INTERFERENCIA DO MAL

O homem parado em frente ao delegado estava arrasado, sua fisionomia nunca lembraria o apresentador de TV sorridente e jovial de um famoso programa religioso da TV local. O homem bem sucedido de dias atrás, com mulher, casa, um bom emprego, agora parecia um farrapo de ser humano, estava com uma camisa surrada preta com os dizeres em amarelo “free forever”, barba crescida, que há oito dias não fazia, irregular e falha, cabelos despenteados, seus olhos estão fundos e vermelhos, mesmo assim sua boa aparência contrastava com os outros dois homens sentados um a sua direita, o seu Advogado, amigo George Sarmento, homem corpulento e de respiração difícil, um dos advogados mais competentes da cidade, a esquerda o irmão Francisco, com um ar preocupado, sua face de sobrancelhas feitas e pele clara mostrava sinais de choro. Fernando era bonito, alto, um e oitenta e seis de altura, e oitenta quilos, cabelos castanhos e uma cova no queixo que herdou da mãe, andava sempre bem arrumado, era um homem apreciado pelas mulheres.

-Meu cliente está à disposição da justiça, não tem nada a esconder.

Ele segurou a mão do advogado, de que adiantava aquilo? Tudo tinha acabado mesmo, sua mulher Helena e sua filha estavam mortas.

O delegado era um homem baixo, talvez um metro e cinquenta de altura, acima do peso, porém não era gordo, usava paletó arrumado e alinhado, gravata azul marinho. Sentado de braços cruzados à frente de Fernando estava impaciente, o crime já estava resolvido. – Ele já sabia o que aconteceu a polícia técnica tinha feito um laudo sem chances para erros. - Só precisava de um depoimento completo de Fernando para concluir o inquérito, havia um outro problema a resolver, o depoimento detalhado de Fernando poderia ajudar a resolver, o experiente advogado havia concordado com o depoimento se o seu cliente não saísse dali preso.

-Doutor, eu posso falar com meu irmão em particular, apenas um minuto?

Malta olhou para o relógio, estava tentado a dizer não, mas Fernando estava colaborando, era educado e Malta gostava do programa dele, um show de prêmios engraçado e divertido e ainda por cima cristão, programa muito visto na cidade que passava em uma TV local aos domingos.

-Vamos rapaziada. - Chamou o investigador Alberto e o advogado.

- Tem um café na copa, se vocês quiserem ariscar, foi o Alberto que fez, para mim qualquer cafeína é bem vinda. – Malta ficou bem perto de Fernando e com o dedo indicador da mão direita apontando para o apresentador de tv disse:

–Tem cinco minutos, depois me conta tudo, detalhe por detalhe, começando do começo, como diria a minha avó.

Fernando apenas balançou a cabeça afirmativamente.

Francisco abraçou o irmão, não eram tão próximos, desde criança se afastaram, não pelo fato de Fernando não aceitar a opção sexual do irmão, nem a sua mudança de religião, deixou de ser católico e passou a ser de outra religião. Francisco não era mais católico isso que importava para Fernando e para a sua mãe.

Francisco tinha formação técnica, sua vida começou difícil, aos doze anos todos já sabiam que seria homossexual, apareceu com o primeiro namorado aos quinze. O pai, sempre conservador, fingia que não via, não conversava sobre o assunto, não discutia com o filho mais jovem. Suas tentativas de correção foram todas ainda na infância. Pai cristão e abnegado, quando Francisco era pequeno tentou de tudo, castigo, surras, levou para igreja, tentou um colégio católico interno, depois tentou uma conversa com padre, psicólogo, médicos, o resultado era sempre o mesmo, ou seja, nenhum, Francisco continuava como nasceu: gay.

O pai dedicado Morreu em uma festa, apesar de não gostar de festas, aos sessenta anos, depois de uma noticia desagradável, que a promoção não saiu, foi preterido por um parente do dono da empresa. Ele queria muito a promoção, não pelo salário, mas pelo reconhecimento, passou a vida toda atrás de um reconhecimento. Fernando até acha que foi uma coisa sem importância a causa da morte do pai, Humberto Matias, mas seu pai sempre foi muito nervoso, aquilo fez com que ficasse com tanta raiva que faleceu de infarto agudo do miocárdio, dentro de casa, num domingo, com toda a família reunida.

