TEMPO PERDIDO (mini)
Na tarde preguiçosa deitado no sofá, fitava o teto, o forro de madeira exibia desenhos que tentava decifrar, na TV desligada batia o reflexo da janela aberta, pelas frestas entravam o vento e os raios de sol, partículas de poeira dançavam no feixe de luz que se projetava na parede sem pintar.
O silêncio preenchia todo o espaço vazio, podia ouvir minha respiração e as batidas do meu coração. Um cachorro latiu ao longe... minha atenção voltou-se para a TV, que exibia, em sua tela escura mesclada pela luz do sol, um homem... um homem de chapéu e trajes de época parado no meio da sala... fixei meus olhos na cena, tentando decifrá-la.
Ele não estava ali, mas sua sombra permanecia na tela. Levantei-me e caminhei até onde a imagem na TV apontava sua localização... e ele se moveu. Afastei-me depressa ficando o mais longe possível do aparelho maldito. E o homem trajado elegantemente para um tempo passado, caminhou pelo cômodo como se estivesse à procura de algo, seus passos eram rápidos e movimentos meio robóticos, automáticos e repetitivos.
Nunca nada nesse mundo me causou tamanho terror como a imagem dele caminhando pela casa, e todos os dias no mesmo horário ele faz a sua busca... Agora penso que ele sempre esteve lá... a procura de algo que nunca saberei o que é, mas eu nunca tive tempo de parar e prestar atenção no que podia revelar uma TV desligada, seria um tempo perdido...