O Monstro

Em madrugada de espessa neblina, com frio cortante que faziam transitar apenas os necessitados. Um silêncio tenebroso, que mesmo animais noturnos respeitavam, contendo seus uivos e pios. A luminosidade fraca dos postes, transmitia algum sinal de vida nas residências lacradas. Pelos becos bizarros, passos apressados de uma donzela perdida, com trajes longos e negros, a cabeleira loira esvoaçante. Mãos trêmulas que tocava as frestas dos muros, como um cego a tatear o trajeto. Delicados dedos que se ressentiam com o mínimo de fricção das paredes lodosas. Pés envoltos em botas que aqueciam e faziam diminuir o som da corrida.

A visão assustadora, aquela criatura monstruosa que surgira em sua frente. o corpo tinha proporções sobre-humanas, com uma força hercúlea demonstrada ao arrancar um portão de ferro sem maior esforço, destroçando-o em pedaços retorcidos lançados contra um bar de expediente encerrado. O monstro invadira o lugar, destruindo todo o interior, vazando uma parede. A vizinhança parecia inexistir, nem um gemido sequer. Nem mesmo a polícia parecia se interessar por ocorrência em uma noite gelada como aquela. A perseguição continuava, com estrondosos passos que faziam vidraças estilhaçarem.

Chegando a ponte que passava bem acima de um grande rio, lançou-se do alto. A cabeça atingira uma pedra, fazendo com que uma mancha vermelha desse um contraste as águas. O belo vestido negro flutuava, sendo levado junto com o corpo que boiava, com as madeixas louras escurecidas pelo encharcar. Um jovem sentado às margens, servira de expectador, não se abalando com o ato, a queda e nem o corpo passando em sua frente. Habituado aos saltos constantes naquela paisagem, continuava dando suas fortes tragadas no cigarro que estava no fim, queimando as pontas dos dedos com a brasa.

Arrastara o corpo lívido para o pequeno bosque, despindo delicadamente a criatura de fronte aniquilada. Evitara fitar aquela face com expressão de horror, mantendo o olhar fixo nos seios que o decote pareciam tornar maiores e rígidos, mas que sem o suporte, eram de uma flacidez que os diminuía ao escorrerem para as laterais. A calcinha branca, revelava uma vulva de pelos bem aparados, apenas um pequeno filete dourado que cobria aqueles delicados lábios, que sentiu atração em beijar. Contendo-se diante do frio, que o fez apenas verificar se existia algo de valor monetário nos bolsos ou escondido em alguma outra parte do corpo. No ombro esquerdo, uma tatuagem com o desenho de um Yin sem o Yang.

Diante de uma coleta modesta. Arrecadara apenas o vestido, que poderia levar em algum bazar. Deixando o cadáver sobre uma pedra, feito uma estátua viva que serviria de pasto as larvas e outros carnívoros atentos. O vento soprava ainda mais forte, fazendo com que a folhagem balançasse. Um carro encontrava-se em pedaços, talvez, mais uma vítima da fúria do monstro, que não parecia ter sido mais encontrado, não deixando vestígios. Apenas um estalido de galhos, ao se movimentar uma coruja que estivera na copa da árvore próxima a ponte. Fora esse pequeno incidente sonoro, tudo se mantivera quase mudo, já que todos que poderiam se dar conta de algum barulho, encontravam-se surdos.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 19/07/2012
Código do texto: T3786111
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.