O Último Beijo - IV

Soou a tranca da porta, então, esta foi sendo aberta aos poucos. Lady Bella, assustada escondia-se atrás das cortinas de um dos janelões. Ao avistar o ser de olhar penetrante, pele pálida e de postura nobre sentiu um míster de medo e euforia. havia ainda em seu coração sentimentos nobres voltados para o seu ex-amor.

- Não precisa se esconder, não vou fazer-lhe mal. A maldição que me atinge não quero, jamais estender-lhe, a não ser ,que assim o deseje.

caninos proeminente pendiam de sua arcada dentária superior. Os olhos eram duas chamas vermelhas. Tinha a pele pálida, de defunto, um defunto vivo.

- O meu pai? O que faz dele, como conseguiu ir me buscar? Como conseguiu?

-Não tem importância, agora. venha comigo. Quero que veja algo - dizia assim, enquanto abria as partes que bloqueavam o janelão. Abraçou-a, vencendo a sua resistência e lançaram-se ao nada pelo janelão. Lady Bella soltou um grito de pavor que ecoou por toda a imensidão do burgo.

Flutavam no nada, no céu nebuloso. O castelo ao fundo decorando a paisagem sinistra. Então, pousaram no cemitério, por entre as tumbas.

- Observe as lápides minha amada.

- Por quê me trouxe aqui, um local assustador...

- faça o que eu disse....observe as lápides.

Então, por entre a neblina que ali reinava, saíram andando por entre as dezenas de lápides, lady Bella, observou:

-Nossa, mas, são todas mulheres...

-Sim, mulheres de várias épocas, temos aqui senhoras que jaz mais de um século, Outras, muito mais.

-Mas, quem eram?

-Escute, não quero ter neste cemitério particular mais uma cova, mais uma lápide a ostentar o nome de mais uma donzela.

O coração de lady Bella palpitou - soara aquela observação como uma ameaça. Então o príncipe, ao ser recusado, não aceitava a rejeição e matava suas mulheres, ao longo do século, e as mantinha num cemitério particular. Indagava-se.

- É melhor ter cuidado, o meu pai deve estar vindo atrás de mim...

- Cale-se, o seu pai é um tolo, rendeu-se á igreja que praga que o homem é um ser inferior e que deve subserviência ao Clero. O Clero, segundo o Papa, é o representante de Deus na terra. Eu desafiei a igreja, pois, não tenho por que temê-los. O Clero diz que o corpo não é nada, é a alma que vale. Eu pude provar que o corpo é que é mais importante do que a alma.

-Por quê este discurso? Eu aceitei ser sua esposa, até ter descoberto que é um ser amaldiçoado, um vampiro que na calada da noite faz suas vítimas. Vive do sangue humano. jamais aceitaria viver a minha vida ao lado de um morto-vivo. Fui apaixonada por você, mas é um amor impossível.

lady Bella chorava. Jamais imaginou que viveria um momento como aquele. Tinha sonhos de princesa. casar-se com um príncipe importante, Ter filhos e ser a mãe mais graciosa daquelas paragens.

- Uma amaldiçoada, é o que sou, pareço ter sido abandonada por Deus. Deixe-me ir embora.

O príncipe das trevas não esboçava nehuma reação. Tinha o olhar frio, ora na direção dos muitos túmulos que ali estavam, ora lançava um olhar de ódio para a bela donzela que lhe cativou o coração, desde a primeira vez que a viu numa festa de encontros de reis e principes no castelo do Papado. Uma reunião que decediria o futuro da igreja e dos reinados. O poder político, o poder econômico. O destino da humanidade nas mãos de poucos.

- So tinha olhos para você na reunião do Papado. Agora, vejo-me num difícil dilema. jamais atentei contra uma amada minha no decorrer dos séculos. Mas, não aceito, jamais ser rejeitado. Não entende uma coisa. Eu sou um ser frio, desprovido de sentimentos. Não faço mais parte do mundo dos vivos há séculos. Não há a morte para mim. Eu sou o homem dos séculos. Os tolos lutam para conquistar tesouros, postos, todo tipo de poder que o passar dos anos lhes roubam. A velhice os aniquila, então, partem para o túmulo feito tolos. Que adiantou a traíção, a covardia, todas as conquistas se não terão tempo para gozar das delícias de que tanto buscaram?

- Eu quero sair daqui...

- O cemitério é um local que lhe incomoda, não se sente bem aqui, percebo. Ora, minha cara, nenhum ser humano gosta. O homem deseja a eternidade, mas, não pode tê-la, é um privilégio para poucos.

Renunciaria o teu Deus, a tua religião para ser eterna?

A lua cheia fora encoberta por cinzas nuvens. O som harmônico de uma revoada de centenas de morcegos se fazia ouvir sobre as tumbas do cemitério conhecido como o Cemitério das Noivas.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 03/06/2012
Reeditado em 16/06/2013
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