Tocandira, a Vingança do Homem Formiga
Jorge Linhaça
 
"As formigas agora deslizavam pelo solo em direção à minha cabeça imobilizada, tentei soprá-las para longe com o restante de minhas parcas forças em meu estado de semiconsciência letárgica.
Tomaram meu rosto qual um exército mongol a cair sobre suas vítimas, invadiram minhas narinas e ouvidos, picaram meus olhos, meu couro cabeludo... até que enfim a suave mão da morte tocou-me a face disforme e carregou minha alma para fora do corpo martirizado.
Foi assim que eu morri, que deixei aquele corpo material disposto a executar minha vingança...."
( O poço das Tocandiras- Jorge Linhaça)
 
Minha alma clamava por vingança contra os meus algozes, o suplício que havia suportado fôra por demais atroz para que minha essência encontrasse repouso.
 
Por meses meu espectro vagou entre as formigas que haviam consumido minha carne e, meu desejo de desforra era tamanho que o próprio demônio compadeceu-se de mim, se é que o demônio se compadece de alguém, de forma que utilizando seus sortilégios fundiu-me aos insetos outrora meus algozes inocentes de maneira tal que dessa mistura entre homem e tocandira, ressurgi como uma gigantesca formiga humanizada, ou quase isso, o fato é que além de minha semelhança com as tocandiras, de ter a força proporcional das mesmas e a capacidade de inocular veneno em minhas vítimas , também passei a ter controle mental sobre as suas colônias espalhadas pela floresta.
 
Restava agora localizar aqueles que haviam me supliciado de maneira cruel sem que nenhum crime houvesse eu cometido.
Meu único pecado havia sido, por acaso, dar no seu acampamento de caçadores ilegais.
Tão logo me viram e iniciou-se o meu martírio como já relatei anteriormente.
 
Como todos sabem esses caçadores ilegais mudam constantemente de local de acampamento para evitarem ser encontrados pelos poucos policiais florestais.
 
Lembrava-me de cada rosto, de cada traço dos meus carrascos e assim sendo coloquei minhas agora amiguinhas para serem meus olhos na floresta a fim de encontrar o refúgio dos malfeitores.
 
Passaram-se semanas até que encontrasse o rastro do primeiro deles, refugiado em um pequeno vilarejo de ribeirinhos, já era o suficiente para que minha vingança fosse preparada e eu pudesse saborear o prato que se come frio.
 
Continua...
 
Salvador, 3 de março de 2012