Açougueiro Maldito -DTRL

O Vectra adentrou na rua vagarosamente, pela maneira como se movia dava para perceber que procurava algum lugar. Depois de alguns minutos, parou no fim da avenida pouco movimentada.Patos não era uma cidade grande, apresentava um caráter rural que poucas tem hoje em dia.

Mesmo sendo pequeno, o município era dotado de grande desenvolvimento urbano. Diferente das outras, Patos conseguia realizar uma urbanização sustentável, logo em todas as ruas era possível ver árvores e praças arborizadas ao passo de que maioria das residências possuía seus próprios poços e placas de captação de energia solar.

A vida ali era tranquila.

Quando Daniel saiu do carro, caminhou pela grama e parou diante do portão da frente da mansão. Olhou para os lados e observou a residência por alguns momentos. O casarão era grande e completamente pintado de branco, era rodeada por um jardim mal cuidado e por diversas árvores.”Ótimo para piqueniques”, era o que pensava.

Girou a maçaneta e entrou.

Nada do que se encontrava lá fora denunciava o que o rapaz encontraria no interior da casa. Pelo estado do jardim, achou que iria se deparar com uma casa mal cuidada e com defeitos, mas a realidade era bem diferente.

O piso de madeira estava impecavelmente limpo ao passo de que duas grandes escadas davam acesso ao andar superior. Bastou uma olhada para que ele percebesse que quase tudo ali era de mármore ou de outros materiais ainda mais caros.”Ainda não entendi o porque dessa casa ser tão barata”

Seus devaneios só foram interrompidos quando escutou um ranger atrás de si, virou o copo na direção do som e viu um homem entrar na sala. Seu João era um dos poucos corretores da cidade, estava sempre vestido de ternos pretos e seu semblante era sorridente.Uma pessoa que todos gostavam

-Ah, você deve ser o Daniel. Desculpe pelo atraso, tive alguns imprevistos.Dizia , enquanto estendia a mão.

-Quem limpou a casa?A única coisa que Daniel conseguia pensar era em como o local estava limpo, parecia que era habitado.

-Ah, o jardineiro sempre limpou aqui. Não sei bem o porque disso, mas ele sempre limpou.

-Hm.. Entendo. Escute, o preço é o mesmo que nós combinamos? Daniel estava com o tom de voz rude, não gostava daquele sorriso estampado no rosto do corretor. ”Eles são todos falsos”

-Sim, é claro! Dei minha palavra de que a casa seria sua pelos cento e vinte mil. Algum problema com isso? O sorriso já não podia mais ser visto, dava lugar a uma certa insegurança.

-É que eu achei estranho, quer dizer.. Essa casa é uma mansão.E está tudo bem organizado..

-Ah, não se preocupe. Não vai encontrar nenhum defeito aqui.

Depois de mostrar a casa, o corretor foi embora e deixou o cliente sozinho. O rapaz de vinte e cinco nos havia acabado de ser promovido a editor chefe de uma pequena editora.Tinha cabelos longos penteados em um moicano, as laterais raspadas lhe davam um ar de jovem rebelde.

Junto à exuberância capilar, as roupas pretas e as correntes de prata o faziam ser confundido com um roqueiro sempre que passava pelas ruas. Os olhares preconceituosos não influenciavam a vida do rapaz, mas com o tempo as coisas se tornaram cada vez mais perigosas.

Certa vez chegou a ser agredido por um grupo de garotos que passavam de bicicleta no seu bairro antigo. O evento foi o bastante para que ele decidisse se mudar, pegou as economias e comprou uma casa na cidade vizinha.

Quando estava pesquisando na internet, acabou encontrando uma mansão a venda por apenas cento e vinte mil. Achou que se tratava de uma brincadeira, mas ligou para o corretor e terminou acertando os detalhes da compra.

Quando subiu as escadas, o rapaz se deu conta que a mansão era bem maior do que ele havia imaginado. Três quartos ocupavam o andar superior, todos eram mobiliados com madeira antiga, os móveis pareciam ser de décadas passadas.Apesar da idade, os objetos ainda mantinham um bom estado de conserva.

Daniel acabou entrando no quarto maior, observou melhor o recinto e percebeu que ali havia uma suíte. O banheiro seguia o estilo de decoração do resto da casa, rústico mais belo.”Deve dar trabalho limpar tudo isso aqui” era o que pensava, enquanto deitava-se na cama e dormia.

O pesadelo seguinte foi agonizante.

No sonho ele estava correndo em um beco escuro, não entendia o porquê de estar fazendo isso, só sabia que precisava correr. Depois de alguns minutos de puro suor, olhou para trás e percebeu que estava sendo seguido por um homem de máscara.

