O IRINEU

Conto O Irineu

Estamos de madrugada num luxuoso prédio de São Paulo, bem de frente de uma bela praça e que calor esta fazendo neste mês de Fevereiro dos anos noventa.

A rua esta deserta é dia de semana, de madrugada. Lá esta o velho Irineu como sempre morrendo de calor e apesar desta sua tendência a sentir calor em demasia, teima e não liga o seu ar condicionado. Principalmente hoje que a sua esposa esta passando a semana na casa da filha no litoral.

Ele se encontra na sala do seu luxuoso apartamento, esta sentado no sofá e se levanta constantemente e vai a te a janela observar o que se na bonita praça.

È comum ele ter insônia no calor e ficar parte da madrugada acordado, agora por exemplo já passa das três horas desta madrugada

Irineu hoje e um aposentado foi delegado muito bem sucedido e respeitado, chegou a ser secretário de segurança publica no final de sua carreira.

Ele hoje esta com sessenta e oito anos e a cerca de sete anos se aposentou, sua carreira de policial foi marcada por ser regido, severo e foi considerado um homem violento.

Ele era temido pelos marginais e muitas pessoas o acusaram de ultrapassar os limites e realizar ate mesmo injustiças.

Ele hoje continua extremamente exigente, gosta de tudo certinho, não admite que as normas do condomínio sejam quebradas. Chegou a expulsar uma família inteira porque os filhos do casal dois adolescentes fumavam maconha , formam vistos dentro da dependência do prédio realizando tal pratica, outro caso de pessoas expulsas foram duas jovens que eram suspeitas de serem garota de programa.

Devido seu jeito autoritário de ser ele era amado pro alguns moradores, mas também odiado por outros.

Mas o grande alvo de seus cuidados estava fora das dependências do condomínio de luxo, era a bela praça que ficava bem em frente do prédio.

Ele morava no quarto andar e ficava da janela da sala principal zelando pelo local, ele detestava que mendigos, meninos de rua a freqüentassem o local,até mesmo os casais de namorados ele verificava se o comportamento deles era adequado aos bons costumes da moral.

Era comum ele chamar a policia para realizar o que podemos chamar a limpeza da praça, como delegado aposentado exercia grande influencia entre os policiais.

Isto quando ele não descia e tomava as providenciam cabíveis pessoalmente.

Uma vez ele pessoalmente baleou um jovem que esta com outros jovens se drogando na praça e nada lhe aconteceu devido a sua condição já mencionada acima.

Ele tem uma mania falar consigo mesmo em voz alta o que faz neste momento

---- Nem sei como fui parar nesta sala, e que barulho nesta praça isto me irrita, devem ser malandros e desocupados... Ele levanta do sofá e vai ate a janela como uma expressão bem irritada, ele se irrita com muita facilidade.

Chega a janela e arregala os olhos e fala:

----- Este cara de novo por aqui, tinha falado que este desgraçado tinha morrido, que a ultima surra que levou lhe mandou para o inferno.

Ele vai ao telefone para chamar a policia e não consegue parece o telefone estar com algum problema sendo assim em seguida ele vai ao inter fone e liga para o porteiro, para que o mesmo chame a policia, mas o mesmo não responde ele pensa... Este cara deve estar dormindo lá dentro depois perde o emprego e vai se achar injustiçado.

Irineu tem muita raiva desde mendigo o nome dele e Xavier um ex-traficante de droga que ao sair da prisão virou um mendigo e viveu naquela praça.

Xavier era um mendigo querido naquela redondeza, ele trabalhava por troca de comida numa casa de massas. O proprietário permitia que ele todos os dias lavasse a frente do seu estabelecimento e dormisse a noite na lateral da famosa casa de massas Italiana, era comum o proprietário lhe doar roupas velhas e permitir que ele tomasse banho ali no vestiário dos empregados. Ele conhecia toda a malandragem da região e por isto aquele estabelecimento esta muito bem protegido.

