A Mulher Podre !

Viviane não era uma pessoa bonita, sua aparência combinava com seu caráter.

Naquele vilarejo quando Viviane passava todos corriam para suas casas, era possível escutar pessoas murmurando “ela é podre”, “carniça ambulante”, “ela fede”, tornando assim o caráter de Viviane mais podre.

Imagine a pessoa mais feia para você, e irá criar Viviane.

Viviane um dia foi bonita, agora apenas estava pagando seus pecados em vida.

Acabava-se antes do tempo, com apenas quarenta anos já parecia uma velha de sessenta, não iria durar muito tempo, o câncer no útero estava diminuindo seus dias.

Tudo havia começado quando tinha vinte e cinco anos, era bela, onde passava atraia todos os olhares para ela.

E assim conseguia tudo o que queria, em vez dos homens a enganarem era ela quem os fazia de capacho.

Sua mãe já não aguentava de tristeza, a cada passo Viviane voltava com uma barriga e sua solução era o aborto.

Às vezes esquentava água, a colocava em uma bacia, e se sentava em cima e ali ficava até cozir o feto.

Outras vezes furava a placenta, e ali mais uma vida não iria nascer.

Viviane havia tido filhos sim, teve cinco filhos, todos eles ela havia dado para sua irmã Miriam, que adorava crianças e mesmo com a vida dura que levava sempre aceitava cuidar de mais um.

Ao contrário da irmã, Viviane era ambiciosa, só pensava nela, ficava a se olhar para o espelho e dizer que ninguém era mais bela do que ela.

E de tantos abortos, uma grande ferida se formou em seu útero, transformando-se em um câncer.

A cada dia que se passava ela via a morte mais próxima dela, e sem poder fazer nada apenas a esperava.

Com quarenta e três anos, seu médico havia dado mais uma semana de vida.

E o dia não tardou, a morte queria apenas debochar mais um pouco da "podre”.

Eram uma hora da manhã, quando Viviane escutou gemidos e choros de crianças, levantou-se e foi lavar o rosto pensando apenas que tivesse tido algum sonho.

Na porta de entrada três batidas ela pode ouvir se dirigiu até a porta e quando abriu encontrou uma criança.

Desnutrida com as roupas cheias de terra, fitando o chão, lentamente erguia a cabeça.

Um barulho de chaleira fervendo tomou conta da casa, fazendo com que Viviane olha-se para trás, após ir até a cozinha e checar que não havia nada fervendo voltou até a porta.

No chão, marcas de lama davam até a sala, a criança havia entrado, ao chegar à sala.

A criança estava com os olhos fitando os de Viviane que logo percebeu que seus olhos não havia pupila nem Iris, era inteiro negro fazendo Viviane estremecer.

Logo Viviane sentiu como se houvesse caído naquele buraco negro, caindo em um abismo de onde jamais iria parar de cair.

E novamente o barulho de chaleira fervendo tomou conta da casa, fazendo com que Viviane saísse da hipnose, fazendo com que ela olha-se para trás de novo.

Ao virar-se para frente novamente, a criança já não estava mais ali.

-Deve ser alguma alucinação minha, por causa dos remédios - disse a ela mesma tentando trazer conforto.

-Conforto, você só irá sentir quando estiver em um caixão! - e a voz ecoou em sua cabeça.

Arrepios percorreram a espinha de Viviane, trazendo calafrios.

Dirigiu-se até o banheiro, jogando água no rosto.

No espelho a outra ela, gargalhava de sua desgraça, uma vertigem e a vista de Viviane embaçaram.

Ao voltar o normal, ela se viu jovem novamente, mas não era ela.

-Não existe ninguém mais bonita que eu! - dizia a outra ela do espelho.

O espelho trincou, e quebrou se espalhando por todo banheiro, alguns cacos atingiram o rosto de Viviane.

Já caindo no choro se dirigiu para seu quarto, deitou-se na cama e ficou ali encolhida, mas ao sentir o toque de uma mão gélida em seu pé ela estremeceu.

E ali viu um feto com um bebê quase formado, não entendia como, mas ele se arrastava em sua direção.

Com medo ela deu um chute no feto, fazendo-o bater na parede e cair no chão.

E o choro de um bebê ecoou pela casa, fazendo os ouvidos de Viviane sangrarem.

Do chão surgiram vários fetos como aquele que ela havia arremessado na parede, todos tentavam subir na cama.

Sentiu várias mãos tocarem ela, todos se juntaram a ela, e ficaram ali grudados.

O medo já havia tomado conta dela, já não conseguia mais se mexer.

A porta rangendo se abriu de onde surgiu um rapaz aos prantos.

-Por você larguei minha esposa e filhos, por você perdi tudo que tinha, e olha para você agora, você se tornou uma mulher podre! - e o rapaz se transformou nela, Viviane já sabia o que era aquele ser que trocava suas formas era a morte a zombar de sua cara.

-E agora Viviane? Agora existe mulher mais bonita que você? - e de Viviane o ser se transformou na morte.

Que estava vestida com um longo vestido negro e com um capuz, os olhos apenas duas esferas vermelhas que brilhavam.

As mãos eram apenas os ossos.

-Viviane, eu sei quem é a pessoa mais bonita que você, é a morte Viviane, não existe nada mais belo do que eu! - disse a morte a gargalhar, Viviane sentiu o ar ficar mais quente, ouviu choro de crianças e latidos de cachorros.

O latido parecia cada vez se aproximar mais, e Viviane sabia que aquilo era seu fim.

Uma manada de cachorros com os corpos em decomposição surgiram ali, e o cheiro de carniça tomou conta do quarto.

-Esta sentindo este cheiro Viviane? Você tem o mesmo cheiro sabia? -e a morte continuava a gargalhar, até que sessou, a manada de cachorros havia sumido.

E o medo se tornou maior ainda, quando sentiu que os bebês em volta dela começaram a se mexer.

Sentir o toque deles causava repulsa, nojo, logo sentiu mordidas, e mais mordidas.

E viu os bebês a comendo viva Viviane não tentou protestar nem nada, apenas agonizou ali, pois tudo aquilo era merecido.

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Na manhã seguinte os vizinhos começaram a dar falta de Viviane, depois de uma semana chamaram a policia.

Ao entrarem na casa a podridão havia tomado conta do lugar, que estava cheio de moscas.

No quarto encontraram Viviane com os olhos abertos com expressão de dor, o corpo todo mutilado.

E nunca se soube a causa da morte, no enterro os cinco filhos já crescidos compareceram.

Nenhum tinha lágrimas nos olhos, nenhum sentia dó, apenas amaldiçoaram mais ainda a mulher "podre".

Jessica Alana
Enviado por Jessica Alana em 11/11/2012
Reeditado em 09/04/2014
Código do texto: T3981021
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