Testamento de um assassino
 
 Frederico olhou para o relógio, sorriu na direção das três pessoas que estavam sentadas á sua frente e então abriu a sobrecarta lacrada que jazia em suas mãos.

Enquanto o som arranhado do papel rasgando-se chegava á seus ouvidos, lembrou-se da fortuna que receberia para ler aquele testamento, o dinheiro estava retido no banco aguardando apenas que ele cumprisse aquela tarefa. Imaginou no que aquele dinheiro impactaria na criação de suas recém nascidas filhas, Bianca e Gisele, pensou também no quanto sua esposa ficaria contente ao saber que ele já havia comprado as passagens para fazerem uma visita à pequena cidade onde sua sogra morava, e feliz, mas com um semblante sério devido a situação, iniciou a leitura.
 
Inicio a leitura do Testamento do Sr. Victor Augusto
 
 - Bem, então é isso, estou morto - leu aquilo com certo prazer, afinal ganharia o que lhe era prometido graças aquela trágica noticia - Mas a morte sempre chega, e isso é fato. Enganam-se os que acreditam que ela pode mesmo ser enganada. Até mesmo os deuses morrem, quando o homem perde sua fé, portanto assim a morte chega até mesmo para aqueles que a conduzem. Ela chegou para mim, e agradeço por isso, pois nunca quis matar ninguém, mas acabei me acostumando com essa maldita rotina, e tomando gosto pelo derramamento de sangue inocente. Fugi por anos, me escondi, enquanto a noite era minha aliada e o dia meu esconderijo. A policia me caçou por anos, me tinham como um Serial Killer, sempre foram um bando de tolos. E quando eles chegavam perto demais eu fugia com toda minha família... Com vocês. Minha assinatura fazia com que tudo ficasse mais aterrorizante, mais surreal. Toda minha riqueza, meus bens, tudo fruto desse caos... Cofres, pratarias, jóias, eu lhes furtava tudo. Seduzia suas mulheres e depois as matava, cedia-lhes um único beijo de despedida, dava-lhes as costas e partia enquanto seus corpos sem vida eram deixados ao chão. Assassinava seus filhos, e o que era mais estranho e aterrorizador, era que o quanto mais novos eles fossem, mais me davam desejo, mais eram convidativos. Talvez porque esbanjassem vida, porque eram mais puros, mais ingênuos. Tornei-me um assassino sádico e cruel e mesmo que por todo esse tempo, lutasse contra isso, não consegui vencer minha sede. Eu queria matar, queria me alimentar disso tudo, meu corpo pedia mais e mais, e minha mente me obrigava a agir enquanto que meu vicio me tornava insano, frio e calculista. Caçava minhas vitimas, analisava suas vidas, matei famílias inteiras, crianças, adultos, recém nascidos e idosos acamados. Eu matava qualquer um. Só de sentir o medo de cada um deles, encolhidos como ratos fugindo de um gato selvagem, rápido e letal, eu me excitava. E a ansiedade por ver o sangue derramado me dominava ainda mais - Frederico fez uma misera pausa, aquela leitura mórbida, aquela confissão o deixara completamente assustado. Afinal os filhos de Victor estavam recebendo uma noticia aterrorizante, mas ele continuou - podia ouvir seus corações batendo, sentir sua respiração, podia ouvir suas mentes sussurrando, implorando pelas suas vidas medíocres. E era aí que eu atacava. Nunca acreditei que isso duraria para sempre, e por isso pedi ao pai de Frederico que lê-se isso para mim se esse dia chegasse, mas o tempo passou e a tarefa foi passada para ele, que de certo está lendo agora com um semblante menos feliz do que de quanto havia começado a ler este testamento. Estabeleci algumas exigências, como por exemplo; que o fizesse em nossa casa, às de 23h50min, e que cada um de vocês, Robert, Débora e Victória estivessem presentes. Meus três filhos... Minhas três crianças. É uma pena que suas mães não puderam viver para estar com vocês agora. Ambas eram perfeitas, mas foram muito importantes para mim e principalmente para vocês. E agora lhes deixo a única herança que importa para que continuem a viver sem meu auxilio. Com minha morte vocês devem se virar sozinhos. Eu Victor Augusto III, sob as badalas desse relógio, repasso minha imortalidade, meu dom e minha maldição para meus três filhos, Robert de quinze anos, Débora de onze e Victória de seis, que principiaram corretamente seu ritual de iniciação ao sugarem cada gota do sangue de suas mães mordendo-lhes o peito e sorvendo seu sangue vorazmente. – Frederico lia tudo, mas agora tremia e talvez por esse mesmo medo ele tenha lido aquela ultima linha. – Agora lhes entrego a vida desse homem e de sua família para que iniciem sua jornada. – Frederico leu este ultimo pedaço num impulso, seus peito sentiu seu coração pulsando descompassado e então ele olhou para as três crianças que se levantavam ameaçando caminhar em sua direção, os olhos delas envenenados pela sede por seu sangue, estreitaram-se enquanto suas faces mudaram assustadoramente. Os dentes das crianças cresciam bisonhamente e suas unhas transformavam-se em garras pontiagudas e enormes. Frederico lembrou-se de suas filhas e suplicou em vão pela vida de sua família. As três criaturas avançaram com uma agilidade sobrenatural, e ainda inexperientes atacaram-lhe arrancando sua pele, enquanto parte de seu sangue derramava-se pelo chão. Frederico gritava angustiantemente, mas o silencio veio logo que Robert cravou suas presas no pescoço dele e em um beijo mortal sugou a maior parte de seu sangue, enquanto Victória e Débora se alimentavam das sobras que escorriam por seu corpo já mutilado, lambendo e mordendo-o depravadamente. Frederico caiu inerte no chão, seco e sem vida. Eles entreolharam-se e então Débora choramingou.
 
 - Ainda tenho fome!
 
 - Não se preocupe querida, um banquete nos espera. – Disse Victória passando a língua ao redor de seus lábios vermelhos de sangue.
 
  Eles então deram as mãos e saltaram pela janela, rumando para seu destino sob as badaladas da meia noite e o som do bater das enormes asas de morcego que brotaram de suas costelas.

Fim!

Sejam sempre bem vindos!
 
 
 
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 22/01/2013
Reeditado em 23/01/2013
Código do texto: T4098832
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