O PARAQUEDISTA

O ronco surdo do avião, a 15 metros de Agustín quase passou despercebido, pois ele fixava o olhar no azul do céu magistral daquela tarde, a imensidão do vale e as flores que faziam fronteira ao campo de pouso, ele parecia estar narcotizado, em êxtase...

Uns dois toques em seu ombro de uma mão amiga lhe avisaram do momento exato do limiar da jornada rumo ao infinito azulado primeiro, e depois de volta àquele paraíso em que estava... 2.000...3.000... 6.000 pés, o pequeno avião negro e alaranjado, flutuava na imensidão quando o primeiro, o segundo e o terceiro paraquedistas saltaram no vazio e desapareceram da visão de Agustín...

O suor gelado por trás do capacete, a confusão mental e a rápida síncope foram o detalhe do atraso no salto de Agustín.

Suas mãos geladas, a boca seca, e o rosto extremamente quente contrastavam com o frio congelante do vento exterior e com as insistentes palavras do piloto que aos gritos ordenava para que ele saltasse...

Nos olhos avermelhados, e fixos do paraquedista em direção às nuvens lá fora, o piloto via medo, via que no segundo definitivo para o ser humano desligar-se de tudo e saltar, Agustín estava estranhamente diferente, suas mãos não estavam postas onde deveriam suas pernas não estavam direcionadas paralelas para a porta do avião...

Lentamente ele virou primeiro a cabeça para o piloto, depois seu corpo e esgueirando-se contra a força do vento, deu um... Dois passos em direção a cabine sem porta, e pouco antes de esticar os braços de um e outro lado da porta para sustentar-se o jovem piloto olhou fixamente e através do visor do capacete de Agustín, teve toda a certeza do que queria o paraquedista...

O piloto sentiu um frio lhe percorrer a espinha, e nos segundo que se seguiram, teve a astúcia de soltar o cinto sem ser notado pelo agressor, abaixou-se levemente e tirou de uma baínha na perna da calça uma pequena faca, segurou-a, escondida enquanto mantinha a outra mão no manche...

Mais dois passos e Agustín estava a seu lado, furioso, drogado e pronto para exterminar o inimigo, segundo sua ótica... O piloto levantou-se lentamente e quando já estava de pé, sentiu uma, duas, três estocadas do mesmo tipo de faca, na mão de Agustín... Ainda conseguiu dar uma estocada com a sua, mas sentiu que a lâmina entrou no paraquedas sem atingir Agustín...

O maníaco sorria e gritava de prazer no solitário céu, enquanto o jovem piloto morria no chão da cabine...

Assim como estava, voltou de costas até a porta, enquanto o avião perdia a estabilidade, correu e saltou no vazio, assistindo das alturas a queda do aparelho em parafuso...

6.000...4.000....3.000 pés... Lentamente a mão de Agustín, procurou o acionador do paraquedas, o encontrou, sentiu um leve tranco apenas e em 20 segundos seu corpo implodido acomodava-se ao lado das flores no campo de pouso, envolto numa poça de sangue... A faca do piloto cortou metade das cordas que sustentavam o paraquedas...

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 21/03/2012
Código do texto: T3567507
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