Terror no Fim do Mundo- segundo dia

Terror no Fim do Mundo- Segundo dia...

Jorge Linhaça

Felizmente minha geladeira tem o apelido carinhoso de “piscina” já que o que mais de acha lá dentro são garrafas de água.

A energia elétrica foi-se, mas ao menos a água não vai se estragar tão rapidamente.

A poeira negra cobriu a janela, é quase que impossível olhar lá fora, mas pelo que posso perceber as ruas estão desertas.

Tudo que ouço é o silêncio angustiante, sufocante, quebrado apenas quando alguma lufada de vento faz mover os sinos de vento da minha varanda.

Nenhum som de automóvel, de animais ou de presença humana se faz audível.

Imagino se mais alguém ao meu entorno sobreviveu, se estarão, como eu, recolhidos em suas casas, silenciosos, com medo de serem os únicos seres vivos sobre a face da terra.

Fiz um balanço dos meus mantimentos em casa e creio que poderei subsistir pelo espaço de uma semana, talvez um pouco mais se racionar a comida e a água.

Minha esperança é que nesse período a chuva venha e limpe, ao menos em parte, a maldita poeira, mas também não posso prever as consequências disso.

A angústia da solidão é terrível, nada de música, nada de filmes, somente os velhos livros para me distrair.

A ansiedade é enorme, ando pela casa em busca de coisas para fazer e ao mesmo tempo não encontro quase nenhum ânimo para fazer qualquer coisa.

O tempo escoa lentamente e o medo do desconhecido lá fora, infiltra-se em minhas veias num misto de força e impotência, numa terrível queda de braço entre a ação e a inação.

Resta-me resolver essa disputa interior, encontrar meu caminho para lidar com esta situação surreal que acometeu esta parte do mundo, ou quem sabe, todo ele.

Sentado aqui, escrevendo, alivio um pouco a pressão e a angústia que me sufoca a alma e procuro encontrar dentro de mim o pouco de razão que ainda consigo agrupar diante deste cenário apocalíptico.

Se acontecer o pior, ao menos se houver algum sobrevivente, talvez um dia encontre estes rabiscos e venha a saber quais foram os meus últimos passos sobre a face da terra.

Que venha logo a chuva...

Salvador, 19/12/2012.