Criança maldita

“Sua filha nasceu morta”. Falou o médico logo após o parto. A mãe chorou em desespero, abraçada ao marido. O casal tinha cinco meninos, e sonharam muito com a vinda dessa menina. Meia hora se passou e o mesmo médico retornou trazendo nos braços um pequeno embrulho. Disse que se enganara que a criança estivera apenas desmaiada, mas que despertara ao ser tocada pela enfermeira. A mulher pegou o embrulho, mas ao olhar para seu conteúdo recuou assustada e o entregou ao marido. O pai também se assustou e o devolveu ao médico. O bebê tinha duas protuberâncias na testa, parecendo chifres, seus olhinhos eram avermelhados, e a linguinha se agitava parecendo um filhotinho de cobra. O doutor tentou explicar que a criança nascera com má formação, mas que não se tratava de nada grave. Poderiam leva-la para casa tranquilos. O casal era muito supersticioso. Recusaram terminantemente a ficar com o bebê e aproveitando um descuido, caíram no mundo. Sem ninguém que a acolhesse, a criança foi ficando no hospital. A menina era de uma beleza estranha. Tinha grandes olhos azuis e os cabelos brancos como trigo. Suas mãozinhas gorduchas estavam sempre em movimento, por isso a apelidaram de Elétrica. O tempo foi passando. Por conhecer como lar o hospital onde vivia, aos cinco anos, a menina conhecia todos os andares e salas. Alguns pacientes não gostavam de sua presença. Achavam-na bonita, mas estranhavam os dois montinhos em sua testa e tinham nojo da língua rosada sempre fora da boca.

Alguns recém-nascidos começaram a morrer, sem um motivo aparente. Passavam o dia bem, mas durante a noite algo os sufocava. Investigações foram feitas, mas nada explicava as mortes súbitas. Enquanto isso, a menina Elétrica foi se desenvolvendo de forma espantosa. Aos seis anos tinha a estrutura de uma criança de dez.Era curiosa.Gostava de se esconder na sala de cirurgia e assistir sem ser vista ao nascimento dos bebês. Quando esses eram levados com suas mães para o quarto, ela sempre pedia para segurá-los e quase nunca era atendida. Conscidência ou não era sempre algum bebê que não a deixavam segurar, que amanhecia morto. Uma enfermeira suspeitou que Elétrica estivesse por trás dessas mortes e uma noite ao vê-la sair sorrateiramente do quarto onde dormia e ir para o berçário, a seguiu. Chegou a tempo de ver a menina introduzindo a enorme língua na boquinha de um recém-nascido. Gritou ao ver oque estava acontecendo, mas a garota com apenas uma das mãos apertou seu pescoço e a matou. Alguns bebês acordaram e começaram a chorar. Um a um foi sendo silenciado por Eletrica. Tiveram o interior do corpinho,sugado pela língua assassina. Os anos foram passando e o hospital foi desativado. A história das mortes misteriosa de bebês se espalhou e nenhuma mãe quis ir dar a luz, naquele lugar sinistro. Somente duas pessoas continuaram a viver ali. Elétrica e sua mãe adotiva, a enfermeira chefe. Responsável por trazer de volta a vida, a prole do demônio.

Vânia Lopes 10/06/2012