O enforcado

- Quais suas últimas palavras?
- Eu ainda voltarei para matar todos vocês...
Foram suas últimas palavras, antes de ser despencado por uma corda, que apertou seu pescoço, até matar enforcado um homem feiticeiro na velha África. Os moradores do vilarejo ficaram felizes com a morte deste invocador de demônios, que se dizia curandeiro. Não se importavam com sua promessa de voltar do além, tanto que esquartejaram seu corpo, para que não retornasse nunca mais do inferno. No entanto, misteriosamente após uma semana do fim dele, uma doença grave atingiu todos os africanos da aldeia e a promessa do enforcado foi finalmente cumprida, não sabiam se foi coincidência ou verdade, mas o fato era que o lugar nunca mais foi visitado por ninguém, diziam ser uma terra maldita.
Porém, alguns anos depois, uma médica americana resolveu criar um centro hospitalar improvisado com barracas e tendas nesse deserto de areia e pedras, para curar as crianças desidratadas e os leprosos famintos. Ela e alguns enfermeiros foram ao local indicado, e mesmo sabendo da lenda, não deram ouvidos aos boatos da maldição. No começo, muitos africanos não quiseram ser examinados ali nas redondezas, mas a doutora conseguia convencê-los, que tudo isso não passava de uma história sem cabimento apenas para provocar medo ás pessoas. A primeira noite foi gelada, de congelar os ossos, Sara, a médica se escondeu dentro da barraca com duas crianças magricelas, tremendo de frio. Ela colocou cobertores quentes sobre os dois, esperando que dormissem logo, mas um barulho sinistro os desperta. Ouviam ruídos fortes de um machado ou foice cortando algo ou alguém. A médica queria sair pra ver quem era, mas não podia deixar as crianças sozinhas, apenas ficou cuidando dos pobres negrinhos. No dia seguinte, todo mundo tava assustado, ao redor de dois bûfalos enormes e cortados em pedaços, onde as cabeças estavam fincadas nas pontas de dois crucifixos de madeiras, criados pelo povo. O caos estava tomando conta do vilarejo, até a doutora interromper:
- Atenção pessoal, não podemos nos intimidar com isso, quem fez essa atrocidade com esses animais foi apenas para nos assustar e sairmos daqui!
- Mas o enforcado morreu esquartejado também...
- Não interessa como ele morreu, a nossa missão é muito mais importante do que essas lendas africanas, estamos cuidando de vocês e seus filhos, e podem ter certeza que o responsável por esse crime será encontrado e punido!
O líder da tribo, chamado Naroc, um negro enorme e forte, se aproximou dela e disse:
- Se algo acontecer denovo eu mato você e seus amigos e tiro meu povo daqui!
- Como pretende nos matar?!
- Teve uma época que éramos canibais, os que ficavam doentes eram devorados primeiro...- disse dando as costas
No final da tarde, Sara e um guia foram exatamente no lugar onde o feiticeiro foi enforcado e morto, avistaram apenas pedaços de pau e uma corda velha descascada, provavelmente usada no julgamento do assassino. Não haviam evidências de que ele realmente ainda estava vivo, mas ao saírem de lá, Sara olha para trás e por um momento pensou ter visto um esqueleto pendurado na árvore ao lado, mas logo a imagem desaparecera diante dos seus olhos...
Anoitece e Sara dormia com as duas crianças na barraca, até ouvir um pedido de socorro do lado de fora, ao abrir a tenda, avista uma mulher negra e pelada, coberta de sangue e tremendo de frio ao longe. Sara pega sua arma e vai ao encontro da moça misteriosa, mas ao chegar perto, a figura começa a rir da cara dela e disse com a voz grave:
- Olhe para trás sua idiota...
Ao olhar para trás, a doutora avista o líder da tribo e mais cinco homens invadindo a barraca e devorando os corpos dos meninos á sangue frio, carne era estraçalhada á dentadas pelos africanos, fazendo as crianças morrerem de agonia e dor. Sara apontou o revólver para Naroc e atirou, matando-o na hora, todos os moradores saíram de suas tendas e ao verem o corpo do líder caído na areia, ela disse desesperada:
- Eles estavam devorando os corpos das crianças!
- Ficou louca?! Olhe os meninos aqui...
Os homens tinham entrado na barraca para resgatar as crianças que estavam chorando e a médica estava fora de si e acabou matando Naroc sem querer. Os moradores ficaram revoltados com a atitude da mulher e todos a agarraram e a levaram ao topo do penhasco, amarrada nos braços para o enforcamento. Prestes a morrer, com a corda no pescoço, o carrasco pergunta:
- Quais suas últimas palavras?
- Ele ainda está vivo...e matará todos vocês... - disse olhando para o assassino entre os africanos, sorrindo discretamente....
Alexandre S Nascimento
Enviado por Alexandre S Nascimento em 14/06/2012
Reeditado em 24/09/2016
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