltagem errada, ela era 110, eu liguei em 220, o HD queimou, o chip tostou mas por sorte ela voltou a funcionar, ele a achou meio esquecida, mas era essa a natureza dela mesmo. Lee hoje o amava, simplesmente porque amava, não porque havia sido induzida a isso. Eu estava sobre uma lápide assistindo a tudo, chorei quando o homem das cavernas afastou do rosto os cabelos longos dela e a beijou, parecia em câmera lenta, ele a tratava com tamanha delicadeza,duas figuras bizarras que se fundiam uma na outra. Apenas uma cabeça, era o que eu havia me tornado, meu corpo havia sido esquartejado por um fã que se revelou um maníaco. E agora estávamos todos nós ali, mortos, ele caçou cada um de nós, nos matou, explodiu a loja de Lee matando todos que estavam lá dentro. Alexandre e os garotos que a Lee cuidava estavam agora no velório dela, de seus amigos e família. Aquele era o ultimo presente que teríamos antes de irmos de encontro ao nosso destino. Caminhar pelo vale das sombras eternamente. Lee se despediu de Sol que trilhara outro caminho, ainda com a esperança de reencontrá-la. Mas cá estamos nós, melhor juntos que separados.

Ao som de HERE TODAY, GONE TOMORROW- Ramones a música que Mauro ofereceu a Lee no primeiro encontro.

Essa é uma homenagem aos meus dois melhores amigos do recanto, Perla e Mauro Alves.

Amo vocês criaturas
!
 
Sidney Muniz, Mauro Alves e Lee Rodrigues
Enviado por Sidney Muniz em 09/01/2012
Reeditado em 13/01/2012
Código do texto: T3430985
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