Missa oculta

O velho me esperava na porta.

-Você está pronto? - ele me perguntou.

-Estou!

-Trouxe o que pediram?

-Está aqui!

Mostrei um enorme saco preto.

-Ótimo! Siga-me, por favor. - Disse-me ele.

Andamos cerca de uns vinte minutos, dentro daqueles antigos corredores do subterrâneo daquela velha mansão.

Chegamos a um velho salão oval, aonde um homem trajando social nos esperava.

-Seja bem vido irmão! Disse-me ele estendendo-me a mão.

O velho pediu licença e nos deixou a sós.

-Mestre! Aqui está o que você me pediu. - disse eu.

-Ótimo! Deixe-me ver, por favor?

Entreguei o saco preto em suas mãos. Ele o abriu tranquilamente e tirou uma cabeça, um coração e um par de mãos.

-Perfeito! Você fez tudo direitinho. Estes restos mortais pertencem mesmo ao meu pai. –Disse-me ele.

-E agora mestre, qual a minha próxima missão?

-Participar da cerimônia! Acompanhe-me por gentileza.

Seguimos por outro corredor até uma escada, subimos, o mestre tirou uma chave do paletó e abriu uma porta a nossa frente. Saímos em um belo e imenso jardim. Lá tinham umas trinta pessoas da irmandade.

-Irmãos e irmãs! Preparem-se para a cerimônia, enquanto eu me troco.

Como de praxe, tiramos a nossas roupas, acendemos as tochas, montamos o altar e ficamos em círculo em torno dele.

Alguns minutos depois de tudo arrumado o mestre voltou. Ele vestia um manto azul escuro e estava acompanhado de uma mulher que usava um manto branco.

O mestre trazia, em uma das mãos, o saco preto que lhe entreguei.

-Comecemos a cerimônia! - Disse o mestre.

Ele colocou os restos mortais de seu pai no altar. Um dos adeptos aproximou-se e lá depositou a cabeça de um bode.

O mestre ordenou que a mulher de manto lhe trouxesse o cálice de prata.

-Irmãs! Vocês devem despejar um pouco de seu sangue aqui, e irmãos, despejem o sêmen de vocês também. - disse o mestre para nós.

Fizemos conforme o que foi ordenado e, assim que todos os adeptos concluíram o que foi pedido, a mulher de manto pegou o cálice e o entregou ao mestre.

-Por favor! Despeje o líquido sagrado irmã.

A mulher de manto branco despejou o conteúdo do cálice na cabeça, mãos, e coração, do homem, assim como na cabeça do bode.

Todos fizeram silêncio. O mestre ordenou que a mulher despisse o manto. Aquela sua nudez vigorosa contrastava com aqueles restos mortais.

Seguindo outro comando, a mulher pegou a cabeça do homem e a ergueu. Em seguida começou a lambê-la, sorvendo todo o líquido sagrado, depois, roçou-a em sua genital. Em seguida fez o mesmo com a cabeça do bode.

A mulher estava em êxtase. Todo o seu corpo era a personificação de um desejo mórbido, numa intensa comunhão carregada de beleza entre o sexo e a morte e ela como poderoso agente ativo desse processo.

Assim que ela recolocou a cabeça do bode no altar, uma luz avermelhada e intensa começou a brilhar na cabeça dele e na do homem morto. Uma voz aguda e grave ao mesmo tempo saia daquelas duas cabeças e disseram o seguinte.

-Bom trabalho meu filho, e agora mestre da ordem. Saúdo-te em nome do inominável que rege todos os mundos, dentro e fora dos homens. Ele é todos os abismos que se transformam em paraísos. Lembre-se, o que manda é sempre o reino dos sentidos e o corpo é seu poderoso agente que fará a grande transmutação dos infinitos abismos que existem.

Findado o discurso a voz se calou e as cabeças voltaram ao seu estado inanimado anterior. Logo depois, o mestre retirou seu manto, e nu igual aos outros, fez o seu pronunciamento com os braços erguidos e voltados para o céu.

-Adeptos! É chegado o momento de nosso rito final. Cada um pegue seu par e comecem a transmutação dos corpos. Elevem-se ao infinito que nossos corpos nos propiciam.

Homens e mulheres formaram pares, e ambos, simbolizando cálice e bastão, uniram seus corpos num profundo êxtase e iniciaram uma bela sinfonia polifônica de gemidos e sussurros.

Daniel Tomaz Wachowicz
Enviado por Daniel Tomaz Wachowicz em 09/06/2012
Reeditado em 05/08/2012
Código do texto: T3714617
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