Quando os Mortos Caminham - Capítulo I - O mendigo faminto

“O caos chegou tão rápido que mal percebi que a morte já não existia mais”

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Estou encurralado, não que eu esperasse algo melhor para mim, mas aqui mergulhado no meio dessa merda estou realmente me sentindo péssimo.

O odor inconfundível, o sólido e o liquido se impregnando fetidamente em minha pele. Tudo bem que eu já estivesse imundo, abandonado há tanto tempo, me virando sozinho por aí pelas ruas, mas nem de longe eu imaginaria que iria acabar assim.

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Quando os mortos caminham – Capítulo I - O mendigo faminto

Certamente em algum canto do mundo havia uma explicação mais pertinente para o que irei lhes narrar, entretanto eu que lhes contarei a história a seguir, deduzi algo bem mais simples; "Deus certamente deu férias para a morte"

Não sei ainda como tudo começou, mas lembro-me bem do momento em que eu vi aqueles olhos, os olhos que me paralisaram.

Caminhava ainda sentindo fome, não tinha um centavo e as esmolas, elas mal apareciam. Povo idiota, burguesinhos, mesquinhos e medíocres. Em pensar que eu era um deles.

Passei em frente a um restaurante, dez horas da manhã e o cheiro chegou até mim despertando meu estomago. Olhei pela vidraça e vi as mesas enfileiradas, as bocas cheias, os talheres transportando toda aquela carga abençoada e de repente despejando naquelas bocas imundas de uma sociedade inescrupulosa. Bando de otários, pensando bem, realmente o mundo estava precisando de uma faxina.

Eu ainda os olhava quando o homem gordo e bem vestido chegou até mim com ar imponente.

- Retire-se daqui seu verme! – Ele disse dirigindo-se a mim como se eu fosse um zero a esquerda. Mal sabia ele quem eu era. Mas como poderia me reconhecer, como algum deles poderia. Hipócrita! “pensei”.

Saí dali caminhando lentamente, senti a revolta de meu estomago, ouvi seus gritos e gemidos e então ouvi algo mais que isso.

- É o apocalipse! - Gritou um louco, ou ao menos era o que eu pensava até escutar as sirenes descompassadas invadindo a rua.

Ouvi o som vindo do megafone e ecoando pelos becos:

– Cidadãos! Peço calma a todos, sou o tenente Charles Andrade e peço a todos que ouçam com atenção. A cidade de Capitólio, como outras sete da região está de quarentena. Todas as saídas estão fechadas, e aqueles que tentarem fugir serão mortos. Rezem para que isso não aconteça, pois acreditem isso não nos ajudará em nada.

Eu só podia estar louco, que espécie de aviso era aquele. Quarentena? Diabo! A fome deve mesmo estar me matando.

Sentei-me na calçada ao lado de uma lixeira entreaberta e enfiei minha mão lá após avistar um apetitoso pedaço de pão que um homem que havia passado por mim havia acabado de jogar ali. O som se aproximava ainda mais, mas eu só queria morder alguma coisa. Bati a mão espantando as moscas e também limpando o pedaço de hambúrguer que me restara de consolo. Cravei os dentes nele e então eu os vi ao longe.

- Mas que merda é essa? – Pensei comigo mesmo enquanto as pessoas corriam para suas casas e um jipe chegava com transportando cinco soldados fortemente armados. Um deles falava ao megafone.

- Isto não é um treinamento! Entrem para suas casas! Repito: Isto não é um treinamento! Entrem para suas casas.

Um simples olhar, e vi que aquele homem estava falando a verdade, e pior enxerguei o medo nos olhos dele. Estava usando mascarás de gás, escudos, e fardados. Ele me viu comendo aquele pão e mal piscou, mas se intimidou ou me desprezou. Apenas tirou o mega fone da boca e me disse com voz cautelosa.

- Saia daqui, rapaz! Essas ruas serão palco de um show de horrores! – Ele continuou no carro, olhando para mim e anunciando o inferno. Eu continuei ali absorto em minha contrição.

Estava pouco me lixando para o mundo ou para a vida. Eu havia desistido de tudo há muito tempo, o que é que poderia ser pior do que o que eu vivi?

Mal sabia que aquele dia infernal seria realmente de matar.

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Continua...

Escrevi esse hoje, enquanto ainda estou trabalhando no capítulo final do Pena de Morte. Logo saí o segundo.

Leiam:

O Jogo da Forca

Pena de Morte

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Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 28/11/2012
Reeditado em 28/11/2012
Código do texto: T4009795
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