Francisco chorou muito, passou a frequentar a casa de Fernando, assim, depois da morte do pai os dois se aproximaram novamente. A mãe de Francisco e Fernando, após o enterro do senhor Humberto, agravou o quadro de demência, passando a ser cuidada por uma enfermeira, depois pelo próprio Francisco, que trabalhava como químico em uma companhia de petróleo. Era técnico e ganhava pouco, com seus gostos exorbitantes, o gosto por luxo, estava sempre precisando de dinheiro.

Há dois anos, Fernando teve um relacionamento extraconjugal com uma das fãs e que trabalhava na empresa, que fornecia modelos para tv. Ela acabou engravidando. Louco de ódio, vendo tudo desmoronar e sem saber o que fazer chamou o irmão. O irmão sensibilizado com o problema do Fernando, garantiu que resolveria tudo.

Francisco resolveu o caso, providenciou o aborto, e a menina sumiu, Fernando nem quis saber como, só pediu para não machuca-la, com a resolução fácil do problema, ficou grato ao irmão. Depois de ter vivido esse inferno, sua vida voltou ao normal.

No fundo Fernando se achava um homem de bem, pessoas cometem erros, amava a esposa. Helena que era médica pediatra, estudiosa depois do curso de sociologia estudou medicina e se especializou em pediatria. Trabalhava em um hospital local. Fernando queria falar a verdade, mas conhecendo o gênio difícil da mulher, tinha certeza que seria mandado embora, dispensado como um cachorro para casa da mãe e nunca poderia ver a filha.

-Você tem certeza que não é ela?

-Claro que não. –Francisco tinha um falseio no olhar, alguma coisa que Fernando não conseguia identificar, talvez fosse medo.

-Mas como, ela anda aparecendo em todos os lugares? – Disse Fernando. - Sempre está com um bebê no colo, ou aquela coisa rastejando no chão.

-Não é ela. – Francisco colocou a mão no ombro do irmão e disse:

– Você está sendo vítima de espíritos malignos, pode acreditar, precisa ficar forte. Não diga nada sobre ela.

-Não sei o que vou fazer, não quero mentir para polícia? – Fernando começou a chorar no ombro do irmão.

-Meu irmão, aconteça o que acontecer, o que eu fiz, foi por amor a nossa família.

O delegado voltou.

-A sena é comovente. – Disse sentando na sua cadeira. –Mas já chega, precisamos ouvir o depoimento de Fernando sem interrupções, vamos deixar só o advogado e o seu cliente, o senhor está dispensado, como é mesmo seu nome?

-Francisco.

-O senhor entendeu. – Disse o delegado fazendo um sinal para o agente da polícia civil.

-Eu gostaria de ficar com meu irmão. – Disse Francisco.

O delegado estava impaciente. – Senhor Alberto, conduza o senhor Francisco para sala ao lado, mantenha sob custódia, peça para ele chamar o próprio advogado, a não ser que o senhor queira representá-lo. – Falou o delegado ao advogado de Fernando, o advogado, elegantemente, negou com a cabeça. - Se ele falar qualquer coisa considere desacato e prenda.

Fernando sem entender nada perguntou: – Por que ele vai ficar na sala ao lado? – Disse pegando na mão do irmão.

O advogado, que até aquele momento estava em silêncio, mostrou toda sua experiência e falou: – Vamos deixar o delegado fazer o trabalho dele, depois pensamos em como vamos ajudar Francisco.

Assim Fernando começou o relato.

***

Conheci Helena ainda na escola, uma baita época diferente, a maioria das pessoas estava envolvida com a política, era o ano dos “caras pintadas”, tínhamos o que pensar, com o que se importar, sabíamos qual era o nosso inimigo, queríamos um Brasil melhor e sem corrupção. Helena estudava sociologia, tinha um idealismo dentro dela, as coisas do bem, das coisas perfeitas, todo mundo pelo ser humano, tudo pelo humanismo, uma defensora da espécie pobre e desvalida. Helena acreditava na democracia, no voto, no poder da educação. Confesso doutor, eu, já naqueles tempos, não acreditava em nada daquilo, queria fazer comunicação e ser apresentador de telejornal, o painel político não me interessa, achava a democracia manipulada pelas pesquisas e pela impressa. Talvez por isso eu e Helena, sabe delegado, a gente se deu muito bem. Helena disse que eu tinha perdido a fé no homem e nas coisas da vida, que era possível mudar aquela situação, só era preciso acreditar, às vezes eu fingia, nunca acreditei, nem nunca vou acreditar.

