“O Solar Maldito”.

Hoje, estou internado neste asilo como indigente.
Já tive nesta semana, três paradas cardíacas, e ainda é terça feira.
Todos falam, você deve se acalmar, pois são coisas da idade.
Na vida tudo tem um começo, um meio e um fim.
Sim, mas eu aparento oitenta anos, e tenho vinte e seis.
Quis provar para todos chamando minha mãe, mas ela não me reconheceu e disse que provavelmente, havia matado seu filho, ou sequestrado, depois viria o pedido de resgate.
Só que ela não pagaria.
Principalmente que um jovem investigador estava ao lado dela, aconselhando.
Parecia muito feliz com a intervenção dele.
Realmente minha mãe, não aparenta a idade que tem.
É uma mulher muito conservada.
E com o investigador, parecia uma mulher de trinta e se comportava como tal.
Bem quando chega a noite começa meu martírio.
Primeiro uma fumaça branca, como uma nuvem desce sobre meu quarto.
Meus colegas dormem a sono solto, nem se mexem.
Por mais que eu grite, ninguém me ouve.
Bichos de todo tamanho, metade homem me furam com agulhas, cospem em mim.
Esfregam imundices na minha cara e ninguém vê.
Este mundo de horror vai até chegar à maldita velha.
Deve ter mais de noventa anos, quer me beijar e tem uma baba que escorre por sua boca sem dentes.
Eu vomito, ela nem liga,e me elogia.
Só vão embora quando o dia vai amanhecendo.
Aí, os malditos dos colegas começam a gemer e pedir água, remédio, querer ir ao banheiro, simplesmente o inferno muda de jeito, mas continua até a noite seguinte.
No meu desespero a pressão aumenta e só esta semana quase que passo para a melhor três vezes.
Como tudo começou.
Bem eu sou um jovem de vinte e seis anos.
Por ser filho único, gozei de todas as regalias possíveis e imagináveis.
Minha mãe era professora, meu pai coronel do exército.
Ele era muito velho para ela, logo após meu nascimento, morreu.
Ficou uma jovem viúva, eu um menino mimado.
Não sei como consegui terminar a faculdade, pois sempre detestei estudar.
Você será um advogado famoso, ganhará muito dinheiro.
Dinheiro, não precisávamos, pois meu pai além de bom salário, que deixou para mamãe.
Fazia alguma maracutáia, que não sei qual era, tinha muita grana guardada, investida em várias coisas.
Rendiam ótimo capital, que mamãe administrava como poucos.
Bem eu tinha carro moderno, muitas namoradas, e usava alguma droga só para variar e tomava bebidas alcoólicas, essas em demasia.
Não voltava para casa, enquanto o sol não aparecia.
Minha mãe já não falava mais, tinha cansado de aconselhar.
Nesta madrugada, voltava para casa e estava totalmente ébrio.
Parei em uma praça para esperar a vista melhorar, pois estava passível de um acidente.
Causou espécie o casarão novo ao meu lado.
Normalmente aquela casa, pelo menos que eu me lembrava, era abandonada, até diziam ser assombrada.
Mas prova que haviam reformado e ficou muito bonita.
Recostada em um pequeno muro, estava à mulher mais bonita que havia visto ultimamente.
E olha que eu via mulheres.
Mocinhas da alta sociedade, mocinhas da sociedade emergente, mocinhas pobres.
Todas caiam na minha lábia.
À bem da verdade, eu era um destruidor de corações.
Também de amanhã não queria mais saber, partia para outra conquista.
Esta moça, embora vestida à moda antiga, provavelmente teria vindo de um baile à fantasia.
Mas me encostei e com um charme especial dei a cantada mais velha do mundo.
-A princesa perdeu a abóbora para voltar ao castelo?
Ela deu um sorriso, que meu coração se prendeu na hora.
Fiquei atado com correntes, que parecia aquelas de segurar navios.
-Posso saber seu nome?
-Não acha que é muito cedo, acabamos de nos conhecer?
-O tempo não é nada, as moscas se conhecem e tem famílias enormes em apenas seis horas.
-Então vamos pelo menos aguardar as seis horas que acha?
E fomos entabulando assunto sobre assunto, de tempo, de festas, de igreja, de missa e eu caindo cada vez mais.
Peguei em sua mão, era úmida e fria.
Pensei está nervosa,.. então está no papo.
-Podemos ir a algum lugar estou terrivelmente apaixonado.
Ela deu um sorriso de trinta e dois maravilhosos dentes.
-Se você quiser entrar, meus pais não estão, mas exijo respeito.
-Lógico, com todo respeito do mundo e pulei o pequeno muro, já agarrando pela cintura.
Ela se esquivava, mas daquele jeito, não vem que eu topo, sabe?
E fui avançando até que entramos, para dentro de sua casa.
Ela me agarrou e me deu um chupão nos lábios que quase que arranca um pedaço, antes que eu me recuperasse, puxou meus cabelos e me mordeu o pescoço com vontade.
Comecei a ficar preocupado, afinal quem está atacando quem?

Praticamente me arrastou para um quarto medieval, ou muito antigo, aqueles que têm camas com mosquiteiro.
Pensei nossa, é hoje.
Mas minha alegria breve se revelou em terror.
A jovenzinha foi se transformando, na velha mais feia que se pode ter conhecimento.
Ela não parava e me possuiu, sim ela me possuiu, como as patroas antigamente faziam com os escravos.
Fui possuído por uma velha de cem anos ou mais, sei lá.
Suas carnes estavam desmanchando.
Seus cabelos saiam de sua cabeça como algodão desprendendo ao vento.
Eu não desmaiava e assisti tudo até o fim.
Quando terminou o terrível ritual, sim aquilo só poderia ser um ritual e satânico.
Acordei, estava na praça ao lado do meu carro e não conseguia nem dirigir.
Alguns policiais me carregaram e trouxeram para cá.
Minha mãe não voltou mais, deve estar namorando o policial por aí.
De repente, ouço uma conversa animada de um jovem médico.
Aproxima-se de minha cama e fala:
-Não adiantou querer nos enganar, sua neta está aqui e vai levá-lo para casa.
Quando a vi, já estava velha só que para eles parecia jovem ainda, acompanhada por diabos de todos os tamanhos acho que trouxeram todo o diabeiro existente no inferno.
Mesmo gritando, pedindo socorro, via as enfermeiras e os médicos me acenando e desejando boa sorte.
O carro escuro que parecia um carro de defunto, nos conduziu de novo para o Solar Maldito.
Foram minhas últimas horas de vida, em que fui devorado, vilipendiado e sodomizado barbaramente.
Paguei por todos os pecados que cometi em vida, mesmo antes de morrer.
Oripê Machado
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 02/05/2012
Reeditado em 03/05/2012
Código do texto: T3646258
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