A COISA

Hermogênia era uma pessoa de muita”Fé” e muita “Coragem”. Não tinha medo de nada.

Era só no Mundo, mas realizava o milagre de ser uma excelente companhia para si mesma, de modos que, preenchia o seu tempo com mil e um afazeres que lhe enchiam as horas e satisfaziam-lhe o ego.

Toda tarde, tinha o hábito de sentar-se numa cadeira de balanço e ficar muito quieta e pensativa assistindo o fim do dia. . .a noite chegando. . . as estrelas aparecendo...

Era seu momento de interiorização, de reflexão, de lembranças, de saudade.

E foi numa dessas tardes, começo de noite, que aquilo aconteceu.

Primeiramente foi um barulho na cozinha, como se todas as panelas tivessem saído misteriosamente do armário e rolado barulhentamente pelo chão seguidas por suas não menos ruidosas tampas.

- Credo! Que será isso?

Logo em seguida ouviu um ruído como se alguém a chamasse:

-Pssiu!

Começou a ficar preocupada. Nunca tinha visto nada sobrenatural, mas, uma vez sempre é a primeira. ..

Olhou sobre a mesa onde deixara uma folha de papel e uma caneta e viu a folha se mexendo e a caneta, em pé.

Nossa! É uma mensagem!

Psicografia? ...

Não... Psicofonia? ...

Também não!

Como é mesmo o nome?

Escrita Direta!

É... Parece que é isso... Mas que é apavorante, é!

De repente alguma coisa atravessou a sala com um ruído esquisito deixando atrás de si um rastro luminoso que logo sumiu.

Hermogênia estava paralisada.

E, então, ouviu chamarem o seu nome.

Não era uma voz humana, era um som que parecia vir de muito longe e repercutia dentro dela:

H –e-r-m-o-g-ê-ê-ê-n-i-a-a-a-a:

E, como se não bastasse, uma figura humana começou a desenhar-se a sua frente, junto à porta de entrada, fechada.

Hermogênia tentou rezar:

- Pai nosso que estais nos céus...

- Não! ...Acho que é melhor o Credo. ...

- Crendospadre todo poderoso...

E foi então que novamente a coisa atravessou a sala zumbindo e bateu na sua cabeça como se fosse uma pedra.

O negócio estava materializado!

Apavorada, ela deu um grito e um pulo, alcançou o interruptor e acendeu a luz.

A sala estava como sempre, nada de anormal.

Sobre a mesa a folha de papel e a caneta no lugar onde ela os deixara. Escritas, apenas as anotações que ela mesma fizera pouco antes.

Chegou até a porta da cozinha e espiou de longe.

Uma latinha vazia, que estivera sobre a pia, estava caída no chão.

- Puxa! Como é que uma latinha tão pequena pode fazer tanto barulho?

E, então, ela viu a coisa.

Um inofensivo besouro caído no chão tentando se locomover com dificuldade.

- Um besouro! Há quanto tempo não via esse bicho! Pensei até que ele já estivesse extinto!

- Pensei nada! Imagine se, alguma vez, eu cogitei se os besouros estariam, ou não, em extinção!

E, raivosamente, agarrou o cascudinho, atirou para fora da janela e fechou a vidraça.

- Ainda bem que eu sou uma pessoa de muita Fé e Coragem! Não tenho medo de nada!

Maith
Enviado por Maith em 18/03/2007
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