Nuances do Terror

A noite fria, a total solidão da casa e um vento que entrava por alguma fresta, ou talvez por um encontro de dimensões sombrias, pois parecia mais gélido que todos que já sentira. Angustiada foi para o computador, colocou os fones e tentou ignorar o clima pesado de sua casa vazia. Sua cabeça pesada, não sabia se era sinal de adoecimento ou qualquer outra coisa, mas se sentia cada vez mais sugada. Teve a nítida sensação de ser observada, e ao direcionar seus olhos ao corredor viu um vulto grande se ocultando nas sombras, ela então sentiu todos os pêlos do corpo se arrepiarem e se levantou sobressaltada. Seria um ladrão? Foi caminhando sem fazer barulho, e acendeu a luz do corredor: nada. Quartos, cozinha, tudo em perfeita paz, janelas trancadas e agora um aperto no peito dizia que aquilo que vira não era humano ou vivo.

Voltou para o computador, agora com tudo aceso, e com a alma inquieta, sua curiosidade a fez averiguar pelo Google o que poderia ser aquele vulto. De fantasma a demônio, delírio a alucinação, se viu diante de possibilidades que não a agradavam. Se a sanidade alterada ou a espiritualidade aflorada nada lhe agradava, estava sozinha e sem ter a quem pedir ajuda.

Ficou quieta pensativa, começou a ver uns clipes e se distraiu, quando foi surpreendida com um estrondo inominável vindo do quarto, parecia que o guarda-roupa tinha caído, de tão alto o som. Correu até lá e viu tudo na mais perfeita ordem! Mas um arrepio e um tremor tomaram conta de seu corpo, sentia uma presença, maligna e pesada, como se estivesse a centímetros de si, o coração disparado. A luz começou a piscar, saiu correndo para a sala, perto do computador, mas todas as luzes da casa piscavam, cada uma em um ritmo, o grito estava preso à garganta, pretendia sair de casa, mas a chave antes na porta não estava mais, atônita ficou grudada à parede do lado da porta, suando frio, tremendo e tensa.

Quando todas as luzes simplesmente se apagaram, as lagrimas inundaram o rosto, e uma sensação de sufocamento, que se intensificava , como se o ar se tornasse irrespirável, seus olhos nada viam, suas mãos pareciam congeladas, e não restava nada. Quando o chão faltou desmaiou, batendo a cabeça em um móvel.

Luana e Pedro chegaram em casa pela manhã, antes do previsto pois tinha conseguido resolver as questões de trabalho mais depressa, e já estavam preocupados com Marcela que tinha ficado sozinha, ela não era nenhuma menina, tinha seus 18 anos mas coisa de pais corujas.

Entrando em casa, sentiram um cheiro de gás e viram sua pequena no chão, um corte aberto na cabeça totalmente desfalecida, cuidadosamente a pegaram nos braços e levaram ao hospital mais próximo, após a desintoxicação e tratar a pancada na cabeça, ao voltar a consciência Marcela mostrava sinais de uma fobia extrema ao escuro, dizia coisa atropeladamente sobre aquela noite, os pais acreditavam ser um delírio causado pela batida na cabeça.

Foram para casa aquela noite, uma amiga da família ficara com Marcela no Hospital, os pais exaustos deitaram na cama, em um silencio preocupado sentiam o peso de ver sua pequena tão atormentada. Quando a luz do quarto começou a piscar se irritaram, ficar sem luz não era uma boa. Pedro sentiu uma presença e foi dar uma volta pela casa para ver se estava tudo certo, com a lanterna por garantia da luz faltar totalmente foi em todos os cômodos e nada. Luana, que permaneceu no quarto mexia no celular quando este começou a tocar com o numero 0000-0000 atendeu. Mudo. Ficou irritadíssima. Tocou novamente, a mesma coisa. Colocou no silencioso e se negou a atender.

A luz não piscava mais, então foi ao espelho tirar os brincos e o resto da maquiagem, um leve embaçamento do vapor do banho recém tomado deixava seu rosto um pouco turvo, viu um sombra atrás de si:

-Pedro ligue para Julia, e veja se está tudo bem com Marcela.

O vulto sumiu, supôs que Pedro tivesse ido. Então ele entrou ruidosamente no banheiro.

-Linda, ouvi um barulho na cozinha e não era nada, será que tem ratos aqui?

-Talvez... Ligou para Julia?

-Ah quer que eu ligue? Ligo sim meu bem.

Ficou olhando para ele incomodada.

-O que foi?

-Há alguns minutos vi um vulto pelo espelho, e disse para ligar para Julia ai o vulto saiu, logo você chegou...

Sentiu um arrepio, o telefone no quarto caiu no chão, foi até lá correndo, caiu por estar tocando e no vibracall. Atendeu:

-Julia?

Silencio.

-Alô Julia, está me ouvindo?

-Ela é minha!

Uma voz forte, estranha disse alto. E um aperto na garanta de Luana a fez lembrar tudo o que Marcela tinha contado sobre aquela noite. A ligação caiu e foi tomada de um pavor inominável. Pedro que estava a seu lado, ficou espantado com sua palidez, a envolveu pois supôs até que desmaiaria. Contando o ocorrido, foram para o hospital, Pedro mesmo cético achava tudo muito estranho. Chegando ao hospital, no corredor onde Marcela estava uma movimentação estranha, médicos entrando e saindo, macas, desfibrilador* e era no quarto de Marcela!

Luana, em sua fé há tanto tempo não praticada ajoelhou e chorou implorando a Deus que estivesse com sua filha e que não deixasse que nada ruim a tomasse dela. Sentindo um aperto no coração, com se suas forças fossem arrancadas desmaiou. Acordou em um mundo de bruma e nevoa ao lado de Marcele, que era estrangulada por um homem alto forte, e neste golpe, parecia mais que apenas apertar seu pescoço, mas sugar sua energia vital. Foi até ele, mas não conseguia se aproximar, uma barreira a impedia de chegar perto, olhou nos olhos de sua filha, que estava sem forçar para lutar, gritou a plenos pulmões: “Solte minha amada filha agora!” o homem olhou com ódio para ela, e soltou, a moça caiu e ela correu ate ele, o homem desapareceu no ar. E Luana a abraçou em lagrimas.

Voltou a consciência de sobressalto:

-Onde está Marcela?

-Luana ela teve uma parada respiratória sem explicação estão tentando controlar...

-Ela está bem e consciente- entrou uma enfermeira informando- ela quer vê-los.

Foram ao quarto.

-Obrigada mamãe- e a abraçou em lágrimas.

Pedro não entendia. Luana nada disse, tudo era estranho demais, mas estava em paz. Fosse o que fosse não roubou sua filha de si.

T Sophie
Enviado por T Sophie em 02/06/2012
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