O mascarado carregava uma serra elétrica, mas mesmo assim era mais rápido que sua vítima. Seus passos emitiam um som estranho, parecia que seu peso era absurdamente enorme.

O equipamento estava ligado e parecia estender-se até alcançar o rapaz. Daniel só pode gritar quando sentiu o ferro adentrando sua pele, conseguia sentir os músculos serem dilacerados e os ossos cortados.

Acordou gritando e suado, olhou pela janela e percebeu que já era noite. Decidiu tomar um banho antes de sair de casa.A ducha revelou-se um verdadeiro calmante e logo ele estava saindo pela porta da frente da casa.

Entrou no carro e começou a procurar por um restaurante. Cerca de cinco minutos depois estava sentado em uma mesa, tomando uma cerveja e aguardando o jantar.Tinha pedido macarrão com queijo.

Quando a comida chegou, começou a saborear o queijo antes de tudo. Gostava de queijo, uma das poucas coisas que comprava para se alimentar em casa era queijo.Quilos e quilos lotavam seus armários todos os meses.

O editor costumava fazer suas refeições em restaurantes ou bares, não era casado e nem sabia cozinhar. Certa vez um amigo lhe sugeriu que contratasse uma empregada para realizar as atividades do lar, mas ele não gostava da ideia de ter alguém dentro de casa enquanto estava sozinho.

A verdade é que Daniel havia sofrido um trauma na infância. O conturbado divórcio dos pais acabaram o afastando de relacionamentos duradouros, não conseguia conviver com nenhuma mulher durante muito tempo.Mesmo que fosse apenas uma empregada.

Estava quase terminando o prato quando percebeu que uma pessoa estava lhe encarando. O homem tinha barba e cabelos longos e sujos, suas roupas estavam rasgadas e apresentavam manchas de terra.

-Algum problema, senhor?Perguntou o jovem.

-Foi você que comprou a casa do Rodriguez?Respondeu o senhor, enquanto levantava de sua mesa e sentava-se na do rapaz. Exalava o cheiro de terra e estrume.

-Sim. Algum problema?

-Você não deveria ter feito isso.

-Hm?Daniel não estava gostando daquilo, achava que o velho estava louco.

-Você não devia ter feito isso, ninguém pode ir lá. Só eu.

-E você, quem é?O tom de voz já estava elevado, a irritação era notada na voz do garoto.

-O jardineiro.

-Escute obrigado pelos seus serviços. Acredito que isso aqui paga o seu trabalho lá dentro da casa..mas eu não quero mais você por lá, entendeu?.Dizia o editor, enquanto levantava-se e retirava da carteira duas notas de cem reais, já colocando-as na mesa.

Logo em seguida foi até o balcão e pagou a conta. Entrou no carro e seguiu para sua nova casa, pensando no velho e rezando para não ter mais pesadelos.

II

A noite correu tranquila e Daniel acordou quando os primeiros raios de sol invadiram seu quarto. Havia decidido se mudar para o quarto menor, o pesadelo com o mascarado o tinha metido medo.

Depois de tomar banho e vestir roupas simples, desceu as escadas em direção à porta. Já estava quase saindo quando escutou um barulho estranho, o som parecia vim de baixo do piso.

-Tem alguém ai?Perguntou o medo evidente na sua voz.

Como não obteve resposta, achou que tudo tinha sido fruto de sua imaginação. Foi até a esquina e tomou um café no restaurante onde havia jantado na noite anterior.Foi só quando estava indo para casa que encontrou o jardineiro novamente.

Desta vez o senhor estava cuidando do jardim da casa vizinha, mas proferiu um olhar penetrante quando Daniel desceu do carro e entrou na casa. ”Cara mais estranho” era o que pensava o menino.

Quando entrou na casa novamente, escutou o barulho de novo. Dessa vez o som parecia ser mais forte, decidiu seguir o estrondo.Caminhou por alguns momentos e logo estava diante da porta do porão.

O medo e a insegurança o fizeram desistir de entrar no andar de baixo. ”São só uns ratos” era como tentava se acalmar.

O resto do dia foi bastante calmo, leu durante toda a tarde. Estava editando um livro de um escritor novo, o jovem Rayan Fernandes tinha muito futuro como escritor de terror.

-Só não entendo porque ele quer ser chamado de Graco Taylor, que nome mais chulé. Falava sozinho.

Quando a noite chegou, o rapaz tomou outro banho e seguiu novamente em direção ao restaurante. Foi a pé, estava precisando estirar as pernas depois de passar o dia inteiro sentado.Assim que entrou no estabelecimento percebeu que todas as mesas estavam lotadas, decidiu comer no balcão.

Pediu o macarrão com queijo habitual junto com uma cerveja. Quando o barmen lhe entregou o pedido iniciou uma conversa estranha.

