DEDO DURO - VIII - Terror Noturno

Adormeceu sentada na cadeira de balanço. Abruptamente acordou com um som estranho. Plocht,plocht,plocht...Algo se delocava pela água. A casa estava isolada com o alagadiço. Ergueu-se da cadeira - estava amedrontada, tremeu nas bases. Fechou as cortinas. O fogo na lareira havia se extinguido. A casa estava fria. Relampejava, vez em quando a luz inudava a sala, como um flash ligeiro da natureza a fotografar a sua noite de angústia e medo.

Seguia o som do barulho atráves das paredes. Parecia dar volta em torno da casa. A chuva havia dado trégua, mas podia ouvir o som da ventania sacudindo as copas das árvores que ficavam próximas da casa. Não teve como criar muitos obstáculos nas portas. Os móvéis eram pesados demais, não teve como arrasatá-los. Uma cadeira, uma poltrona, uma mesa bloqueavam as portas. Conseguiu descobrir um alçapão na cozinha. Tinha uma lanterna. Era um depósito empoeirado, cheio de teias de aranha. Uma caixa lacrada lhe chamou a atenção. A madeira era nova e não estava muito empoeirada - o que revelava que a caixa fora recém colocada ali.

- Estarei segura aqui? - indagava-se. Tinha a lanterna e uma pistola na mão.

- Qualquer coisa, eu aponto e sento o dedo...Posso não acertar mas vou assustar.

A casa estava ás escuras. Ficou curiosa, com relação ao som do deslocamento de uma pessoa,talvez, nas águas pelo lado de fora. Não acreditava que alguém pudesse estar ali, devido à enxurrada que caíra. O frio era aterrador, de gelar nos ossos, dentro da casa, imagine la fora.

Saiu do porão, lentamente, com cuidado voltou a circular pela casa. O som continuou: plocht...plocht...plocht....

Daquela vez foi mais feliz, o som seguia na direção de uma das janelas. Ergueu um naco de nadinha da cortina. Então viu quem se deslocava na água.

Era um cavalo. O animal estava perdido. Deve ter fugido da baia que ficava nos fundos da casa. Ficou aliviada. Reacendeu a lareira. Por sorte,tinha grades nas janelas, por ali ninguém entraria.

O telefone tocou mais uma vez:

-Alô...

- Emengarda...liguei para te desejar uma boa-noite...

A voz rouca, gutural. Falava como se estivesse babando, desejando-a, de forma ardente.

- Temos um acordo, caso não cumpre, vou fazer a denúncia. Você será incriminado.

- Não faça isso minha delicinha. Ninguém vai te levar á sério.

- Eu estou armada...

- A arma que eu te dei de presente para sua segurança no sítio?

-Ela mesmo...eu te mato, te dou tiro nas fuças...

- Não teria coragem, escuta você sabe atirar?

- Sou inteligente...aprendo logo, caso apareça na minha frente.

- Bem, vou desligar. A noite está fria. Vou dormir, talvez esteja longe de você, talvez esteja mais perto do que imagina. Tenho saudades do seu tempero.

Desligou.

Emengarda subiu para o prmeiro andar da casa. Estava ha alguns quilômetros longe da cidade, isolada. Subiu a escada de madeira. No escuro, auxilida pela lanterna. A iluminação a denunciaria. Seria bom que ele pensasse que estava fora da casa.

Um som esquisito surgiu no telhado, algo se chocava contra a parede. Desligou a lanterna, ficou em silêncio. O barulho persistia.

-Estaria ele em cima do telhado?

Ligou a lanterna, o foco de luz denunciou alguns morcegos que se alojavam numa área do telhado.

Arrumou a cama. Bloqueou a porta com a cabeceira da cama. Viu que a janela era muito alta para que alguém pudesse entrar por ali, mas manteve a cortina fechada. Indagava-se, ele estaria desejando-a, ou tinha o seu apetite desperto para devorá-la? Ele tinha quarenta e poucos anos. Não era obesso, apesar de ter ficado meses a fio preso na cobertura numa jaula improvisada. Os braços torneados e a barriga pequena denunciava que fazia ali, minutos de exercícios físicos.

- Não, ele é um doente, mesmo que seja desejo sexual...

Perguntava-se como se sairia dessa. O delegado estava nas mãos dele, mas não acreditava que se vendesse a ponto de saber de suas reais intenções - talvez, tivesse dito que era coisa de relacionamento entre marido e mulher. Sabia que não teria um resto de noite muito agradável, talvez nem dormisse mais. Ficaria deitada esperando amanhecer. Desligaria ou manteria o celular liagado - perguntava-se. Teria coragem de matar um homem?

E, depois, como seria a sua vida, caso o matasse? E, se não conseguisse, iria para a panela? - perguntava-se, de forma atroz.

Seus olhos quase saíram das órbitas ao notar pela janela, um vulto de, apesar do alagamento movimentar-se pelo caminho que dava para o sítio. O terror continuaria noite a dentro.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 12/08/2012
Reeditado em 13/05/2014
Código do texto: T3827404
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