Por isto que o Irineu não conseguia expulsá-lo, ele tinha a proteção do dono do estabelecimento comercial que também era advogado e sabia da mania de perseguição que sofria o mendigo.

Irineu pelo seu lado o via como uma ameaça por ser ele um ex-traficante de drogas que cumpriu pena por trafico e homicídio ele não aceitava esta situação.

O Irineu queria se livrar dele e por fim conseguiu, pois há três anos atrás o proprietário da casa de massas morrera de um ataque cardíaco e a casa de massas foi vendida. O novo proprietário sofrendo influência de delegado aposentado tocou Xavier, que não se abalou, ficou na praça vivendo, ele amava aquele local e os moradores o ajudavam lhe dando dinheiro, roupas e comida.

Numa noite policiais amigos de Irineu recolheram o Xavier e lhe deram uma surra muito grande e o levaram para outro ponto da cidade. Relataram dias depois para Irineu que devido à surra ele morrera dias mais tarde vitima de uma hemorragia intestinal.

Irineu ficou satisfeito,nunca suportou aquele pobre homem que mal não vazia a ninguém, ele era um pouca bagunceiro quando se embriagava, mas era suportável, inofensivo, apenas falava sozinho e ria muito. Com relação a sua vida de crimes ele cumpriu a sua pena vinte e oito anos de prisão.

O velho delegado esta irritado com a situação e resolve descer ir a ate a praça e pessoalmente tomar uma posição.

Ele mora no quarto andar, vai ate o elevador e aperta o botão e percebe que o elevador continua parado no décimo andar. Sendo assim ele desce pelas escada do prédio muito irritado. Ao chegar ao térreo, vai ate a porta principal e sai para fora e vai ate a cabine do porteiro e o encontra ele trancado numa espécie de sonolência.

Ele fica transtornado em ver a cena e bate varias vezes no vidro mas o porteiro não escuta e continua na sua madorna.

Sendo assim ele sai do prédio e atravessa a rua e vai na direção do Xavier que esta deitado no gramado junto a uma arvore.

---- Acorda safado, esqueceu da surra. Eu pensava que estava morto? Não quero vagabundo aqui, vai embora antes que eu mande sumir com você de vez.

------ Eu estou acordado faz tempo não tenho medo de você, fui um bandido, mas hoje não mato nem uma barata, me arrependi daquela vida . Apesar de responder por duas mortes, lhe confesso matei muito mais.

Mas você matou muito mais do que eu, quando você era policia matou e mandou matar muita gente por ser justiceiro e querer estar acima da lei.

Lembra dos extermínios que você realizou ao longo da sua vida publica, sem consentimento da justiça fazendo a sua própria lei.

----- Que engraçado... Ri em demasia, seu olhar mostra pouco caso, ele continua falando.

Não sei como você sabe disso, sem duvida que isto aconteceu, mas e melhor matar do que permitir que criminosos fiquem solto por ai realizando suas barbaridades.

---- E para que então a lei à prisão os juízes?

----- Nossa lei e muito fraca muitas vezes ela ajuda e protege o marginal, infelizmente é o sistema.

Não me arrependo do que fiz, mas isto não lhe endereça sou um homem de bem reconhecido pela sociedade, sou respeitado e reconhecido como policial e homem publico.

Minha família tem orgulho de mim,sou um sucesso, mas você o que é um mísero mendigo.

Passou vinte oito anos preso, acabou sem nada nesta praça vivendo das esmolas dos outros. Um inútil deveria ter morrido quando nasceu teria evitado sofrimento para você e para sociedade.

O sargento Ferreira me assegurou da sua morte, mas vejo que isto não aconteceu e porque você só apareceu aqui depois de três anos?

Não gosto da sua presença, lhe dou meia hora para você partir daqui, a tantas praças nesta cidade.

