A Casa do Morro Uivante IV

Após meses de paz e harmonia, onde a felicidade, ali reinava - apesar dos temores-, a respeito da maldição, agora, estavam ali. acuados no chão, num canto da sala. Um deles apontava a espingarda, o outro exibia a adaga comprida, brilhando á luz das velas.

- Agradeço pela decoração, menina, depois de mortos, vou conseguir vender esta casa, mais uma vez por um excelente valor, talvez dobre o valor. Até o cemitério se transformou num jardim primoroso.

Disse Johnny Bells, com a sua voz rouca, debochada. estava sentado num dos cantos da mesa.

- Desta vez, como vamos fazer? para que todos na cidade pensem que foi mais uma vez a maldição que se cumpriu com desavisados?

Indagou, BillY Boy, um dos comparsas - o que tinha a adega nas mãos. Gostava de furar as pessoas com a mesma - tinha um prazer especial em matar furando, deliciava-se em observar a sua vítima esvaindo-se em sangue.

A resposta veio de uma quarta figura, que adentrou pela porta, deixando o casal de irmãos abismados.

- Não vai ser como sempre, o casal de irmãos consolidaram bons relacionamentos na cidade, não vivem aqui isolados, como os demais, nos últimos anos. Vão desaparecer, como se tivessem sido sugados para o inferno, entenderam? Nada de morte violenta inexplicável. A maldição se cumpriu mais uma vez.

respondeu-lhe o sr. Malguerrith.

- Um golpe, fomos vítimas de um golpe, irmãozinho, que malditos que somos, precisávamos de uma casa, e nos metemos com uma quadrilha de assassinos. Vão nos matar...

Disse a irmã, em lágrimas. Os facínoras silenciaram, por alguns segundos. Um dos bandidos sairam e trouxeram o sr. Paul Luccy, também, desacordado, um filete de sangue pendia de sua cabeça até ás suas costas.

- Vamos matar ele, também?

Perguntou, Johnny, com susto, não queria ter problemas sérios com os influentes da região, e ir parar na forca.

- Não podemos ter testemunhas, vocês foram vistos no caminho por ele, o mesmo retornou, preocupado com a menina e o irmão - na certa, desconfiou da presença dos tolos, podiam ter se escondido na vegetação, quando viram a carruagem, por quê se deixaram ver?

- Estávamos bebendo, o caminho estava escuro, não vimos a carruagem se aproximar.

- Acho que vou ter muito onde meter a minha adaga, hoje.

Disse Billy Boy, soltando detestável gargalhada.

- Estamos famintos tem algo para comer nesta casa, doce menina?

Indagou Malguerrith. Adelle foi conduzida para a cozinha para preparar a carne seca e uma farofa, mesmo acuada, mantinha a sua fina educação, pediu desculpas por não ter vinho na casa. Um dos facínoras encontrou algumas garrafas de whisky, que haviam sobrado das últimas vendas. Abriram uma garrafa e bebiam. Adelle temia pela a ação do álcool na personalidade do assassino frio que mantinha a adaga numa das mãos, Billy Boy. A carne foi colocada na gordura, fervia no forno à lenha. Adelle precisava fazer algo, mesmo que isso lhe custasse à vida, mesmo de forma precipitada. Num lance único, rápido, pegou a frigideira pelo cabo e jogo o seu conteúdo no rosto do garoto - que tentava a todo momento lhe cortejar, apalpando os seios, a sua bunda e encostado o seu mau hálito no seu rosto. O garoto soltou um grito de pavor que ecoou pelo interior da casa, causando um espanto de choque em todos. Adelle saiu correndo da cozinha, subiu as escadas que dava no sótão superior. Um tiro de espingarda soou atingindo a parede de pedra, sem contudo acertá-la. Dois deles foram atrás da menina.

Luccio ficou desperto, e aproveitando, pegou de um banco e atingiu na cabeça Johnny Bells que caiu ao solo soltando um grito de dor. Empurrou o chefe da quadrilha, o mentor intelectual dos crimes, e ganhou à porta da frente. Correu na direção do cemitério, sabia que ali nos fundos havia farta vegetação, onde poderia se esconder, e o terreno era bem acidentado. Os homens saíram atrás dos irmãos, esqueceram do Sr. Paul Luccy na sala, como o mesmo estava desacordado não lhes preocupou. Passados alguns minutos de procura, retornaram para o interior da casa.

- Minha nossa, que aconteceu? Como podem ter deixado eles escaparem?

- Desculpe, chefe foi uma ação inesperada da menina, a maldita me queimou o rosto, arde a pele do meu rosto.

Disse Billy Boy sofrendo sentado na poltrona da sala, molhava o rosto com uma toalha molhada.

- Peste, o madeireiro, cadê ele?

Indagou, com desespero, o chefe da quadrilha.

-Fugiu, mas que peste, o maldito fingia estar desacordado, eu pensei que...

Tentou remediar Johnny Bells, quando foi esbofeteado pelo seu chefe. A porta estava aberta, uma lufada de vento sibilante a trancou com força. O sr. Malguerrit tentou abrí-la, sem conseguir. Tentou por várias vezes, os demais tentaram, mas a porta parecia estar travada por forças ocultas. Então, o vento sibilava falando a voz dos mortos:

" Abram a porta...queremos levá-los para o inferno..."

- Minha nossa, é a maldição da Casa do Morro Uivante..

Disse, com espanto Billy Boy, retirando a toalha do seu rosto.

