O Demônio Familiar V

Ele não conversava muito. Não era de falar com as pessoas por muito tempo, nem de fazer amigos. Fazia contatos, fazia trocas e contratos para concluir seus planos obscuro, mas nunca amigos. Não era esse seu estilo. Sua vida não condizia com a palavra amizade. Mesmo assim, ainda sabia como ser charmoso e convincente quando precisa. Claro que a magia ajudava muito, mas ele tinha um sorriso que podia ser bastante agradável.

Foi bem recebido no hospital. Fizeram-lhe poucas perguntas e respondeu sempre com discrição e com uma desculpa básica, aquela que os demônios lhe sussurravam, ouvida nas mentes de quem estava lhe questionando. Caminhou pelos corredores pensando em sua tarefa. Sorria para quem passava à sua frente. Cumprimentava algumas pessoas mesmo sem conhecê-las.

Tinha uma adaga dentro do bolso. O cabo era de ouro, com um rubi na ponta. A lâmina era brilhante e estava embainhada quando ele atravessou os corredores brancos e chegou à ala infantil da psiquiatria. Entrou no quarto sem problemas, mesmo que ele estivesse trancado. Lá ele tirou um frasco cheio de sangue e com uma unha dentro. Sacou a adaga e jogou o sangue sobre ela, enquanto andava na direção do garoto. Não sorria. Não expressava sentimentos enquanto andava até o menino. A morte dele não lhe trazia nada de especial em relação aos sentimentos. Seu coração era de pedra.

Os demônios sussurravam agitados dentro dele. Podia senti-los em sua pele. Aproximou-se dentro do quarto escuro e então ouviu um clique.

- Pare aí – disse o agente Ford, apontando-lhe uma arma.

“Maldição!”, pensou. Demônios tendiam a ficar agitados demais quando próximos do fim de uma execução. Perdiam a concentração em tudo! Rápido como um raio, ele se abaixou, sumindo na escuridão de um modo que Ford não conseguiu compreender. Quando apareceu de novo, já estava socando o agente e o jogando no chão. Chutou-o com força ainda no chão e o desarmou.

- Não se intrometa – disse.

Andou até a criança. Olhou-a atentamente e então os médicos apareceram. Ele virou-se para os recém-chegados.

- Essa criança não é meu problema – disse.

Encarou-os com a força de todos os demônios e o mundo abriu passagem para ele, sabendo que o peso demoníaco que carregava era demais para qualquer um.