Possuída

Passo os dias aqui nessa escuridão e ouvindo gritos, lamentos e gemidos de dor e angústia sem fim. Perdi a noção do tempo e nem sei mais quando morri ou como foi minha morte. Só sei que em algum ponto de minha vida, eu abri meu corpo e demônios se apossaram dele.

Entravam e saíam quando queria e faziam as maiores atrocidades. Em função disso, às vezes me questiono se mereço estar aqui nesse inferno, literalmente falando.

Enquanto eu estava na terra habitando meu corpo mortal, passei meus dias envolvida em muitas desgraças, mas depois de minha morte e meu sofrimento descobri o porque de tudo.

Relatarei apenas alguns episódios para que você entenda um pouco do que quero dizer, apesar de que nada mais adianta eu tentar explicar.

Mas vamos lá.

Na adoleslencia sempre tive muitos problemas, ouvia vozes, vultos me acompanhavam, tinha medo das pessoas, parecia que todas me perseguiam.

Aos 22 anos tive lapso e não me lembro do que houve, apenas que quando voltei a mim, estava em minha sala e para meu espanto, havia ali 3 homens que eu não conhecia.

Estavam... como posso dizer, mortos? Estavam mortos e estraçalhados, desfigurados.

A sala estava toda ensanguentada. Eu estava ensanguentada. Não me lembrava de nada.

Tentei gritar mas o som não saiu. Vultos corriam pela sala e um cheiro horrível tomava conta do ambiente.

Fiquei ali anestesiada e imóvel, como se estivesse fora do corpo. Me pareceu ver a mim mesma flutuando pelo comodo.

Quando voltei à realidade, liguei para a polícia a cena onde me encontrava, mesmo sabendo que a suspeita principal recairia sobre mim.

Minha cabeça doia muito. Fiquei ali sentada até os policiais chegarem e após todos os procedimentos me encaminahrem à delegacia.

De repente comecei a ver os vultos ao redor da viatura em movimentos. Eles riam.

Perdi os sentidos. E numa cena louca, estava como se voando sobre a viatura, e vi quando "eu" que estava ainda no banco traseiro da viatura, tirou um objeto cortante e cravou no pescoço do policial que estava ao volante. Mas não era exatamente eu.

Ele perdeu o controle do veículo fazendo com que capotasse várias vezes.

E por incrível que pareça tive forças e controle para assassinar também o parceiro dele.

De repente senti meu corpo descendo rapidamente e entrando novamente em meu corpo desacordado mas sem ferimentos.

Fui julgada culpada e passei o resto de meus dias em um manicômio judicial.

Os vultos me acompanharam e me levaram a cometer muitas atrocidades no periodo que permaneci internada.

Até que numa noite muito fria, cansada de ser objeto para demônios que me usaram a vida toda, tirei minha própria vida.

Só fui encontrada na manhã seguinte.

Sei que os demônios se apossaram de outros corpos e continuaram a fazer maldades.

Por isso estou aqui. É escuro demais, é frio, fétido. Não tem como sair daqui.

Ouço gritos o tempo todo. Vejo as cenas horrendas pelas quais passei na vida.

Vivo com os demônios esperando minha vez de possuir outros corpos também.

Assim é o inferno.

Assim é.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 25/01/2012
Código do texto: T3461258
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