O ex presidente Fernando Collor de Melo foi eleito e derrubado pela mídia, assim o quarto poder, a imprensa, é que realmente é o poder moderador, políticos tem que manter esse poder sob o seu controle, caso contrário as coisas desandam. Eu sei disso, trabalho lá. Conheço o covil, parte de toda a propaganda “oficial” é feita sem licitação, órgãos de imprensa oficiais não são usados. Repórteres são cada vez mais jovens e falam só o que é selecionado, não podem pensar, se o que eles falarem atingir a arrecadação da emissora, rua, não fale de um político sem me perguntar antes, diz a regra (grande outro de Lacan).

Casamos, e nossa filha nasceu dez anos depois, agora em novembro faria sete anos.

Estávamos naquele dia discutindo sobre a minha sociedade com meu irmão, ele queria abrir um salão para o namorado e queria que eu ajudasse financeiramente.

-Não quero você falando comigo assim, esse irmão seu aparece e alguma coisa de ruim ocorre? Sei que temos que aceitar um a família do outro, mas tudo tem limites. – Disse Helena, porém, ela estava com raiva porque meu irmão Francisco passaria três dias na nossa casa, tenho que dizer a verdade, quando isso acontecia, ele acabava ficando por meses.

-Ele é meu irmão, são só três dias, vou ajudar a abrir o salão e pronto. – Argumentei colocando a mala no porta-malas. – Além do mais vamos para a casa da fazenda, nossa deliciosa casa de campo.

-Nossa não, né Fernando? Da sua família. – Disse Helena. – Só não quero achar aquela bagunça que achamos da outra vez, temos uma filha Fernando, pelo amor de Deus!

-Tem muito tempo que ninguém vá lá. – Completei olhando para ela. – Não se preocupe com Francisco ele vai se comportar no nosso apartamento.

-Você sabe que ele bebe e leva estranhos para a nossa casa. – Ela estava linda naquele dia, posso sentir isso agora delegado, usava um vestido azul com detalhes brancos, seu cabelo preso no alto da cabeça dava um ar juvenil e ao mesmo tempo tinha uma classe.

-Prometeu que não vai fazer nenhuma bagunça. – Disse sem ter certeza, Francisco poderia fazer uma tremenda bagunça, era alcoolista, mas não respeitava as regras do AA, sempre escorregando por conveniência, além disso usava cocaína, Helena não sabia disso, foi no verão passado que a coisa piorou, ele disse para mim que estava fora de controle. Tinha até usado crack.

Viajamos para casa de campo, era aniversário de nossa filha Sofia, foi dela a escolha essa viajem, ir para a casa de campo, era o passeio favorito de Sofia quando meu pai estava vivo. A minha escolha seria outra, sou um homem urbano e do grande público, gosto de lugares com muita gente, mas era o aniversário dela, ela escolhia.

O tempo mudou, chegamos à casa de campo debaixo de uma chuva fina e de muita neblina. A casa estava abandonada ha anos, mais ou menos três anos que ninguém entrava lá, desde que minha mãe adoeceu, já pensávamos em vender, quando chegamos, Helena desceu do carro e disse:

-Preciso ir ao banheiro, onde estão as chaves?

-No vaso, em baixo da janela que fica para a piscina, ou pelo menos ficava sempre lá. –Sofia deixou Napoleão, o nosso cachorro, estava livre para correr para onde queria, era um labrador, gostava dele, sempre que saia para os meus passeios levava. O incrível é como os cães envelhecem rápido, já estava com doze anos, parece que compramos ontem ele filhote. Agora velho e com artrite, era muito lento, ficou preguiçoso, preferiu ficar sentado na varanda.

Delegado, quando a minha mulher voltou do banheiro para me ajudar a levar as compras, sinceramente, era outra pessoa, ela estava pálida, com os olhos vidrados, perguntei, ela não me respondeu.

-O que houve Helena?

Ela não respondeu, alguma coisa tinha acontecido dentro da casa.

