Trajetória de uma adulta suicida

Um conto gigantesco para os meus padrões. Espero que gostem

OBs.: Uma pequena observação, as frases que começam e terminam com **, são os pensamentos da personagem. Estão em italico, mas como sou limitado a formatações, foi a única forma que encontrei.

Comentem!!!

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Trajetória de uma adulta suicida

I

As freiras diziam que chovia muito no dia em que ela fora deixada ali no orfanato. Também diziam que era uma mulher; uma mulher desesperada. Diziam que era uma mulher horrorosa, chorosa, de dar pena. As freiras sempre diziam que ela era a menina mais feia que havia nascido. Elas diziam muita coisa, mas falavam pouco. Diziam com o olhar, e Dagoberta estava acostumada com olhares tortos. Aprendera a conviver com eles desde o momento em que descobrira que era uma aberração. ‘’A menina mais feia que já nasceu’’, diziam as freiras.

Ela não gostava muito das freiras, a não ser da senhora Glória, que já passava dos sessenta. Era a única que se entristecia quando as outras a humilhavam. Eram freiras más, isso eram. Dona Glória dava guloseimas para Dagoberta sem que as outras soubessem, ás escondidas. Mas isso não durou muito tempo. Quando descobriram as aventuras de Dona Glória, ela foi expulsa do orfanato. E então Dagoberta estava sozinha novamente.

**Vou sair daqui. Vou sair daqui e ser alguém na vida. E depois vou voltar, e matarei todas as freiras e crianças órfãs**.

Sempre se sentia suja depois que pensamentos como esse vinham a sua cabeça.

Era um orfanato pequeno o qual Dagoberta fora abandonada. Ali vivia junto com outras vinte meninas, variando entre os dois e treze anos. Ela nunca era chamada para as brincadeiras e as mais crescidas batiam nela sempre que podiam. E as freiras más não faziam nada. A que mais implicava com Dagoberta era uma quase adolescente de doze anos, uma menina gigantesca para sua idade. Andava acompanhada de mais duas, que serviam como guarda-costas. Dagoberta evitava encará-las, pois esse era um motivo grande o bastante para apanhar.

E sempre apanhava.

Ela não gostava de rezar, e á noite tinha pesadelos. E depois rezava em silêncio. Se chegasse ao ouvidos das freiras más que ela estava falando quando era hora de dormir... Ela não gostava nem de pensar.

Seu maior sonho era quando pais vinham á procura de crianças para adotar. Tentava se arrumar o melhor que podia, e o melhor sempre era o pior. Vestia a sua melhor roupa, trapos rasgados e chinelos gastos. O cabelo era duro, e aquilo era uma luta. Via as freiras conversando com as outras meninas e dizendo que talvez elas pudessem ser adotadas naquele dia. E então ela sonhava. Uma mulher chegava junto com o marido e diziam que ficariam com ela. E todo o inferno acabaria.

Mas para a menina mais feia que já nasceu não era bem assim. Ela ficava no fim da fila, tentando forçar um sorriso, mostrar boa aparência. Ninguém reparava nela. Os que reparavam nela encaravam-na e cochichavam. Eram olhares de piedade ou o que? E para ajudar, ela já estava bem crescida, e isso perdia muitos pontos. Já tinha quase onze anos. Sabia que nunca sairia dali...

E então começou a planejar sua fuga. Era isso ou viver ali até completar dezoito anos. Depois seria jogada na rua. Que diferença fazia?

Mas sabia que não teria oportunidades melhores depois que fugisse. Era feia e inútil. Teria que aprender a conviver com isso.

Sua primeira tentativa foi no dia de seu décimo primeiro aniversário. Quando acordou de manhã, ficou na cama cantando parabéns para ela mesma, e imaginou que sua mãe aparecia e fazia uma festa grandiosa para ela, com um bolo de dois andares e velas para soprar. Crianças com chapeuzinhos e palhaços... Apenas sonhos. Que eram interrompidos quando as freiras acordavam-na para o trabalho. E ficou na vã esperança que uma delas lhe desse os parabéns.