----- Não adianta me ameaçar, aqui e meu lugar e sempre estive aqui, cometi crimes eu sei, mas me arrependi. Fui punido pelas leis e ate mesmo perante Deus eu me retratei pedindo o seu perdão.

---- Muito bonito tenho certeza que no dia que partir para outra ira alcançar os céus, mas nesta praça quem manda aqui sou eu.

Neste exato momento vem contornado a praça uma viatura da policia militar, Irineu avistando o veiculo anda em sua direção e faz sinal com a mão para ele parar. Mas os policias o ignoram, simplesmente não tomam conhecimento da sua presença.

Ele se irrita e começa a observar a praça no sei interior e nota que existem outros mendigos e desocupados ali, alguns dormindo, outros conversando.

---- Nossa como isto esta cheio, parece que houve uma invasão por aqui terei de tomar mas providencias este bairro e de gabarito... Se dirige de novo para perto de Xavier que fala.

---- Irineu vai para casa olha a sua filha esta chegando com sua mulher... A filha chega de carro com a sua mãe são cerca de quatro horas da manha. O porteiro abre a porta da garagem subterrânea eles entram.

Devido a distancia e a rapidez que o veiculo entra na coragem ficou impossível Irineu chama-las.

Neste momento Irineu na da à mínima, mas observa que a praça esta cheio de desocupados e faz uma cara de espanto e fala em voz alta balançando a cabeça.

----- Não sei como isto esta acontecendo eu observo esta praça todos os dias e nunca vi tanta gente desocupada parece que esta havendo um convenção por aqui.

Xavier vai embora com seus amigos, sai daqui logo cedo ou domarei providencias... Com as mãos nas costas se afasta do mendigo e vai em direção do prédio onde mora. Neste exato momento quando Irineu escuta um grito, este vem do seu apartamento é a voz de sua esposa que vem acompanhada de um choro. Ele corre então depressa em direção da residência ao chegar observa que o porteiro subiu correndo para ver o que havia. Ele entra e sobe pelas escadas atrás do porteiro.

Encontra a porta aberta e entra lá e observa a mulher no sofá em prantos, num desespero absurdo, a filha no quarto com o porteiro. Ele fala com a mulher que nada responde, o ignora então ele entra no quarto e vê a seguinte cena.

Sua filha chorando sobre um corpo que era o seu, ele não compreende nada, fica desesperado e assustado.

O porteiro fala: deve ter sido enfarte, como isto pode acontecer com seu Irineu era uma boa pessoa.

---- Meu pai morreu dormindo feito um anjo não deve ter sentido nada, eu sempre falava vai no medico para ver o coração.

Vou chamar as autoridades competentes... E vai em direção do telefone, neste exato momento chega o seu vizinho que e medico.

Irineu procura falar com a filha, o medico, a mulher, mas ninguém o escuta.Ele esta anestesiado não sabe o que faz mas Xavier entra pela porta e fala:

----Irineu você está morto cara, já era, eu morri também e aquelas caras que estão na praça também. Sempre estivemos lá você não nos via porque estava vivo.

Que um conselho e bom se acostumar com esta situação, tem vantagens e desvantagens.... E fala com um sorriso meio maroto, mas não demonstra ira ou vingança.

O velho Irineu parece não acreditar desconsolado grita, chora, da murros na parede, tenta falar com as pessoas que o cercam e por fim sai pela porta principal do prédio em disparada.

Um ano depois sua esposa não mora mais no prédio, vendeu o apartamento e foi viver no litoral com a filha, a praça deve seu nome alterado em homenagem ao delegado que agora chama Dr.Irineu Marques Arruda Filho.

Dizem os freqüentadores da praça que parecem ter a impressão que sentem a presença de algo que vaga pela praça e que perturba aqueles que ali costumam ficar, principalmente os mendigos, desocupados, jovens arruaceiros e casais de namorados que atentam aos bons costumes.

Mário M. Almeida

Santos, 16 Fevereiro de 2007