Estranha Obsessão

Sempre fui religioso, um pai amado, um filho querido, sempre omiti os desejos mais insanos de meu corpo, essa pele que cobre minha alma cheia de pecados.

A primeira vez que a vi, ela estava sentada, suas pernas balançando como se desafiassem a gravidade. Olhei-a e seu sorriso imaturo me chamou ainda mais a atenção.

Tinha os olhos de topázio, lábios de amora, e os cabelos mais pareciam um amontoado de fios de ouro, decorando aquele belo e inocente rosto rosado.

O corpo pequeno e jovem, de curvas quase invisíveis, mas que despertavam algo realmente colateral, um desejo cheio de sensações, sentimentos enrustidos na dor de minhas discordâncias, no ermo de meus sórdidos pensamentos desabitados e descarados.

Eu era um fugitivo de mim mesmo, mas para onde correr se os passos estavam cada vez mais pesados, se os olhos cada vez mais molhados de desejo ardiam juntos as chamas do inverno de minh'alma.

Ouvi o riso sedutor, carregado pelo vento, e chegando junto de perfumes virginais, róseos e tentadores. Ouvia o esbarrar da corrente na barra de metal, e via as folhas fugazes, se libertando, secas e mórbidas das belas figueiras que embelezavam aquele playground.

Sentado naquele banco, as mãos alisando a madeira áspera, apertando-a com voracidade, outrora com suavidade intensa. Meu membro cada vez mais rígido e sórdido, pronto a explodir no ápice de meus sonhos pecaminosos, hábitos desgostosos e tão vilões de mim.

Estava há quinze metros do alvo de meus olhos, a quinze passos do corpo cobiçado, a quinze segundos do abismo de minha redenção.

Queria me libertar da fúria de meus instintos. Selvagem, eu queria possuir a carne fresca que tanto me acendia, intolerávelmente.

Após o primeiro encontro, passei a vê-la todas as noites. Ela sempre estava acompanhada da mãe e do pai, sempre sorrindo, brincando. A princesinha e seu vestido florido, e um olhar desinibido de criança sapeca, arteira e peculiar. Entretanto, hoje, ela estava só, somente ela e eu.

As sardas no rosto acriançado, o hálito adocicado, os olhos venosos e castanhos, a tinta rosa que cobria seus lábios inocentes e despertava meu pecado.

Cheio de fúria, mais uma vez me levantei, olhei para garotinha indefesa no parque, dei um passo impulsivo na direção dela. Sonhei, sorri, e chorei. Lástima, uma lágrima de discernimento, chuva de autoconsciência pairando sobre minha cabeça e refrescando arduamente minha mente.

A vi olhar para mim, e presumi o motivo daquilo. Eu tão enlouquecido.

De certo estaria ela tão acostumada a me ver que correu em minha direção.

Certo de que ia me abraçar, e sentiria todo calor daquele corpinho de anjo junto ao meu, e quiçá o inferno queimaria minha alma antes mesmo que ela adentrasse em seus portões amaldiçoados. Repentinamente meus lábios ficaram molhados e minha respiração se aflorou intensamente.

Percebi o descontrole de meus poros, o suor atrevido e descabido saltando de meu corpo devasso, o ar quente e insensato circundando minha pele. Percebi o caos de meus pensamentos e perversões, enxerguei minha total insanidade.

Abri os braços, fechei os olhos e senti o paraíso me tocar gélido. Ela escapara de mim, passou rasante do meu lado e pulou no colo do pai. Abraçou-o com um calor incrível, caí em mim.

Vi-o girando-a no ar, o vestido de bailarina rodopiando ao bailar do vento, pairando no tempo e espaço, enquanto as imagens se repetiam em minha mente.

Dobrei meu jornal e passei por ela escutando o barulho das folhas quebrarem-se sob meus pés. Ainda esbarrei em seu pequeno corpo, propositalmente é claro, para sentir o êxtase de meus perversos sentimentos.

Aquilo causou uma revolução em meu sexo. Caminhei arfando em direção ao meu carro, sem jeito, sem cor, na palidez de meus propósitos tão obscuros, girei a ignição e rumei para casa, eu e minha estranha obsessão.

Fim!

De quem odeia a pedofilia, eis apenas mais um pouco de inspiração.

Deixo claro que odeio mesmo qualquer idiota que pense assim, mas enfim, achei um tema interessante para um conto, sem retratar abusos, apenas desejos, o que na verdade move a mente humana. Penso que há muitas pessoas por aí hoje em dia, bem do nosso lado que carregam esse tipo de sentimento, o que é realmente lastimante.

No mais agradeço pelas visitas e comentários!

Sejam sempre bem vindos!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 11/12/2012
Reeditado em 12/12/2012
Código do texto: T4030854
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