Galeria de Arte

O artista, adentra seu mundo de criação. Sua galeria secreta, onde só ele se faz de expectador. Com corredores subterrâneos bem iluminados, bem distante da circulação acima de pedestres, diversos patamares os separam em uma espécie de labirinto. Pode transitar tranquilamente, nem a luminosidade e sons debaixo afetam os de cima e nem os que transitam sobre conseguem se fazer ouvir neste pequeno inferno. Paredes escuras dão ares de masmorra, com infiltrações que exalam cheiro de mofo. Uma bela rede de esgoto, salvo a parte onde a exposição se encontra, onde tudo é muito bem limpo e organizado.

A primeira obra de arte, temos uma jovem nua, presa em uma cama com aparatos ginecológicos. Ela ainda chora, embora esteja quase seca de lágrimas. As pernas assustadoramente abertas, expõe sua vulva volumosa, que foi dilacerada e pende porções dos grandes lábios, misturados ao sangue coagulado, parece um hibisco, com o clitóris protuberante saltando. O resto do corpo é coberto, para que a visão se concentre nas genitálias, ocultando a face chorosa da vítima indefesa. O artista carrasco caminha e contempla sua criação com um sorriso monstruoso nos lábios.

No segundo setor, um cavalheiro de corpo bem definido, preso a uma cadeira de ferro, com um objeto pontiagudo adentrando-lhe o ânus. O instrumento de aço, rodeado por sensíveis lâminas, fazem-no sangrar no mais delicado movimento. A posição é desconfortável, provocando a todo instante algum gesto, causando cortes constantemente, o que a poça vermelha abaixo deixa evidente. A região trabalhada é a anal, portanto. Acima dos glúteos, oculta-se o corpanzil. Embora cada escultura tenha dupla face, uma em que mostra uma parte do corpo agredido, formando algo abstrato, enquanto a divisória com outro cenário próximo a face revela o rosto da dor.

Na próxima obra, tem uma jovenzinha com roupa de boneca, as meias brancas já manchadas de sangue. Um trabalho com interação do expectador. Uma espécie de descascador ao lado, para descarnar a criatura presa em amarras que deixam seu corpo nu formando um “x”. Apenas é possível retirar finas porções. Até o momento, tivera partes das nádegas, panturrilhas, coxas, seios, ombros, costas e bochechas afetadas. Nessa próxima visita retira o lábio inferior. Nesse trabalho dispensou divisórias, deixando corpo e face agredidos, uma mistura entre os contrastes iniciais.

Procurando sofisticar a técnica, elaborou uma arte com dois corpos. Um casal que apreendera em sua busca por modelos. A mulher com os lábios costurados ao pênis do marido, com o órgão em boa porção dentro da cavidade bucal, o que dificulta a respiração da que o absorve e facilita um reflexo de cerrar os dentes e castrar o parceiro. Na boca do homem encontra-se um dispositivo que lhe transmite estímulos elétricos, que causam choque em sua língua. Tal aparelho está conectado em uma lâmina em forma de tesoura, onde as pontas encontram-se dentro de sua esposa, uma em sua vagina e outra em seu ânus. Ao tentar expulsar o objeto, ele emite estímulos que fazem a tesoura se fechar com intuito de cortar-lhe o prepúcio e unir os órgãos em um único vão.

Para o deleite do artista, aumenta os estímulos ao casal. Observando a mulher sendo rasgada, que com a dor acaba castrando o sujeito, engasgando com o pênis arrancado e o sangue, produzindo tosse e expelindo uma tentativa de vômito, que somado ao que já obstruía, acabou falecendo sufocada. O homem chora mais de piedade do que pela dor de sua castração, olhando para o ventre protuberante da esposa grávida. Enquanto chora, os choques ficam ainda mais intensos, mas a máquina é desligada, pois essa obra pede que uma das partes mantenha-se viva. Para se tornar mais dramático, utiliza um bisturi para abrir o ventre e deixar o feto cair ao solo, ligado pelo cordão umbilical.

Mais adiante, um homem suspenso por um gancho de matadouro, fora suspenso na região genital, tendo o órgão praticamente arrancado. A ponta do gancho saindo um pouco abaixo do ventre. Outros ganchos o sustentavam, presos em suas costas. Mais uma vez o corpo separado por uma divisória, só a cabeça de fora na parte superior, precisando subir uma escada para contemplar a outra face da obra. Ainda na mesma seção, uma jaula, onde um prisioneira precisa se mutilar a todo instante e jogar pequenas porções de si a cães famintos abaixo. Cada vez que não se mutila, a jaula abaixa em direção aos cães. Existe uma espécie de balança onde se coloca a carne, se ela não for ativada com o peso, faz a estrutura se movimentar, aumentando a euforia dos animais vorazes.

Por fim, duas jovens sequestradas ainda bebês, que cresceram alimentadas com carne humana. Sempre se banqueteando com sobras as esculturas ou mesmo trabalhos que não servem mais para a exposição, devido ao grau de deterioração dos modelos. Também desde cedo aprenderam sobre o sexo com o seu mestre, acostumadas a utilizarem coleiras e viverem trancafiadas nesse ambiente grotesco. Já foram utilizadas em experiências, como devorar alguém intacto, roendo até os ossos da vítima, sendo gravadas e fotografadas em ação, compondo posteriormente um mural de fotos minuciosamente selecionadas. O artista vive em dois mundos, aqui é soberano, será sempre um César e por isso alimenta seu império bizarro.