A Visita Inesperada
Conto escrito a partir de um email e de um comentário da escritora Eliane Verica para o meu conto Eu e os Mortos. Falo das relações humanas,principalmente como ela se situa nos estados, onde vivem os descendentes de europeus, frios,calados e indiferentes aos vizinhos. Coisa bem diferente dos baianos e dos descendentes de italianos - que são fanfarrões, zuadentos,festivos,festeiros. Eu peço ao vizinho de cima uma caixa de fósforos por que esqueci de comprar. Ele, o vizinho:
- Que é "véi"? Tô vendo tv, que porra é essa?
- Quero uma caixa de fósforos, esqueci de comprar.
- Ó, praí, ó, porra, véi. Cida, ô Cida, sua "misera", CIDAAAA traz um "fosco", ai.CIDAAAAAA...
( Joga a caixa do andar de cima pela varanda-seguro-a no ar)
- Valeu.
- Não vai querer nada mais, não, não é?
( Na Bahia é assim,kkkkkk)
A cidade é uma selva de pedra,as grandes cidades com os seus monumentos sujos com o coco dos pombos. Os prédios imponentes. Em frente ao Mercado Modelo tem um monumento que mais parece uma grande suruba em praça pública. Mulheres nuas e homens nus em poses clássicas, desafiadoras-Sabe o nome do escultor? CHIRICO-um português supertalentosos que por aqui ficou,e fez muitas obras fenomenais-até a estátua de Castro Alves é dele. As pessoas passam sem observá-lo. Adoro as formas, a anatomia em bronze, perfeitas. Os pombos pousam nas cabeças ou nos ombros das estátuas. Eu passo apressado, de olho - adoro ver coisas sólidas que parecem invisíveis ao olho do povo - que seguem apressados, com as suas vidas pequenas. O Elevador Lacerda, imponente. Notado por ser badalado na mídia soteropolitana. Gosto de subir e descer por ele, que liga à praça Cayru à praça da Sé. Na praça da Mãozinha tem um monumento que é uma grande mão. Na praça Castro Alves tem uma estátua do poeta mais conhecido do país. Ali tem um prédio muito bonito, com uma arquitetura antiga. Adoro prédios assim - vai ser um hotel, ali foi a primeira sede do jornal A tarde. Ninguém observa suas linhas,a arquitetura de linhas arquitetônicas audaciosas,clássicas.
Longe de Salvador, do outro lado do Brasil.
Eliane estranhou, quando leves toques soaram à porta da frente. Estava sozinha naquela manhã. O seu marido havia saído mais cedo para o trabalho.
O homem estava um tanto pálido,parecia assustado.
- Bom-dia...
Ele falou, baixinho. Parecia cansado. Assemelhava-se, naquele momento a um dos muitos monumentos que ficam pelas praças das metrópolis, e ninguém observa. Sabe que existe, mas não notam, se quer sabem dos detalhes,ou do escultor que a fez.
- Eu o conheço?
Eliane, perguntou, insegura. Não era um assalto, o sujeito parecia mais ser um doente mental.
- Desculpe pelo cheiro pouco agradável das flores. Dormi coberto por elas.
Ele disse, um tanto sem graça ao notar na expressão facial da mulher, a denùncia de um cheiro desagradável,improvável.
- O que deseja senhor? Tenho pressa, vou para o trabalho. Estou tomando o meu café da manhã.
- Sempre a vejo sair para o trabalho, acho. Chega ás 22:00h da faculdade, não é ?
- Não...ja conclui o curso. Não estou entendendo. O que deseja?
- Quero so te desejar um bom-dia. Eu moro aqui perto, e...
- Não tenho tempo para ver os meus vizinhos.
- Sei disso, as pessoas vivem tão ocupadas que esquecem das relações sociais. Entendo, também, que o aumento da violência tenha desenvolvido um pânico social em todos. Vivemos enclausurados em nossas casas e em nós mesmos...
Para não passar por uma pessoa associável, Eliane resolve quebrar o gelo, de vez. O manteve fora de sua casa, encostou a porta e lhe trouxe o cafezinho que havia oferecido.
- Desculpe-me não convidá-lo para entrar, é que eu sou uma mulher casada e não fica bem. E, não nos conhecemos, mesmo que seja o meu vizinho. Agradeço a sua visita, tudo o que posso te oferecer é este cafezinho, se quiser biscoitos..e, é claro um bom-dia.
- Não, obrigado. Agradeço pelo bom-dia, nem sempre recebemos cumprimentos agradáveis. Eu somente queria dizer adeus.
- Adeus ou bom-dia?
- Não, não. Bom-dia eu te disse.
Ele falou, sorvendo o café, enquanto a olhava nos olhos. O olhar dela era de total insegurança. Parecia incomodada com a visita inesperada.
" Que louco esse aí. Será que está de olho em mim? Um tarado? Aguardou o meu marido sair..."
- Não, não se preocupe. Não estou de olho na senhora. Sempre fui um sujeito respeitador. Apesar de achá-la muito bonita. Tem mãos grandes e um olhar bem expressivo.Adoro as linhas angulares do seu rosto.Tem curvas sinuosas,perfeitas para um rosto de mulher.
- O QUÊ?
Disse, ela, com espanto. O sujeito havia lido o seu pensamento. Eliane havia interrompido o seu café-da-manhã e a leitura do conto" Eu e os Mortos". Depois de o ter lido, o comentou para o autor, Leônidas Grego, que está do outro lado do Brasil:
" Credo!!! me deu até medo, ainda mais que o meu vizinho morreu hoje."
- Adeus.
Ele, optemperou, interrompendo o seu silêncio.
- Não seria tchau?
Eliane, observou. Tomando a xicara de suas mãos.
- Não mais nos veremos.
- Então, ta..
Eliane Verica bateu a porta e voltou para à mesa das refeições, pensou:
" Seria mais uma do Leônidas...será? Não, pelo amor de Deus, ele mandou o meu vizinho que havia morrido me visitar"?
Ligou o note-book e foi procurar.Talvez,caso tivesse olhado no jornal de dias passado que se encontra ainda na casa,num canto qualquer encontrasse uma nota de falecimento-que lhe fosse familiar.