Versões de um crime-Final

Herdei de minha avó paterna a capacidade de ver e falar com os mortos. Confesso que nunca gostei dessa herança, mas nesse caso ela me foi útil. Desconfiava que Marcos tinha matado a esposa. Ele mesmo disse que iria mata-la. O casamento deles foi um engano, só havia amor da parte dela. Eu era amante dele desde o ensino médio e apesar de saber das suas aventuras amorosas, fiquei magoada quando ele decidiu se casar com Angélica. Continuamos nosso caso mesmo depois que Marcos se casou e eu esperava pacientemente que eles se separassem, para enfim me tornar sua esposa. Quando ele me procurou dizendo que estava infeliz, dei conselhos para que se divorciasse, mas Marcos estava cheio de ódio. Disse que Angélica estragara sua vida e que queria vê-la morta. Disse ainda que me amava que eu era a mulher ideal para ele. Por fim pediu que o ajudasse a assassiná-la. Horrorizada me neguei e o fiz jurar que esqueceria essa ideia diabólica. Ele então jurou e disse que era brincadeira, mas dias depois sua esposa foi encontrada morta e não vi nenhum sofrimento por parte dele.

Fui ao enterro com a intenção de encontrar o espirito de Angélica, precisava saber a maneira como ela fora morta. No fundo eu tinha esperança que Marcos não tivesse nada haver com seu falecimento. Eu o amava e ainda sonhava em viver com ele. Vi Angélica na companhia de uma amiga desencarnada. Parecia muito triste enquanto acompanhava seu enterro, estava esperando o momento certo para falar com ela, quando vi Marcos chegando de mãos dadas com Camille. Ela fora transferida a pouco para a faculdade onde estudávamos, e pelo jeito caira nas graças do homem que eu amava. Fingi tranquilidade e até cheguei a cumprimentá-los, mas quando todos deixaram o cemitério fui ao encontro da falecida e soube da forma cruel como morrera. Angélica queria a mesma coisa que eu, vingança. Fizemos então um pacto para acabar com o traidor e com a sua amante recente.Com ele era mais fácil, sua consciência pesada ajudava. Angélica tocava a campainha, aparecia em alguns lugares e deixava Marcos apavorado. Camille por não saber que o amante havia matado a esposa, era imune a essas aparições, não via nada. Comecei então a frequentar a casa e levava a morta a tiracolo. Angélica adorava o antigo quarto e durante o tempo em que eu passava me fingindo de amiga, ela ficava lá esparramada na cama esquecida até da vingança. Algumas vezes eu tentei contar a Camille sobre o assassinato, mas bastava tocar no nome da falecida para ela mudar de assunto. Chegou mesmo a dizer que não queria saber nada da esposa de Marcos, que essa já morrera tarde. Uma tarde enquanto esperávamos pelo retorno de Marcos, Camille pegou um álbum de fotografia que estava em um móvel e começou a rasgar as fotos de Angélica. Sabendo que a defunta estava no quarto, fui até lá e contei oque à outra estava fazendo. Cheia de ódio à morta avançou em Camille e começou a lhe apertar o pescoço. Nesse momento Marcos entrou na casa e viu sua amante sendo estrangulada pelo fantasma da esposa. Apavorado ele gritou, correu e se fechou no banheiro.Rápida tranquei a porta por fora e quando verifei que Camille estava roxa e tinha a língua quase toda para fora, disse a Angélica que agora eu cuidaria de Marcos.Era a minha vez. Ela abandonou o cadáver da mulher e talvez por ainda amar o marido percebeu que não seria capaz de continuar com a vingança e foi embora depois de me olhar demoradamente.Encontrei meu grande amor tremendo de medo e com os olhos arregalados.Em sua fisionomia ainda estavam os traços do terror sentido.Eu o confortei e em seguida liguei para seus pais.Marcos foi acusado e preso pelo assassinato de Camille e sempre vou ao presidio visitá-lo.Ele não é mais o mesmo de antes.Envelheceu precocemente e quase não reconhece as pessoas.Continuo firme ao seu lado,pois o amor que sinto está acima do bem e do mal, vai além da aparência e ultrapassa os limites da realidade. Fim 27/05/2012

vânia lopes
Enviado por vânia lopes em 27/05/2012
Reeditado em 27/05/2012
Código do texto: T3690937
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