Apertei o ombro dela de um jeito carinhoso que sempre fazia, ela simplesmente tirou o braço, sem olhar para mim, seu olhos ficaram baixos, vermelhos, perdidos no espaço vazio, naquela hora achei que era o cansaço, Sofia perguntou.

-O que você tem mamãe?

-Raiva por você ter nascido. – Disse sem olhar para o lado.

-O quê? - Eu disse escandalizado com aquelas palavras, achando que Helena estava com alguma brincadeira de gosto duvidoso.

-Cala a boca. – Helena olhou com os olhos vermelhos, pegou uma mala e foi em direção a entrada da casa.

-Helena o que você tem?

-Raiva. –Disse ela batendo a porta da sala.

A noite ela deitou e dormiu, não falou mais comigo, Sofia ficou chorando no quarto, tentei consolar, mas tudo que eu falava piorava a situação, minha mulher e minha filha estavam isoladas de mim. Ouvi um barulho na parte debaixo da casa, panelas, facas e garfos estavam suspensos no ar. Helena estava parada na sala totalmente sem roupa, ao seu lado uma criança rastejava e outra mulher, que naquela hora, não reconheci, ela ficava gritando de dor e dizendo para Helena, me liberte. Com certeza estava em algum tipo de pesadelo, quando a criança rastejante que parecia um monstro ficou bem perto de mim, me chamou de pai, dizendo com uma voz gutural, pai porque me abandonaste? Era um pesadelo. Pisquei o olho e tudo sumiu, estava na cama, resolvi descer, peguei um cigarro escondido.

O delegado conhece aquela música do Quincy Jones, aquela do filme: O último americano virgem, Just One, começou a tocar sem parar, mais de vinte vezes na minha cabeça, relembrando alguma coisa, só que não era a minha música com Helena, ela gostava de música clássica.

Com cigarro na mão fui fumar lá fora, Helena não queria que nossa filha presenciasse fumando, era um péssimo exemplo, as vezes a gente precisa de um cigarro nessa vida certinha que levamos, Michel Foucault, o grande poder biológico, viver politicamente melhor, é viver saudável, mesmo que viver seja um lixo? Sei lá o cara sabia das coisas, colégio de France, duas horas falando, quinhentas pessoas ouvindo, que cabeça? Lá estava a música novamente, tocando na minha cabeça, foi quando me lembrei dela, ela que gostava daquela música.

Linda, apareceu na minha frente, Jéssica, era uma maravilha! Juro para o senhor doutor, como o senhor está aí vivo e respirando, a mulher mais bonita que eu já tinha visto na minha vida, uma das assistentes de palco, minha fã, tive um caso com ela, qual o mortal que não teria? Foi por pouco tempo, minha mulher Helena nunca ficou sabendo. O homem é canalha mesmo, o casamento ruim, a mulher trabalhando sem parar, já que depois da sociologia, como já disse, Helena estudou medicina e fez residência em pediatria, como todo médico nos dias de hoje ela trabalhava muito, havia dias a nossa relação não ia bem, sempre brigando por detalhes, ela muito ocupada, horas de plantão, de trabalho e de atendimento a doentes, menos a família, Helena virou uma mulher amarga, atrás de objetivo, primeiro para ela mesma, agora para nossa filha, só não conseguia viver, simplesmente viver, não pensar em nada. Sei que pode parecer egoísmo da minha parte, mas em momentos difíceis as pessoas mais próximas estão tão distantes que não conseguimos alcançá-las.

A música, parecia tocar dentro da minha cabeça.

-Você é meu. – Disse Jéssica. – Lembra você disse que me amava, que sempre fui tudo para você, que se eu morresse você morreria .

Sabe doutor, eu tinha, de alguma forma, sido sincero, de uma estranha maneira o que tinha dito a Jéssica era verdade, mas eu tinha que voltar a vida real.

-Já terminamos tudo. – Disse a Jéssica, estava preocupado, Helena tinha tomado um remédio para dormir, mas provavelmente acordaria em breve, não queria aquele encontro, Francisco disse que estava tudo resolvido, o que ela estava fazendo ali.

-Sabe que sou casado. Que aquilo tudo foi um erro.

-Não devia ter feito isso, agora ou você vem comigo, ou elas vão ter que pagar, você vai ter que escolher, será que será egoísta novamente?

