Erro Fatal

I

Rafael acordou lentamente, o som dos carros passando na rua o forçou a abrir os olhos. Ainda cedeu a preguiça por alguns minutos antes de levantar e seguir até a janela,assim que colocou os pés no chão sentiu um frescor.O piso molhado foi o suficiente para que ficasse surpreso. Afinal, não tinha escutado barulho de chuva.

O homem de vinte e sete anos possuía uma aparência comum, cabelos pretos e curtos faziam contraste com os olhos castanhos claros. Usava óculos e seu físico era típico de quem passava os fins de semana bebendo, barriga avantajada e membros finos.Apesar desses detalhes, era possível perceber uma certa beleza no rosto do rapaz.

Trabalhava como policial mas havia acabado de passar em um concurso para delegado, desde então assumiu uma postura mais rígida e séria, era preciso abandonar aquela imagem de brincalhão e fanfarrão.

Estava seguindo em direção ao interruptor quando percebeu um vazio incomum na sua cama, imediatamente se deu conta de que sua esposa não estava ali, acendeu a luz e viu manchas de sangue por todo o quarto. O sangue misturava-se a água, temperando o piso quase por completo.

O desespero tomou conta de seu corpo.

Saiu do quarto correndo e desceu as escadas em velocidade. Gritava o nome da mulher enquanto abria as portas de todos os cômodos possíveis.

O medo lhe impedia de pensar em outra coisa a não ser na sua esposa. Haviam casado a apenas dois meses e estavam planejando a lua de mel.Rafael pensava em ir para Paris, desde que havia passado no concurso de delegado sua renda mensal havia melhorado bastante.Mesmo com dinheiro de sobra, Mariana insistia em fazer uma viagem simples, sempre citava praias perto da cidade.

Ela tinha olhos claros e cabelos negros como a noite, seu rosto angelical completava o corpo escultural. Apesar de todos esses atributos físicos era dotada de uma personalidade meiga e doce.Tinha apenas vinte e um anos mas já era uma ótima dona de casa, realizava todas as atividades do lar com muita dedicação.

Depois de abrir todas as portas do térreo, o homem percebeu que só havia mais um lugar para procurar. Caminhou em direção ao alçapão lentamente, estava com medo do que poderia encontrar.Quando chegou até entrada, abaixou-se e segurou no ferro que servia de maçaneta.

Abriu e desceu a escadas.

O coração pulsando ardentemente.

II

Márcio havia acabado de sair do restaurante, cambaleava em direção ao estacionamento, procurando seu carro. As primeiras duas cervejas serviram apenas de aperitivo, as últimas doze foram o prato principal da noite.

Quando chegou perto do carro, meteu a mão no bolso e procurou as chaves. Foi só depois de muito tempo que conseguiu entrar no veículo e acelerar, começou indo devagar mas logo estava ziguezagueando pelas ruas em alta velocidade.

Pensava em tudo de ruim que tinha acontecido na sua vida. Havia perdido o emprego de vendedor a pouco tempo.Com pressa para cumprir o prazo acabou entregando uma encomenda no lugar errado e sua punição foi ser demitido por justa causa.

Além disso, seu casamento estava bastante problemático. Júlia sempre reclamava quando ele chegava tarde e isso acabava causando brigas, não demorou muito para que os embates físicos virassem rotina. A demissão serviu como ingrediente final para a separação.

Estava sozinho.

Quando girou o volante e entrou em uma rua, percebeu que ali não havia saída. Moveu a mão direita até a marcha e a puxou para trás, assim que engatou a ré e começou a se deslocar, percebeu que havia cometido um erro.

O som dos gritos só foi menor que o da batida.

III

O lugar era escuro e úmido, Rafael gritava o nome da sua esposa cada vez mais alto. Tentava afastar o medo com a voz, não estava conseguindo.

Quando chegou no último degrau, tateou as paredes em busca de um interruptor.

Assim que sentiu suas mãos tocarem em algo, moveu uma pequena alavanca com os dedos, imediatamente uma lâmpada foi acesa no meio do recinto. A luz era fraca e não iluminava mais do que dois metros de diâmetro, mas foi o bastante para que o homem pudesse ver um corpo pendurado por uma corda.

O de Marina estava terrivelmente ferido, furos e hematomas espalhavam-se pela região do tórax e a cabeça estava girada para trás. Quando chegou perto da sua esposa, o rapaz não esboçou outra reação se não a de se ajoelhar e gritar.

Já estava gritando a cerca de dois minutos, sua cabeça pensava nos motivos que sua mulher poderia ter para se suicidar, pensava no porque dela estar tão ferida. Seus devaneios foram interrompidos quando a defunta começou a se mexer, a cabeça voltou ao normal e o braço direito apontou em uma direção.

Rafael foi tomado pelo medo, levantou rapidamente e começou a correr. Suas pernas trabalhavam em um ritmo fora do comum, tentavam sair do local o mais rápido possível mas acabaram tropeçando em algum objeto qualquer.

Bateu a cabeça no chão e, quando tentou se levantar, percebeu que estava em outro local.. Parecia o banheiro da sua casa.Antes que pudesse pensar em sair dali, escutou um som vindo de dentro da banheira, parecia o choro de uma criança.

Quando chegou perto do compartimento, percebeu que ali dentro estava um bebe. O recém nascido chorava e esperneava, água adentrava por sua boca e nariz.

Quando ele moveu as mãos em direção à banheira, seus braços foram impedidos de pegar o bebe. Parecia que uma espécie de barreira invisível estava bloqueando a passagem.

Tudo o que pode fazer foi olhar a criança ficar azulada e morrer.

Estava prestes a se suicidar, sua mente estava sendo invadida por imagens de acidentes, mutilação e morte.

Pulou pela janela...

Rafael acordou gritando, olhou para o relógio percebeu que já era manhã. Levantou vagarosamente e seguiu em direção ao banheiro, tomou uma ducha e vestiu um terno.

O julgamento estava próximo.

IV

Assim que entrou no salão, Marcio avistou seu advogado. Era um iniciante que o governo havia designado para lhe defender.”Colocaram um inexperiente contra o leão que é aquele do delegado”Era o que pensava.

Sentou-se na cadeira de Réu e aguardou o julgamento. A sessão foi breve, e o júri popular acabou proferindo uma sentença mais grave do que a que ele poderia esperar.

-Com o poder investido a mim pelo estado da Califórnia, declaro o senhor Márcio Azevedo culpado pelo crime de atropelamento da senhora Mariana Alves, esposa do delegado federal Rafael Alves. Sua punição será a cadeira elétrica e a sentença será cumprida daqui a dois meses.

O assassino seguiu o corredor silenciosamente, de algum lugar escutou alguém gritando que a mulher estava grávida de quatro meses.

“Eu só estava bêbado”

FIM

Rayan Fernandes
Enviado por Rayan Fernandes em 10/02/2013
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