Depois de terminada a limpeza, percebeu que só havia duas freiras no salão do almoço. Geralmente todas elas almoçavam ali também. Ficou se imaginando onde estariam todas as outras. A de cara fechada, a de cara amassada... **É a minha hora**.

Ela se demorou no almoço, e ficou encolhida num canto. O pátio foi esvaziando-se aos poucos. Todas as crianças podiam passar toda tarde no pátio brincando. Era o momento que Dagoberta mais odiava. Era o momento certo. Minutos depois, o salão ficou vazio. O silêncio a sufocou. Agora que o momento chegara seu coração parecia querer lhe saltar pela boca. Levantou-se vagarosamente, e atravessou o salão com passos lentos. Quando abriu a porta para sair, assustou-se ao ver todas as freiras ali. Era uma armadilha. **Que queimem no inferno!** Elas sabiam que Dagoberta tentaria fugir. E não estavam erradas...

Sua vida não melhorou depois do ocorrido. Foi deixada isolada em um quarto pequeno e escuro, cheio de teias de aranha e móveis velhos. Sentiu-se uma idiota completa. E passou dias ali, que viraram meses, e depois mais meses. Não podia mais ir ao salão de almoço, e sua comida era trazida no quarto. Sempre comia o que sobrava, e se não sobrasse nada... Trabalhava em dobro e não podia ficar no pátio. A luz do sol era uma desconhecida distante agora. Seu melhor amigo era o escuro e o cheiro de mofo; os ratos e as baratas. Dagoberta estava infeliz...

E nem quando os pais vinham ver as crianças ela saía. Ela já conhecia seu destino. E não gostava nem um pouco dele...

O tempo perdera todo o significado, e depois do que pareceu um ano, ela viu-se livre novamente. Fora um castigo longo e doloroso, mas que no final das contas havia sido bom. Ela passou um ano sem apanhar. Nada de freiras nem de meninas grandes e fortes. E então ela estava de volta, sofrendo o triplo e apanhando mais. **Por favor, levem-me de volta para a escuridão**.

O tempo passou e Dagoberta cresceu. Nunca mais tentara uma fuga, e a sua situação não melhorara. Freiras novas entraram para trabalhar no orfanato, mas eram todas iguais. Nenhuma gostava dela. **E eu não gosto de nenhuma. Que as todas as freiras morram queimadas!** A rotina era a mesma, sem alterações, e o seu almoço continuava ruim. A única coisa boa era que a menina grande e forte saíra do orfanato. Não adotada, mas chutada. Dagoberta encarou aquilo como o melhor presente da sua vida. Crianças novas e choradeiras entravam todos os dias, e todo mês algumas saíam. Essas ganhavam uma vida e uma família. **Elas podem até ter um cachorro**.

No dia em que completou quinze anos, recebeu um presente. Fora chamada na sala da freira Margarida, que de margarida não tinha nada. Era uma mulher de cara redonda e vermelha, e fedia a merda, segundo Dagoberta.

Quando entrou, se deparou com uma comunhão de freiras. Todas estavam ali. Eram umas vinte. E nenhuma era nova, bonita ou simpática. Ninguém mandou Dagoberta se sentar. Margarida falou:

- Você está fazendo quinze anos hoje, e está a três de ir embora. Como ninguém vai adotar uma coisa como você, e nenhuma de nós suporta sua presença, resolvemos deixar você ir. Pegue suas coisas, pelo menos o que tiver e saia imediatamente. E rápido!

Dagoberta saiu dali assustada. Mas estava feliz.

Estava livre.

II

A liberdade era uma coisa nova para Dagoberta. Pensava que poderia fazer o que quiser. Não havia ninguém para obrigá-la a trabalhar, ninguém para bater nela, ninguém para ajudá-la... Estava perdida.

Seu primeiro impulso ao sair do orfanato foi procurar emprego. Mas entendeu o que a falta de beleza fazia. Todos olhavam para ela com o rabo dos olhos, e muitos nem ouviam o que ela tinha para dizer. O pouco de dinheiro que as freiras haviam deixado com ela para que se alimentasse estava acabando, e ela continuava sem rumo.