-Você sabe que faço um programa em uma TV cristã, não posso aparecer num escândalo, caso contrário, vou perder meu emprego.

-Pense nisso. A sua vida miserável, pela delas.

-O que pensa em fazer? Acusar-me, por favor, não faça isso.

Queria ligar para Francisco, mas o celular sem sinal e na casa não tinha telefone.

Entrei, acho que ela foi embora, o primeiro dia passamos pescando no riacho, foi um dia maravilhoso, a gente sabe que a família é a coisa mais importante, todos merecemos uma segunda chance, eu e minha filha, andamos pelo lago, depois brincamos com o cachorro, ajudei Sofia a acabar de concertar a escada que dava acesso para a casa da árvore, estávamos felizes, depois de tantos anos dei um beijo apaixonado na minha mulher Helena. Tinha certeza que aquele erro foi passageiro, meu Deus! Agora estava apaixonado, revivia a paixão pela minha esposa. Se o senhor quisesse saber sinceramente, delegado, aquele dia foi um dos mais felizes dias que jamais tive com minha mulher em outra ocasião, além disso, minha filha e eu estávamos próximos, era como se fosse os últimos dias de férias, lembrando a época que meu pai era vivo.

-Pai, você me ama?

-Claro querida.

- Então não deixe ela me queimar viva. – Quando ouvi isso acordei sufocado, estava tudo escuro, era madrugada, Helena estava dormindo, a música começou a tocar, Quincy Jones, Just One, saí para fumar um cigarro, estava com medo de encontrar ela, mas ao mesmo tempo aliviado de tudo aquilo ter sido um sonho.

-Então? – Ela me perguntou. – Essa música não é linda, era a nossa música, você gravou para mim, eu tinha só dezoito anos, perdi tudo, minha juventude, minha esperança, minha vida e a vida do nosso filho.

-Me desculpe?

-Desculpas aceitas, se você vem comigo querido, aceito suas desculpas, você vem?

-Não posso, amo minha mulher e filha. – Ela sumiu bem na minha frente, deu uma gargalhada, perdi a consciência, acordei e me assustei quando vi a primeira labareda subir, o fogo já estava adiantado é como se saísse do transe e caísse numa escuridão. Perdi a consciência novamente sem poder ajudar, acordava e ouvia os gritos, depois caia em um sono, isso se repetiu como um estado de semi - consciência. Quando acordei em definitivo Francisco estava de pé no hospital para me dizer que as duas estavam mortas.

O delegado tomou um copo de água e foi até o armário e pegou duas fotos.

-Quero que preste atenção, aquela que você diz ter sido a sua amante é essa?

Mostrou a foto de Jéssica, linda e sorridente.

Fernando concordou com a cabeça afirmativamente.

-Agora atenção, homem da tv! Vou mostrar para você uma foto mais atualizada da mocinha com cara de anjo.

O delegado mostrou uma foto de Jéssica carbonizada, nem dava para saber quem era. Um corpo de um ser humano carbonizado no meio de lixo e cinzas.

Ele levantou e pegou um pouco mais de água, já estavam ali há quatro horas.

-O senhor sabe como o seu irmão Francisco se livrou do seu probleminha, meu caro senhor Fernando? Ele prendeu a garota no porão daquela casa e depois queimou viva a menina lá dentro, anos depois reformou a casa lacrou o porão, escondeu o corpo, quase impossível de descobrir, se não fosse o outro incêndio, isso mesmo, só descobrimos o corpo dela por causa desse segundo incêndio. A polícia técnica já informou que foi um incêndio acidental.

-E eu? – Perguntou Fernando ao delegado.

Quem respondeu foi o seu advogado, que como sempre, soube mais do que havia falado.

-Você está livre. – Disse olhando para o delegado. – Esse é o nosso acordo, não é delegado?

-Isso vai depender do promotor e do juiz, o único acordo que tenho é não deixar esse canalha preso, pelo menos por enquanto, suma com ele daqui.

-Delegado, eu não sabia!

-Agora viva com o que aconteceu, tudo que fazemos nesse mundo tem consequência aqui e para quem acredita, do outro lado também.

A música começou a tocar.

JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 07/10/2012
Código do texto: T3921325
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