Dedo Duro X - O Mal Continua
Sabia que podia gritar á vontade e não seria socorrida. Estranhou o método violento - fora do estilo dos Falcannus, que usavam a sutileza, a inteligência para os seus crimes. Ela sentiu um volume nas suas costas, então, lembou-se, que por insegurança tinha um ás na manga. Não confiava na pistola - esta podia falhar.
Puxou da faca que levava presa na saia - uma lâmina nunca falha, mesmo cega e enferrujada. Deu um golpe certeiro no braço do agressor. Ele grunhiu de dor e a soltou. Emengarda ergueu o corpo, de forma rápida, tropeçou, caiu, levantou-se. Não largava da faca. Ele a segurou pela canela da perna esquerda. Ele caiu junto dela. Emengarda estava furiosa, a adrelina inudava o seu sangue, os seus músculos estavam rijos, prontos para qualquer ação. Ela golpeou por várias vezes no seu tronco - estranhamente a faca não penetrava. Sentiu que os golpes eram em vão.
- Maldita vadia, maldita.
Grunhiu assim e a esbofeteou. Em seguida deu alguns murros fortes em seu rosto. O supercílio da empregada jorrou em sangue. Mais dois murros no rosto. Ela tentava a todo custo desvencilhar-se do agressor. Lutava de forma brava pela sua vida. Ele ja se sentia senhor da situação. Era forte e algo o protegia dos golpes de faca, como o protegeu dos tiros da pistola.
- Vadia, vai ser gostoso. Não grite, perde o seu tempo. Não há viva alma nas proximidades.
Emengarda ergue-se e o chutou no saco. O grito de dor abafado o fez dobrar os joelhos. Ela correu na direção da escada de madeira. Subiu a muito custo, caindo, levantando-se. Gritava sem parar. O agressor jazia ao solo, sentindo muita dor.
Trancou a porta. Tentou bloquear a porta com a cama, e um pequeno criado mudo. Dali não podia pular, era muito alto e não havia saída para o telhado.
- Oh, meu Deus, o que poderei fazer?
Indagava-se, enquanto o ouvia, de forma vagarosa subir as escadas.
A porta sendo forçada, com força.
- Eu vou te matar sua vadia.
Um chute, mais um, outro - e a porta cedeu. Ele tentava entrar, empurrando a cama. Emengarda sentia que o seu fim estava próximo. Apesar dos murros que levara no seu lindo rosto jovial, a sua visão não estava comprometida. O sangue do supercílio escorria pelo lado da cabeça. O medo a fez não largar daquilo que mais confiou - mas, agora era tarde. Parecia que nada a ajudava. Estava ali, indefesa. Seria a próxima vítima.
- Você é um dedo duro, Emengarda?
Perguntou ele com deboche.
Ela estava acuada, jogada ao solo. As lágrimas banhavam o seu rosto, em simbiose com o sangue vermelho que caía dos lábios bonitos, carnudos. O choro preso, contido. O coração batendo forte, acelerado.
Ele abria a sua braguilha, falava com voz de tarado. Xingando-a, chamando-a de vadia, prostituta,vagabunda sem valor.
- Você vai gostar, ele disse que você faz esse jogo todo mas adora ser currada.
O membro saltou balançando desenhando uma ereção. Ele se aproximou da pobre mulher, apostava na sua força física. O breu da casa, em momento algum o denunciou. O timbre de voz era semelhante. Emengarda foi fria, fingiu estar vencida. Quando ele se aproximou, e a agarrou de forma violenta. A faca partida golpeou o seu pescoço, seguido de mais de uma dezenas de golpes que perfuraram o seu rosto, sem dó, nem piedade. Enquanto golpeava, ela gritava, grunhia feito um animal. Ele berrava de dor - os dois gritando ao mesmo tempo, como se ali soasse o som das dores, do ranger de dentes do inferno, das almas em penitência eterna. A faca lhe atravessava nervos, músculos e ossos, ferindo o assoalho.
Até que o agressor permaneceu em inerte, esvaindo-se em sangue. Do seu pescoço um jorro de sangue saía como se ali tivesse uma torneira aberta. SSSHHHHHHHHHHH......SSSSSSHHHHHHHHH......SSShhhhh...
Passados alguns minutos, trôpega, ergue-se do solo. Apoiou-se nas paredes e acendeu a luz.
- Minha mãe, tudo o que eu queria na vida era ter um trabalho para fazer a minha faculdade....tudo o que eu queria...onde fui parar...onde fui parar?
Para sua surpresa, quando avistou o corpo do ´homem caído ao chão numa poça de sangue.
- O quê?
falou ao avistar o rosto desfigurado - não era quem esperava. A careca ficou ilesa dos golpes, a testa grande, brilhosa. Os Falcannus tinham cabelos fartos.
O telefone tocou.
- Emengarda, minha querida. Você continua viva? Apostei que sim, foi um jogo. O sobrevivente faria a comida. Alô, Emengarda...Alô...
Emengarda nada disse, estava exausta, extenuada. O seu corpo foi escorregando aos poucos usando a parece de apoio e ficou ali junto ao cadáver do delegado.
O dia manheceu. Havia desfalecido. Pegou o celular - dezenas de ligações. Não foi surpresa quando este tocou mais uma vez.
- Emengarda, sou eu...você está bem...?
- Alô...
Respondeu, com voz frágil, demonstrava cansaço, e desânimo.
- Quero fazer mais um acordo...
- Maldito, doente... você podia ser uma pessoa feliz, é rico...maldito...
- Esqueça, poupe-me dos seus comentários. Você viu uma caixa de madeira no sótão da cozinha?
-Sim... o quê que tem?
-Ali tem um freezer. Coloque o corpo nele.
- Eu vou fugir...não quero viver mais essa coisa macabra, dantesca.
- Querida, você matou o delegado. Você é muito boa nisso. Como conseguiu matar um homem da lei, experimentado e usando um colete á prova de balas?
falou, rindo.
- Maldito...deixe-me em paz...
- Escute, quero mais um acordo...Ou não quer ficar viva?
Por alguns segundos refletiu, não tinha condições para mais um embate, seria uma presa fácil.
- Fale...
- Tem uma outra caixa com todos os ingredientes que você gosta de usar no tempero, mais óleo, mateiga, alho...tudo para se fazer um bom prato.
- Não, meu Deus não quero mais isso pra mim...é nogento, asqueroso..
- Querida, você matou um delegado. Quer ir para a cadeia? Sem corpo não há crime. Eu quero comer, estou com fome. Espere, alguém quer falar com você..escute...
Então, a voz infantil do outro lado da linha a fez estremecer, as pernas ficaram bambas. A certeza de que estava numa roda de monstros.
- Alô, Emengarda, sou eu o Dãozinho. Quero comer carne assada. Tô com fome. Você vai fazer carne assada?
- Ouviu? Estamos com fome. O seu tempero ninguém tem...minha delicinha. Seja boazinha com a gente, e tudo ficará bem.