- Cale-se idiota, estão tentando nos pregar uma peça, querem inverter o jogo.

-Abra a porta Dullyu.

Malgerrith, pediu, este se recusou, havia algo de sobrenatural nas vozes que se sucediam pelo lado de fora da casa.

" Johnny Bells...Billy Boy... Dullyu.... Malguerrith....viemos buscá-los para o inferno...abram a porta...para a maldição se cumprir..."

- Escutem aqui, não estamos para brincadeira, puderam fugir, querem brincar com o sobrenatural, não estamos com medo. O jogo é nosso senhorita Adelle, se foram tão trouxas a ponto de não fugirem vai ser como querem.

O vento se chocava na porta e nas vidraças das janelas, o seu sibilar dava calafrios nos quatro homens - apesar, de duvidarem do improvável.

" Abram a porta, sou eu Adelle..."

Dizia o vento falando na voz dos mortos. Falava a maldição: " Não abra a porta ao ouvir a voz dos mortos, mesmo que a voz do chamado lhe pareça familair..."

Rindo, o bandido empunhando a espingarda abriu a porta. De onde estavam escondidos, Adelle, Luccio e Paul - dos fundos do cemitério, protegidos pela farta vegetação-, ouviam gritos aterradores, de pânico.

Aqueles homens pareciam encarar o próprio satã vindo do inferno. Até que o silêncio absoluto ali, reinava.

- O que aconteceu?

- Por quê gritavam tanto?

Indagavam-se, ao entrarem na casa, por incrível que pareça, nada encontraram. Vasculharam toda a casa, e nenhum vestígio dos facínoras.

- O que se passou, fugiram?

Perguntou Adelle.

- Talvez, creio que a maldição tenha acontecido, ela é real...

Observou o sr, Paul, convicto.

Decidiram pernoitar na casa, iriam ao chefe de polícia dar queixa dos mesmos - caso fosse provado os diversos crimes, iriam para à forca.

Quando ja se encontravam vencidos pelo sono, ouviram o vento forte açoitar a frente da casa. As janelas eram sacudidas com força sobrenatural. O sibilar do vento, mais uma vez trouxe a voz dos mortos:

" Adelle...abra a porta....queremos lhe falar....abra a porta Adelle..."

- MInha nossa, Luccio, sr.Paul..chamam pelo meu nome...

- Não abra a porta, menina.

Impulsionada por uma força maior, Adelle levou uma das mãos á maçaneta da porta. O vento comtinuava sussurrando o seu nome:

" Adelle abra a porta...quero lhe falar..."

Ao abrir da porta, uma lufada de vento adentrou pela casa, levando o sr.Paul e o seu irmão ao chão. Ficaram ali, deitados, enquanto Adelle foi sugada pela ventania, saindo da casa. A escuridão, ali reinante impediu que Luccio e o sr. Paul saisse á procura da menina. A noite parecia não passar. Por mais que a chamassem, ela não respondia.

Horas depois. O sol despontara no horizonte, repleto de vida. O céu de beleza inconfundível, repleto de nuvens brancas. Adelle, tranquila, exibia um belo sorriso em sua face de menina, como se nada tivesse acontecido com tanto terror na noite anterior.

- Então, não acredita em mim?

- Não. Arrume as suas coisas, vamos sair desta casa maldita. Vamos morar em outro local, pode casar-se com o sr. Paul, quem sabe, e ter uma vida melhor.

- Seria uma honra, poder tê-la como minha esposa. Caso tenha o interesse.

Falou, o sr. Paul.

Adelle revelou o ocorrido, contou uma grande história:

"Os mortos lhe foram grata, por ter cuidado do cemitério, decorando-o com flores coloridas. Afinal de contas, ali estavam os túmulos dos primeiros habitantes do local, e de um homem de grande personalidade e bondade, os fantasmas estavam feridos pela ingratidão dos habitantes, deixando o cemitério abandonado. Os mortos, sim, assustavam quem ali, habitava, mas, os crimes foram praticados pela quadrilha de Johnny Bells, tirando proveito da lenda. Os mortos deram á resposta, deram conta dos facínoras. Luccio era daquele que so vendo pra crer, então, contrariando a vontade dos mortos, Adelle lhe mostrou cova a cova, onde cada facínora estava morto, de olhar saltado das órbitas e a boca aberta de pavor - um cadáver em cada cova o abraçava pelo pescoço, como se dali tivesse saido do descanso eterno para se vingar daqueles que abusam das coisas do além."

Algum tempo depois, a casa onde moravam virou um grande escritório que administrava o cemitério. Adelle se casou com o milionário sr.Paul Luccy. Luccio era o proprietário do cemitério A Casa do Morro Uivante. Tinha uma placa na entrada que dizia : " Aqui se descansa em paz."

Ninguém perguntava pelo desaparecimento dos facínoras. As flores cobriam os túmulos, Adelle fazia questão de cuidar das mesmas, pessoalmente. O seu encanto era tamanho quando estava ali, por entre os túmulos, que parecia que os mortos sussurravam lindas poesias. O local tinha adquirido a personalidade da menina Adelle - o cemitério era visitado pelas famílias, que agora, reverenciavam os seus mortos. Era comum ver as crianças correndo pelos túmulos brincando, dando risadas repleta de ingenuídade e pureza.

FIM

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 06/10/2012
Reeditado em 07/10/2012
Código do texto: T3919298
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