Território de Caça.

Prólogo

Nunca tive medo dos monstros, das estórias contadas por meus pais fanáticos por sua religião, tão alheios ao mundo ao seu redor acreditavam que o demônio estava por trás de todas as coisas ruins ou divertidas.

Na verdade fiz um enorme esforço para ser a garotinha ideal. Havia muita pressão sob mim, eles esperavam que eu fosse uma santa, servindo aos desígnios religiosos, vivendo em mundinho tão falso quanto os sentimentos que nutriam um pelo outro, mas o que eles não podiam imaginar é que adotaram um produto defeituoso como filha.

Quando anos atrás adentrei o véu das sombras, deixei para trás uma vida medíocre, para renascer em uma nova existência, perdoei o que meus pais tentaram fazer comigo, até porque pagaram um alto preço por suas ações. Afinal tudo na vida tem um preço e o meu é ser muito mais fera do que mulher!

Capitulo 1-Despertar da Loba!

Lembro-me do triste entardecer gélido, das nuvens no céu de inverno, de ficar deitada sob a neve sentindo o frio penetrar cada camada dos trapos que horas atrás eram roupas, da estranha sensação de abandono e ao mesmo tempo de prazer em quanto eles se aproximavam de mim, em segundos estaria cercada por lobos. Não reagir, nem ao menos gritei, desejava intensamente que me devorassem até não sobrar nada, mas a reação deles foi contaria ao que esperava. Iniciaram uma sinfonia de uivos que passavam uma espécie de mensagem que não conseguia decifrar. Começaram a me lamber, senti seu hálito quente uma mistura de carne fresca e sangue, me mordendo delicadamente, atormentando meu corpo ferido, o pressionando seus corpos aconchegantes transmitindo seu calor, sentia que seus olhos que variavam do castanho ou verde intenso tentavam desesperadamente enviar-me uma mensagem Quase podia ouvi-los dizer “Você não pode morrer”. Gelo brilhava em seus pelos macios e seu ganido baixo era quase um sussurro preocupado eles não me devorariam eles me queriam viva podia sentir isso em meu intimo.

O cheiro almiscarado que exalavam não parecia algo comum aos lobos, ouve instantes que podia sentir o perfume suave de flores de verão no ar frio, pensei que estava delirando, mas meus sentidos captavam notas suaves no ar uma mistura folhas secas no outono, flores silvestres que surgem na primavera criando ao meu redor uma sensação agradável.

Foi quando um uivo intenso surgiu me trazendo à realidade, um lobo mítico surgia em meio à floresta, correndo graciosamente sua pelugem negra o destacava belamente na paisagem branca ao seu redor, ele enfiou o focinho em minha mão e contra minha bochecha, com uma intimidade que me surpreendeu lançando uma sombra contra meu rosto pálido.

Seus olhos dourados pareciam duas gotas de puro ouro em sua face negra, olharam nos meus e podia ver a sombra do desejo em seu olhar selvagem, enquanto os outros lobos afastaram uivando mais uma vez o vento parou por segundos, o mundo parecia retroceder ou talvez estivesse perdida em um mundo oculto aos olhos mortais. Eles mudavam de pele, crescendo rapidamente, podia ouvir seus ossos esticarem os ganidos mudarem para sons humanos. Eu olhei para aqueles olhos o máximo de tempo que consegui. Tão dourados, tão selvagens e desejosos que senti meu corpo tremer violentamente. Pareciam dizer “Ame-me”. Não queria que ele desviasse o olhar, e ele não o fez por mais alguns instantes. Queria me esticar e pegar seu pelo, acaricia-lo suavemente, sentir seu cheiro marcando minha pele, era loucura, mas aquele Lobo excitava-me aos dezessete anos nunca havia me apaixonado, mas agora diante dele sentia meu coração disparar. Então ele mudou diante de meus olhos, sentia a realidade distorcer-se diante de mim havia outros, onde estavam os lobos? Fiquei zonza, senti que me seguravam nos braços, a sensação de ter minha cabeça encostada a um peito quente foi enlouquecedora tanto quanto senti o cheiro de almíscar e menta invadir minhas narinas o filete de sangue escorreu suavemente pelo canto de minha boca carnuda, gemi baixo, sentindo a respiração quente ao meu redor, podia ver borrões diante de mim, vozes estranhas másculas demais, dominantes que transbordavam afeto em quanto senti uma mão pesada toca minha cabeça. Calor, medo, conforto, desejo e excitação invadiram-me o corpo após esse toque, mas desta vez adormecia contra minha vontade. Algo parecia se agitar no meu peito. Eu estava morrendo só podia ser isso.

Mas descobri que antes eu já estava morta para o mundo, sempre estive mas não e dava conta. Que estava perdida em um mar de frio, e então renasci em um mundo de calor, em meio a uma floresta selvagem, sentindo a furia do mar se chocando com os rochedos. Eu podia me lembrar agora da promessa feita em uma outra época , me lembrei do bando de suas vozes, da chuva de prata e da Loucura da Lua que nos atingiu e o mais improtante lembrei daqueles olhos Dourados e da voz rouca dele dizendo: “ Sempre espreitei você em seus sonhos e dessa vez vou segura-la entre meus braços com toda a força que puder Roxane!”

Bêlit
Enviado por Bêlit em 14/02/2012
Código do texto: T3498966
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