Noite Sangrenta

I

Daniel corria o mais rápido que podia, suas coxas grossas encostavam uma na outra a cada passo. O gordo rapaz olhava para trás a todo instante, não lembrava de ter corrido tão rápido assim alguma vez na vida.

O suor já tinha encharcado a camisa ao passo de que a adrenalina e o medo tomavam conta do coração. Foi só quando virou em uma esquina que o cansado menino deu de cara com o seu perseguidor.

Não entendia como aquilo poderia ter chegado lá antes dele. "Eu corri tanto.." pensava, enquanto tentava dar a volta, acabou caindo e foi acometido por diversos golpes.

O sangue esguichava.

II

-Foi o terceiro corpo esse mês, cara. Eu já tou ficando com medo dessa lenda.Dizia Rayan, um jovem policial que havia sido transferido para o departamento de homicídios a pouco tempo.

-Desse.

-Hã?

-Desse, é uma pessoa. Dizia João. O tom de voz do detetive era grave e alto, passava um certo ar de superioridade.

-Cara, você viu os corpos? Estão estraçalhados!

-E foi feito por um humano, pode ter utilizado facas ou algo do tipo.. Mas ele sempre comete os crimes por aqui pelo bairro da Glória.

-Até que faz sentido.. Mas quem faria isso com alguém?

-Não sei. O ar de superioridade não era mais sentido nessas palavras, em seu lugar uma certa insegurança e tristeza era notada.

Apesar de possuir apenas trinta e dois anos de idade, Julio já era detetive a mais de sete. Quando mais novo foi considerado um prodígio na arte de investigar, também se dedicava bastante as artes marciais.Diziam que ninguém jamais conseguiu fugir de suas abordagens.

Apesar de possuir sucesso astronômico no meio profissional, era muito recluso. Poucas pessoas sabiam mas o motivo do afastamento era bem mais complexo do que simples arrogância ou prepotência.

Quando fez vinte e cinco anos o detetive conheceu uma mulher e logo estavam casados. Zeni era uma escritora de crônicas para jornais, apesar de possuir apenas vinte e sete anos, era considerada uma das maiores cronistas do Brasil.

A vida do casal era comum, todos os dias ele saia de casa pela manhã e chegava somente à noite, sendo recebido com sorrisos e beijos carinhosos.Essa rotina perdurou por dois meses até que a tragédia aconteceu.

Certo dia a mulher simplesmente apareceu morta em casa, deitada na cama. Seu estômago estava aberto e os órgãos enfeitavam o cochão ao passo de que o sangue tingia o chão de um vermelho macabro.

O cheiro era de morte.

O marido ainda foi indiciado mas não haviam provas concretas de que ele fosse o assassino, além disso não existiam motivos plausíveis para que ele matasse a mulher amada.Quando foi absolvido, jurou que iria encontrar o culpado.

-Senhor, posso perguntar uma coisa? Perguntava o jovem policial.

-Diga.

-Porque resolveu ficar com este caso? Dizem que só o senhor se candidatou pra assumir.

-Porque a mesma pessoa que matou esse homem, também matou minha mulher. Dizia Julio, enquanto girava os calcanhares e começava a caminhar em direção ao seu Carro.

Acelerou o mustang pelas ruas pavimentadas de Osasko e só freou quando encontrou um bar. Bebia todas as noites, ingeria álcool para tentar afogar as mágoas e as lembranças do passado.

-Eu quero uma garrafa de Vodka. Vá enchendo meu copo conforme eu for bebendo.

Quando Zeni morreu, levou consigo a filha do casal. Andreza ainda estava no terceiro mês de vida quando foi acometida pela atrocidade que acabou levando embora a vida da mãe.O feto nunca foi encontrado.

No dia seguinte a tragédia familiar a manchete dos jornais eram unamidade “O Urso de Punta Del Leste ataca mais uma vez”. Urso, era assim que todos chamavam a criatura que atacava humanos nas redondezas da cidade.

Já haviam sido dezessete mortes e todos os corpos tinham sido estraçalhados. Muitos blogs e progamas de TV aproveitavam as ocasiões para espalhar a lenda de que a cidade havia sido construída em cima de uma floresta e que agora os animais estavam vindo se vingar.”Baboseira” era o que pensava o rapaz, enquanto bebia mais uma dose.

Quando a garrafa secou, pagou a conta e saiu do bar cambaleando. Foi só quando colocou a chave na porta do carro que o assalto foi anunciado.

-PASSA TUDO, PASSA TUDO!

O detetive se virou calmamente e encarou o rapaz. Pela fisionomia não parecia ter mais de quinze anos, o desespero estava estampado no seu rosto.

-Você tá me assaltando, rapaz?

-ENTENDEU AINDA NÃO, COROA? ME DÁ LOGO A GRANA SE NÃO..

-Se não, o que? Se precisa de ajuda.. eu posso te ajudar.O tom de voz era calmo e sereno, os olhos estavam fixos no menino a sua frente.

-MERMÃO, TÁ PENSANDO O QUE? EU VOU ATIRAR EM VOCÊ SE NÃO PASSAR A GRANA.

-Eu estou pensando que você não vai pra casa hoje. Disse, antes de pousar a mão no pescoço a sua frente e começar a arranhar o mesmo.

Os pelos de seu corpo começaram a se multiplicar ao passo de que os músculos de seu corpo começaram a se expandir, as feições caninas vieram logo depois. A transformação estava completa em questão de segundos.

O lobisomem estava livre.

A primeira mordida foi a mais prazerosa, a sensação do sangue esguichando em sua boca junto aos gritos da vítima eram quase como ópera para os seus ouvidos. Depois da terceira ou quarta dentada, o corpo já estava sem sangue e os ossos já não eram mais apetitosos.

Largou o cadáver no chão e avançou em direção aos becos. Lembranças do momento em que matou sua família começaram a passar como um filme em sua cabeça..

Lembrou dela na cama com outro homem, lembrou de como comeu o homem até não sobrar mais vestígio dele.

Lembrou de tudo isso e começou a sentir raiva, muita raiva. Mas não iria demorar para tudo passar. Assim que a bela lua fosse embora, ela levaria consigo as lembranças e a fome por matar.

Aquela noite seria sangrenta.

FIM

Mais um conto feito no Desafio da Madrugada. Uma hora de duração para a produção. Dessa vez o escritor Felipe Ts me sugeriu o tema: Um policial lobisomem!(Demorei porque nunca tinha escrito sobre um lobisomem, fiquei meio sem inspiração haha).

Comentem e não esqueçam de conferir o conto do TS! Abraços!

Rayan Fernandes
Enviado por Rayan Fernandes em 28/01/2013
Reeditado em 29/01/2013
Código do texto: T4109138
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