A coruja

Uma família se muda para o campo, um rancho recém-abandonado pelos antigos moradores que foram embora sem dizer o misterioso motivo do desaparecimento deles. Porém as cercas apodrecidas e desgastadas pelo tempo, e o gramado alto, encobrindo a velha porteira enferrujada, que transmitia um estranho ruído, quando o vento balançava a madeira rústica, convence os Smurfs a comprarem a sinistra fazenda. Na noite do primeiro jantar em família, com a mesa arrumada e talheres selecionados a cada prato, servido pela estranha criada de avental, a jovem Joise de dezessete anos, senta-se incomodada e ouve os mesmos assuntos desagradáveis de seu pai em relação ás eternas dívidas bancárias. Observava através do vidro trincado da estreita janela, as imagens assustadoras das árvores imensas e compridas, cujas sombras cobriam a figura de uma ave de penas escuras, pousada sobre um grosso galho, com as pupilas dos olhos dilatadas e profundas, avistando o interior de sua alma, causando um susto em seu coração, até sentir seu pensamento interrompido por um comentário de Carlos, seu irmão adotivo, que adorava a sua forte personalidade.
Fingiu que nada aconteceu, temendo que sua família achasse que estivesse maluca. Na manhã seguinte, Joise acorda com o travesseiro molhado de suor, havia tido um pesadelo terrível sobre aquele lugar, mesmo assim resolve manter isso em segredo e tentar esqucer esse triste sonho. Raquel, a estranha criada recentemente contratada por sua mãe para fazer as atividades domésticas, estendia as roupas no varal do terreno, reservado para o Rex, um pastor-alemão enorme que sempre atrapalhava a empregada em seus deveres, sujando os lençóis brancos de barro e folhas secas. No entanto, esse dia ela não o encontrou e respirou aliviada com a ausência do cão. Inesperadamente, enquanto pendurava os sutiãs da garota, sentiu um forte odor de carniça podre, invadindo o seu sistema respiratório, cobriu o nariz com um lenço e observa as árvores imensas enraizadas naquele local úmido, até avistar a cena do cadáver do animal ao lado de uma árvore, onde os vermes se alimentavam de sua carne em decomposição, tendo os ossos do corpo perfurados por bicadas de algum pássaro muito resistente. Apesar da tragédia, o seu Arnaldo apenas desconfia do vizinho, um senhor de idade avançada, que vivia numa cadeira de rodas e morava sozinho há alguns hectares de seu rancho. Anoiteceu, e a lua cheia no céu escuro avisava algo muito ruim que estava prestes a acontecer naquela pequena região camponesa.
O velho Jack assistia televisão em sua casa com uma dose de cachaça, que costumava beber todos os dias, repentinamente houve um curtocíquito na sua cabana de madeira, apagando todas as luzes do seu quarto, no mesmo instante ele acende uma vela e pega o seu terço da misericórdia e orava até adormecer profundamente. Sua oração é interrompido por um estranho barulho do lado de fora, mexendo nas folhas dos galhos das árvores, ignorou o misterioso sinal que recebera, mas ao olhar para trás novamente, ouviu um pertubador bater de asas e algo diabólico entra em seu quarto, quebrando o vidro encardido da janela, onde os cacos ferem o seu rosto enrugado. Joise e o pai vão ao local e encontram o corpo do velho Jack caído sobre o carpete da sala, manchado de sangue vermelho e de bruços, Arnaldo vira o aposentado de oitenta e sete anos e descobre que os seus olhos foram brutalmente arrancados de sua face, causando um intenso vômito da adolescente que foi obrigada a presenciar aquele assassinato.
Um misterioso caçador saía á noite á procura de roedores na floresta, pois os animais se alimentavam de sua horta de alfaces. Caminhava entre as trilhas perigosas da selva, armado com sua espingarda, onde as árvores enormes e as neblinas densas dificultavam sua visão, mas mesmo com os espinhos dos galhos ferindo seu corpo, andava determinado, fazendo o suor de seu rosto sofrido, escorrer em seu pescoço frágil. Observa uma sombra negra se mover entre as folhas secas, assustado, ele acende sua lanterna e acaba iluminando a figura de uma coruja de olhos enormes e amarelos, fixando a visão em sua alma. Saiu correndo feito uma presa fácil ao misterioso pássaro, que voa em sua cabeça e bica os seus olhos verdes, sangrando a sua córnea ocular, e solta um grito agonizante, disparando um tiro de sua arma antiga, acordando Joise de sua cama, que sente a morte de mais uma vítima fatal, resultado de uma intensa carnificina humana. Os vizinhos entraram na floresta escura em busca do caçador, porém só acham o seu corpo pendurado por um galho grosso, e um odor de carniça insuportável, onde abutres estavam pousados ao lado, devorando sua carne apodrecida pelos vermes da floresta.
A polícia foi chamada, mas o delegado ignorou o caso, por que se tratava apenas de meros caipiras. O seu Arnaldo resolve dar um mergulho no enorme lago negro, onde morreram várias pessoas afogadas nas águas profundas, nadava sozinho naquele rio amaldiçoado lembrando-se dos assassinatos que ocorreram há pouco tempo na sua região, chegando a pensar que deveria ir embora daquele lugar, quando saía do lago se depara com a imagem de uma estranha ave noturna, pousada em cima de uma cerca de arames enferrujados. Ao dar dois passos para trás, a coruja girou a sua cabeça assustadoramente, em seguida ergueu suas asas sinistras e solta um canto obscuro. Joise sente a falta do pai e pega uma lanterna e sai a procura do velho Arnaldo.
Ao se aproximar da margem do rio, ilumina o lago negro e acaba encontrando um corpo inchado e podre, boiando sobre a água escura do riacho. Ajoelhou-se no mesmo instante e deixa suas lágrimas demonstrarem sua enorme tristeza de perder o próprio pai, querido por tantos anos de carinho e dedicação. Decidiu na mesma hora em escapar daquele inferno, pois percebia que o seu pesadelo transformara em realidade e poderia chegar o seu fim, caso não saísse do eterno abismo perdido. A jovem estudante retornava para casa e avista seu rancho cercado por várias pessoas armadas com foices e machados, ao chegar próximo ao local, a criada de sua mãe ordena que a amarrasem e fosse queimada viva, pois pensavam que a garota estava amaldiçoada e era a responsável pelos misteriosos ataques.
Joise estava nua e amarrada, onde palhas ficavam embaixo de seus pés. A estranha criada joga querosene e acende um fósforo, incendiando a menina, que sente seu corpo queimando no fogo infernal, sua pele derretendo e seus ossos sendo torrados pelas chamas, gritava de dor e desespero e sua última visão foi observar entre as fumaças negras da fogueira, a imagem de uma coruja diabólica, que vingou em sua alma. No final do ritual, sua mãe avista somente um esqueleto queimado e amarrado em uma cruz de madeira, cuja terrível aperência era similar aos aspectos de uma ave...
Alexandre S Nascimento
Enviado por Alexandre S Nascimento em 17/03/2007
Reeditado em 27/09/2016
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