Maldade.
 
Desde que me lembro como gente aprendi a ganhar tudo pela força.
Nunca ganhei nada de ninguém, só surras por parte de minha mãe e irmãos.
Pai não conheci, soube ser um bêbado e morreu em algum bar tomando o que mais gostava.
Cansado de apanhar em casa comecei a bater e gostei disso.
Com o tempo me aprimorei a até minha mãe apanhou um pouco, não tanto como ela me batia, mas o suficiente para me respeitar e obedecer minhas ordens.
Formei um belo time com minha mãe e meus irmãos, começamos a traficar e roubar.
A princípio pouco fazíamos por inexperiência, depois ficamos mais escolados e partimos para grandes empreendimentos.
Tudo tem custo e benefício e fui perdendo meus irmãos em brigas com a polícia ou contra os concorrentes que queriam vender o mesmo produto que eu.
Curioso que só ficamos eu e minha mãe, que me idolatrava, mas resolveu que poderia me vender para o concorrente e ganhar bom dinheiro.
Para seu azar e sorte minha descobri a tempo e reverti à situação sendo que infelizmente no entrevero com meus algozes, ela veio a falecer.
Fiquei triste, pois mesmo não gostando dela havia me acostumado com seu jeito bandido.
Comecei a imperar sozinho, porém com bastante maldade, pois só assim conseguia fidelidade.
Fui preso algumas vezes, mas sempre com dinheiro conseguia bons advogados ou mesmo sem chegar à chefatura, já ganhava um (deixa prá lá) e dava um (leitinho para as crianças).
Na minha lista de inimigos, pois imperava no trafico de drogas, roubo, contrabando, devia ter mais de mil que dariam um braço direito para me ver pagando pelos meus crimes.
Para castigar me esmerava e comecei a pegar parentes, pois fragilizados deixavam de me molestar.
Em um dos meus armazéns montei uma câmara de tortura, digna da idade média e faria inveja para aqueles monges torturadores pederastas.
Tudo que sonhei em armas e lazer já possuía só faltava constituir uma família.
Parei meu carro em uma praça e vi uma moça de singular beleza.
Pensei com meus botões, esta ainda não se contaminou.
Parece que a simpatia foi recíproca e em breve estávamos namorando.
Sempre que era mais ousado ela me repelia me deixando frustrado, mas feliz, ainda não se contaminou.
Disse ser um importador e ela acreditou.
Em nossos passeios, não sei por que levei-a para o armazém laboratório, aquele dos aparelhos de tortura.
Falei que eu havia estudado e na idade média busquei aparelhos que lembrassem as masmorras e seus algozes.
Mostrou-se curiosa e pensei ter visto nela traços de maldade, com certeza me equivoquei.
Tomamos alguns copos de vinho e de repente adormeci.
Quando acordei estava amarrado em uma mesa cirúrgica.
Pensei ser brincadeira sua, mas percebi tarde demais que ela não era aquele anjo de bondade.
Mexendo bisturis e cinzéis como uma cirurgiã, sorrindo me falou:
-Sabe amor quando perdi meus pais, enfim toda minha família sabia que, só tinha um causador.
Foi difícil me aproximar de você.
Mas graças a muito esforço consegui, e agora quero mostrar que também sei tratar alguém com carinho.
O mesmo carinho que teve com meu irmãozinho de oito anos lembra?
Em minha cabeça entre tantos, vi perfeitamente a que ela se referia.
Você vai implorar para morrer, mas não deixarei , perderá cada gota deste sangue maldito.
Quando o frio da lâmina me seccionava, retalhando entre seu sorriso, vi minha mãe e meus irmãos dando gargalhadas.
Meu filhinho está sofrendo?
Que peninha, a mamãe está aqui com seus irmãozinhos para ajudá-lo, quer?
Não sentia mais nada estava próximo, não era meu corpo que sofria, mas eu via tudo acontecer, via minha família, e outros tantos que se deliciavam com a fúnebre festa.
Eu só flanava de um lado a outro observando.
De repente abriu-se um enorme buraco no chão e entre labaredas apareceu o diabo em todo seu esplendor:
-Venha filho chega de sofrer o papai vai cuidar de você.
Conduziu-me para o infinito dos infernos.
 
OripeMachado.
Veneno de Cobra.
 
 
 
 
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 24/11/2012
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