Havia saído de um inferno e entrado em outro completamente novo. E mais cruel.

Quando o dinheiro se esgotou, ela não tinha como comer nem onde dormir. E a rua virou sua casa.

Ela ouvira as freiras falando sobre os moradores de rua, mas nunca imaginara que era daquela forma. Pensava em pessoas desempregadas, que ficavam ali temporariamente. Mas não eram... E agora Dagoberta era um deles.

Era só uma garota, e sentia medo. Alguns moradores de rua compartilharam suas cobertas rasgadas com ela quando veio o frio. E sempre dividiam a pouca comida que conseguiam. Dagoberta assustou-se na primeira vez que viu pessoas procurando comida no lixo, mas quando a fome veio, foi a única saída que encontrou. Comia frutas podres, resto de frutas, pedaços de pão... **Eu prefiro morrer a continuar viver assim**.

Sabia que ali era o seu lugar. Ninguém a aceitava, e não tinha para onde ir. Ás vezes sonhava com uma mulher feia, já velhinha, e ela sempre fugia. Tinha certeza que sua mãe estava viva. Mas como a mãe saberia quem era ela? Como poderia encontrá-la?

As ruas eram o coração do mundo para Dagoberta. Milhares e milhares de pessoas andando pra lá e pra cá. Homens de terno carregando pastas, mulheres com seus filhos, cegos com seus cães guias, ciclistas, prostitutas. O mundo se concentrava ali. O mundo não era amigo de Dagoberta.

A rua tornou-se uma amiga. O frio nem era tão rigoroso agora que já havia se acostumado. Também estava familiarizada com a agressividade da policia, e não podia ficar muito tempo no mesmo lugar. Fez alguns amigos, e ficava maravilhada com a história de cada um, até o momento em que foram parar na rua.

Quando chegava a noite, ela sentia medo. Estava no meio do crime. Já havia visto assassinatos, roubos e estupros. Tinha medo de ser a próxima. Conhecia um pouco da mente humana a cada dia, e sabia que as noites traziam o tipo de pessoa errada. Ela se encolhia embaixo da coberta e ficava escutando os sons urbanos. Ficava na espreita. Tinha medo de dormir e nunca mais acordar. **Mas por que eu me importaria com a morte?** E tremia descontroladamente. Imaginava que cada pessoa que passava era um bandido ou estuprador. Ficava atenta, torcendo para que a luz do dia chutasse a noite de uma vez. **São só algumas horas**, dizia para si mesma.

E em uma noite sua vez chegou.

Viu-se cercada por três homens aparentemente bêbados. Eles a agarraram e rasgaram sua roupa. Ela nunca mais se esqueceria daquela noite. Poderia lembrar-se de cada som diferente que ouviu. Carros, motos, tiros... A lua era cheia, e estava mais brilhante. Também não esqueceria os cheiros. Cheiro de álcool, cheiro podre, bafos. O cheiro do medo. Sentiu-se fraca demais, estava viva, mas seu corpo não. Sentiu vergonha.

E percebeu que não era ninguém.

III

As chuvas vieram e passaram, veio o calor e depois o frio. E de novo e de novo.

Dagoberta fazia tão parte da rua quanto a rua fazia parte da cidade. Já se acostumara com seu destino cruel. E nem reclamava mais. O pior já havia passado. Agora ela já era maior de idade, e talvez tivesse mais oportunidades. Quem poderia saber?

Estava mais uma vez enganada.

Ela era uma moradora de rua. E só.

Já estava acostumada com os mutirões que as igrejas faziam para alimentar os mendigos. Conhecia todos os voluntários, e nem todos gostavam dela. Ficava olhando para Eduardo, um rapaz religioso de uns vinte e tantos anos. Ele não faltava á nenhuma entrega de marmitas, que era feita uma vez por semana. Dagoberta, em seus farrapos, ficava imaginando coisas. Pela primeira vez estava apaixonada.