-Você sabe o que aconteceu lá naquela casa, não é?

-Hm?O queijo estava quente e por isso não emitiu resposta, apenas balançou a cabeça negativamente.

-Há cerca de um ano atrás um homem morava lá com a família, ele era um açougueiro famoso por aqui. Tinha uma vida boa, mas alguns dizem que ele foi possuído, eu acho que ele ficou louco.O fato é que ele esquartejou toda a família.

-Sério?O tom de voz do cliente era irônico, mas de repente seu semblante mudou. Uma espécie de choque de realidade passou por sua cabeça...”Por isso a casa foi tão barata”

-Bem, acredite se quiser.. mas dizem que o espírito dele assombra a casa.

-E ele morreu?

-Ninguém sabe, ninguém nunca encontrou ele..

Depois de pagar a conta, Daniel seguiu para casa caminhando lentamente. Havia se arrependido de ter vindo a pé, a rua estava vazia e uma pequena névoa começava a se formar no local.

Sussurros podiam ser ouvidos.

-Estou ficando louco. Dizia, enquanto abria a porta da frente e entrava em casa.Novamente escutou sons vindo do porão.O álcool e a curiosidade lhe deram coragem para seguir até o alçapão e abrir o mesmo.

Assim que o compartimento foi aberto, um odor invadiu toda a residência. O cheiro de morte era agonizante.

Começou a descer as escadas lentamente, os sons se tornando cada vez mais nítidos e altos. Eram lamentos humanos.

Quando chegou no último degrau já não enxergava mais nada, tateou as paredes em busca de um interruptor. Quando acendeu a luz, teve um dos maiores sustos da sua vida.

Na sua frente estava um homem amarrado pelos pés e mãos. O senhor estava completamente nu e estava muito mago, pelos sujos cobriam todo o seu corpo ao passo de que seus olhos estavam extremamente irritados, pareciam duas bolas vermelhas.

A primeira reação do rapaz foi ajudar o velho, utilizou as mãos para retirar as cordas e logo estava utilizando seu corpo de apoio para o ferido. Assim que chegou na escada, sentiu uma faca adentrando seu tórax.

O sangue esguichava a cada punhalada.

Em pouco tempo o velho havia esquartejado o corpo do rapaz, tinha dividido os membros e exposto os órgãos em um circulo.Utilizou as vísceras para completar o círculo ao passo de que começou a beber o sangue e a chupar os ossos.

Logo estava cantando músicas infantis.

Estava feliz.

EPÍLOGO: Horas depois do assassinato

Seu Geronimo costumava ser um jardineiro respeitado na região, cuidada dos jardins da maioria das pessoas que morava no bairro da Glória. Estava sempre coberto de terra mas cuidada da aparência.”Aparência é tudo” era o que dizia sempre.

Tudo na vida do homem seguia bem, até que seu irmão teve um ataque de loucura e assassinou toda a família. O caso ficou conhecido como o “Açougueiro Maldito” e não demorou para que todos os vizinhos começassem a perseguir Justino, queriam fazer justiça com as próprias mãos.

Mas o jardineiro foi mais rápido e encontrou seu irmão em um beco qualquer. O assassino estava completamente melado de sangue e cantava canções infantis, começou a gritar de felicidade quando viu seu irmão.

Estava louco.

Para evitar que o irmão fosse assassinado, Gerônimo o escondeu no porão de sua casa e espalhou a história de que ele havia morrido.

Alimentava o açougueiro todos os dias, mas tinha que o manter acorrentado. ”Se eu deixar ele solto, vai matar de novo.”

Quando entrou na casa naquela noite, percebeu que o porão estava aberto. Rapidamente desceu as escadas e encontrou apenas os restos do corpo de Daniel.

-Eu disse que só eu poderia entrar aqui. Disse, enquanto saia e fechava a porta.

Tinha somente uma certeza:

O açougueiro maldito iria matar de novo..

FIM

É isso ai Galera, estou participando de mais um DTRL (Desafio De Terror Recanto Das Letras) \O/ Como tema eu escolhi: Casa Assombrada e Serial Killer!

Espero que gostem e comentem, espero críticas construtivas e sinceras! Eu fui o primeiro a postar e por isso não posso indicar outros..mas acredito que em breve a galera vai estar postando.Só é vocês se ligarem nos contos que tiverem a sigla "DTRL".

Ah, segue ai o link com os outros temas e a chamada pro segundo desafio, confere ai:

http://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/4135571

Abraços e aguardem novidades!!

Rayan Fernandes
Enviado por Rayan Fernandes em 12/02/2013
Reeditado em 13/02/2013
Código do texto: T4135722
Classificação de conteúdo: seguro
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