Escritor de Terror

“Tomando meu café forte e quente como de costume, eu escrevia o último capítulo do meu livro. Quase um ano dedicado à conclusão da obra, e agora eu sentia a alegria e orgulho do objetivo cumprido. Já tinha mandado alguns originais, mesmo antes de terminar, para serem analisados por diversas editoras, e para minha surpresa, obtive ótimos retornos. Não só uma, mas três se interessaram. Qual a probabilidade disso, hoje em dia?

Afirmo que, para se escrever uma boa obra, deve haver algum tipo de sentimento próprio nas palavras. Algo que você já sentiu, já presenciou... Mas não há nada melhor do que algo que você teme. Ah... O medo. O sentimento mais profundo do ser. Arrisco dizer, até mesmo mais profundo que o amor. O medo move as eras, desde os tempos das cavernas até hoje. O medo do fracasso, medo do mais forte, medo da morte... Medo do desconhecido... Um sentimento verdadeiramente fascinante.

Escrever terror e horror, pelo menos para mim, sempre foi algo bem pessoal. Escolher esse estilo de literatura agravou a insônia crônica que me abate; também as enxaquecas terríveis que me assolam, sem contar na minha discreta antissociabilidade, mas eu precisava extravasar o que estava dentro de mim. Sinto coisas estranhas, vejo coisas mais absurdas ainda. Sabe aquela nítida sensação que se tem, quando se é observado? Não necessariamente às suas costas, mas pode ser ao lado, até mesmo na sua frente, naquele canto escuro... Quando você vai ao banheiro ou beber água na cozinha.

Você simplesmente pode sentir isso, agora mesmo. Alguém de olho em você. Mas comigo, isso geralmente ocorre quando eu escrevo. Sim, quando estou concentrado, imaginando minhas criaturas bizarras e situações obscuras. Certa vez, confidenciei minhas sensações para um amigo. Ele, jocosamente, disse que eu era idiota o suficiente para ter medo das minhas próprias criações. Rimos juntos. Talvez eu seja mesmo esse débil homem medroso... Ou talvez não.

Eu sei quem me observa. Todos possuem seus medos interiores. Mas o meu tem forma, textura e cor, mesmo que tão pálida... Alguns me disseram que é o excesso de cafeína, ou a falta de sono. Mas a questão é simples: Eu não consigo dormir por causa dela, daquela mulher! Todos acham que eu a criei, pois escrevi sobre ela. Mas ela já existia, desde minha adolescência.

Você já viu algo... Estranho... E tentou descrever isso em uma folha de papel? Eu já. Escrevi um livro inteiro, esse que mencionei antes. Enquanto eu escrevia, sentia que ela estava lá. Curvada, atrás de mim, observando cada letra, sentindo meu cheiro, quase tocando em minha pele. Mesmo se eu estivesse de costas para uma parede, ela estaria lá; seja no escuro ou escondida atrás da porta, dentro do armário ou embaixo da cama. Medos infantis, talvez. Mas são bem reais. Eu não sei por qual motivo ela apareceu, mas desde então ela sempre está comigo.

Lembro-me da primeira vez que a vi. Acordei subitamente às três horas, sem algum motivo específico. Ela estava lá, de pé, no meu quarto. A cabeça inclinada, com longos cabelos. Seria uma bela mulher, não fossem seus olhos incomuns e extremamente esbugalhados, com aquele sorriso imenso e horripilante. Seu corpo era quase etéreo, mas eu podia ver as veias roxas em sua pele tão... Morta. Eu não me atrevo a procurar saber quem ela é, ou sua origem.

Mas ela se diverte com meu pavor, eu sei! Ela gosta quando sinto minha barriga gelar, quando eu sinto receio de ir até a cozinha escura, ou qualquer outro cômodo da casa. Ela gosta quando meu simples fechar de olhos traz sua imagem aterradora. Você consegue sentir o que eu sinto? Você poderia olhar para os lados, mas prefere olhar para frente, com medo do que sua visão possa revelar. Ou talvez tenha coragem suficiente para olhar, mas percebe que não há nada... O que não faz com que a sensação desapareça.

Acho que todos os escritores guardam algum segredo; uma inspiração secreta. Os segredos dos que escrevem terror, com certeza, são os mais macabros...

Enfim, em minha cama, viro-me para a parede, olhando a cor branca e as imperfeições de cimento. Mas em verdade, eu rezo todos os dias para que eu não escute um ‘boa noite’ antes de adormecer... Será que você também é observado antes de dormir?”

RRodriguez
Enviado por RRodriguez em 10/01/2013
Reeditado em 11/01/2013
Código do texto: T4078053
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