Lilica Tonelada.

Na vila Lilica, com onze anos para doze era a sensação.
Paquerada pelos jovens, assediada pelos velhos era a artista local.
Seu corpo esbelto só perdia para seu rosto angelical.
Morena clara, jambo, olhos amendoados, parecia oriental, boca linda dentes perfeitos e aquele sorriso em lábios de mel.
Acho que a noite povoava o sonho de moços e velhos.
Que a olhavam como lobos que vêem o cordeiro.
Secretamente havia um rapaz que gozava de sua simpatia.
Mas nunca ousou e os poucos carinhos mais ousados foram repelidos com violência.
Quando terminou o primeiro grau deixou de estudar.
A família paupérrima precisava de seu salário para subsistir.
Ela só tinha a mãe e o pai era tão doente, sendo que a mãe fazendo trabalhos domésticos (diarista) sustentava a família.
Como os remédios que o pai precisava tomar consumia o pouco que a mãe ganhava, resolveu procurar emprego.
Na primeira empresa foi aceita, embora não fosse a melhor nos testes, foi escolhida a dedo pelos chefes e pelo patrão, para ser a nova auxiliar de escritório.
Seu trabalho era quase nenhum, pois, todos faziam de tudo para deixá-la feliz.
Elogios e cantadas até de mulheres e do patrão.
A todos educadamente repelia.
Em um final de semana que normalmente os funcionários folgam, Lilica foi escalada.
Curiosamente só foram trabalhar, o patrão e dois diretores.
O assédio começou de manhã, pois ela por determinação fez café e serviu a eles.
Aí começaram com piadinhas e foram ficando ousados, com a assistência e participação dele.
Sua sala foi trancada e o escritório virou palco de barbárie, suas roupas foram rasgadas e quanto mais chorava e implorava parece que aumentava a sanha dos tarados.
Um a um começando pelo patrão todos se locupletaram de carne nova e virgem.
Lilica ficou caída no carpete felpudo da sala e todos gargalhavam saciados.
Com eles, não haveria problema algum, pois ela era igual a um zero, e eles conceituados cidadãos.
Entre as gostosas gargalhadas, algo aconteceu,... as lágrimas de Lilica secaram, do fundo de seu ser saiu um grito agudo, de alguém que se liberta.
Atônitos viram a moça ensangüentada se por de pé, parece que ficara velha, de seus doze para treze anos, agora parecia trinta ou mais. Seus lábios cerrados ficaram um risco, com as sobrancelhas arqueadas, e um olhar de maldade que assustou os canalhas.
Na parede da diretoria havia um tapete de veludo vermelho e nele estavam penduradas armas da idade média.
Com uma agilidade felina agarrou uma espada e transpassou o primeiro que já corria para a porta.
Pareciam criancinhas no parque quando perdem a mãe, choravam e gritavam.
Lilica decepou braços, pernas e cabeças.
Depois cortou a genitália de todos e colocou sobre a mesa do presidente.
Como uma criança que brinca com bonecas, pegava a parte de um e colocava no outro, depois as enfileirou no tapete, pregando seus pedaços com punhais e espadas.
Seu rosto não tinha mais raiva, só que sem sentimento também não tinha dó.
Na segunda feira foi arrombada a porta e encontrada a cena tétrica, sendo que Lilica ainda nua e ensangüentada, estava na cadeira do presidente.
Pela influencia do dinheiro que era muito grande, a história nos jornais foi esta.
Ladrões invadem empresa e matam todos.
Só sobrou a secretária que mesmo sendo estuprada, não morreu por sorte.
A família do empresário se propôs a dar um salário vitalício à família da secretária, que infelizmente ficou louca após a barbárie.
Lilica presa.
Ao chegar no manicômio, Lilica sofreu novos abusos, enfermeiros, médicos se aproveitaram dela.
Mais uma vez ela voltou a atacar e todos pagaram caro, pois Lilica sabia usar um bisturi como ninguém, melhor que renomado médico. Só que depois de matá-los, ela pegava a orelha do médico e colocava no enfermeiro e a mão do enfermeiro trocou pela do médico.
A cena não fosse macabra seria hilária.
Ela brincava de boneca com os cadáveres.
Desta vez a colocaram numa cela forte ficando incomunicável.
Mas seu ar infantil, e aquele corpaço, o carcereiro resolve tirar uma casquinha.
Ela estava tão dócil que ele tirou-lhe a camisa de força e levou-a para a carceragem.
Desta vez ela não tinha armas, mas o cinto do carcereiro e a fivela fizeram um trabalho tão bom quanto uma faca.
Desta vez foi mandada para uma cadeia mesmo.
Como ninguém brigava com ela, começou a comer em demasia.
De seus sessenta quilos foi ganhando peso até chegar aos cento e setenta.
Ela era chefe de sela e todas tinham que repartir a comida com ela.
Sabendo ser seu rosto um dos motivos de seu infortúnio, desfigurou-se.
Seu corpo que era assediado ela o deformou comendo em demasia.
Foi explorada pela imprensa e ficou famosa saindo em todos os jornais como a famigerada Lilica Tonelada.
Depois de viver alguns anos em violência matou mais algumas colegas de cela.
Um belo dia se converteu e virou budista.
Saiu na condicional e dedicou-se a cuidar de crianças tetraplégicas, terminou seus dias como monja.
Seu nome era Maria, as crianças a amavam e ela os tinha como filhos extremados.
Nas épocas de hoje após sua conversão se comparada seria como Madre Tereza de Calcutá ou outras anônimas que fazem tão boas ações por aí anonimamente.
Curiosamente seu tipo era franzino pouco mais de quarenta quilos, seu rosto quase feio, de cabeça raspada, só não o era pela bondade que emanava dele como uma santa.
Não temos notícia de ter conhecido Dalai Lama, acho que ele era muito jovem nessa época.
Na nossa vida um acontecimento ou fato pode dar uma guinada de 360 graus.
A Lilica pobrezinha, poderia ter se casado e tido vários filhos sendo uma dona de casa desconhecida, como acontece com pessoas normais.
Mas basta um Start para mudar a vida de qualquer um.

Machado
Veneno de Cobra.





 
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 31/01/2013
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