O som do pesadelo...

Nas entranhas impenetráveis dos sonhos de Yochen havia algo maldito, algo como o decolar de um avião com um ronco em baixa freqüencia, quase imperceptível, mas aterrorizante como a pior das torturas...O supremo pesadelo que fomenta o medo do misterio que existe no incompreensivel...
Pesadas doses de medicamentos minimizavam a insônia de Yochen, mas ele sentia aproximar-se
aquele som maldito a cada vez que a claridade desfalecia em seu pequeno quarto, naquele quarto de cortiço mal cheiroso em que vivia...
E quantas vezes levantou, foi até a janela, olhou os tres andares que o separavam do solo e pensou em dar termo aquela tortura, abreviar em direção ao além a dor que lhe fustigava as noites... Lhe corroía os neurônios, mostrando as portas escancaradas da loucura...
___Oh! Madrugadas sinistras, que mal fiz para os demônios povoarem minha alma assim...?
Indagava ele no desespero, a procura de um minuto de sono profundo...
Sob a luz fraca do pequeno beco abaixo de sua janela repousava o carrinho de reciclagem que usava para catar lixo e sobreviver, ás 4 levantava e ás 19 já estava no cômodo de 2 peças para preparar a fraca alimentação, escutava um pouco de rádio em seu antigo rádio de 4 faixas, conseguido no lixo e depois ia para  o quartinho...Conseguiu também no lixo 1 sofá, uma pia e uma geladeira velha...
Há um ano depois de uma crise de loucura, o levaram a um posto de saúde e desde então, a sua esquizofrenia era tratada com medicamentos, mas como toda alma atormentada, fazia uso de alcool, o que potencializava o efeito do medicamento, o que misturava realidade e fantasia em sua mente, revezando momentos de plena lucidez e terríveis instantes de loucura irrefreável...
E sucederam-se as noites, além dos pesadelos que não o deixavam dormir, o som...Aquele maldito som,
causavam-lhe sobressaltos...Levantava, acendia a luz e o silencio lhe dava a dimensão que tinha a doença que o afligia, uma dor misteriosa e silenciosa na sua maldade...
O verão aproxima-se, a janela do quartinho de Yochen, pousava aberta, o vento amainava o calor,
e estranhamente ele conseguia dormir um pouco, e naquela noite, como que acometido de sonambulismo Yochem despertou as 3 da madrugada...
A confusão mental, não definia nele, o sono inconsciente, tão pouco a consciente realidade, e neste estado sentou na cama...O som difuso do motor dos sonhos, baforava um ar quente nas suas costas, com uma leve brisa, como as brisa que balançam os ciprestes nos antigos cemitérios...
Levantou-se postou-se ao lado da cama, caminhou até a porta abriu-a e caminhou no pequeno cômodo
em direção a cozinha...E parou onde o chamado daquele ronco parecia mais nítido...
Vociferava agora no seu ouvido aquele som, tão real, tão próximo que o ódio guardado em tantas
noites de insônia lhe conferia a materialidade sujeita a vingança manual...
Encostou numa parede lisa e lentamente, ainda sob efeito da inconsciencia, desceu o corpo lentamente...E lentamente o som foi aumentando...Aumentando...Até descarregar naquela pobre alma o ódio de mil guerras...Yochen com suas pequenas mãos, abraçou aquele pesadelo pequeno, quente, e ou trouxe junto a si, seu corpo girou, um pedaço de metal saliente lhe perfurou o couro cabeludo, espalhando sangue no chão... A demência que causa a vingança lhe segou a alma, e a imensa geladeira desceu como um bólido imprenssando a cabeça de Yochem contra a parede aspera,
repartindo em duas...Apenas um gemido longo e rouco, selou a paz entre Yochem e seus pesadelos...

 

Malgaxe

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 13/08/2012
Código do texto: T3827963
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.