Era só mais uma de suas fantasias. Eduardo era casado e tinha uma filhinha de dois anos. Dagoberta vira a menina umas duas ou três vezes. E também vira a esposa de Eduardo. Uma loira alta e linda, e imaginava-se no lugar dela. Sonhos tolos. Já estava mais do que crescida para ter alguma esperança. ‘’A menina mais feia que já nasceu’’. Isso sempre vinha á sua cabeça quando se pegava imaginando coisas. E voltava á realidade.

Também havia se acostumado com os abusos de bêbados e estupradores. Ficava impotente. Não poderia fazer nada para evitar, e isso era uma coisa com que tinha que conviver.

**Nem em meus piores pesadelos imaginava uma vida assim**.

Aprendera a mendigar e conseguir alguns trocados para se alimentar. Nem todos eram ruins, e vez ou outra doavam uma boa quantia. Dagoberta sempre escondia um pouco do dinheiro para jogar na loteria. Não sabia ler nem escrever, e havia uma velhinha que marcava os números para ela e depois conferia. Se ela já havia ganhado alguma vez não saberia dizer.

Sabia que a chance de ganhar eram poucas, mas valia a pena tentar. E pelo uma vez na vida ela teve sorte. Uma grande sorte.

Escolhera os números certos, e o prêmio era milionário. Quando foi conferir, precisou ser internada.

IV

Toda sua vida passou em câmera lenta rente aos seus olhos. Ela não era mais a menina feia. Não era mais a menina órfã moradora de rua. Agora era ‘’a mendiga milionária’’.

Saiu em todos os jornais e canais de televisão. Deu entrevistas e entrevistas, foi convidada para festas e festas; ficou famosa.

Sua primeira providência foi ajudar a todos aqueles que a haviam ajudado. Depois disso providenciou um lar, uma casa num bairro rico. Era um imenso casarão, e mesmo morando sozinha, sentia que a casa estava cheia. Resolveu fazer cirurgias plásticas e mudar o visual. Entrou em forma, arrumou o cabelo e tratou da pele. Operou o nariz e cuidou dos dentes. Deu um banho de loja em si própria e deu festas. Ficou popular.

Ela não era mais Dagoberta, a feia órfã moradora de rua. Agora era Dagô, uma das ricas mais populares da cidade.

E os homens também vieram.

Eram de todos os tipos. Altos, feios, bonitos, velhos, negros... Mas todos ricos.

O único que chamou sua atenção foi um homem na casa dos quarenta anos, com ralhos cabelos grisalhos e de um charme único. Sua amiga Ester conseguiu um encontro para Dagô com ele. Ela nunca se sentira tão ansiosa. Arrumou-se toda e trocou de roupa incontáveis vezes. Olhava-se no espelho e não gostava. Achava que ele a olharia de cima á baixo e a ignoraria. Pelo que sabia ele não era rico, mas muito exigente com mulheres. Pensou em desistir, mas a hora estava cada vez mais próxima. Escolheu uma roupa simples e justa. Agora estava com um belo corpo, e todas as roupas curtas lhe caíam bem. Só não desejava ser ousada. Estava apreensiva.

Na hora marcada, ele passou para pegá-la e a adorou. Ocorrera melhor do que ela imaginava. Ele era um bom partido e seu nome era estrangeiro, Bruce. Ele conversou sobre tudo; sabia demais. Dagô ficou acanhada, pois não sabia sobre nada. Começara a ter aulas particulares, mas ainda era iniciante. Mas ela se descobriu uma boa companhia.

Ficou bêbada de vinho rapidamente e disse que queria ir pra cama com ele. Bruce não recusou. Foram para o apartamento dele e tiveram uma noite maravilhosa e longa. Dagô nunca se sentira tão realizada e... mulher. Transaram inúmeras vezes e tomaram banho juntos. Ela sentiu-se completa, dois corpos em um só. Bruce tinha um ar selvagem quando estava dentro dela, e Dagô adorava isso. Pela primeira vez esqueceu-se de todas as vezes que fora estuprada.

Foi a noite mais perfeita de todas.

Quando acordaram na manhã seguinte, transaram novamente. E de novo no banho. Enquanto tomavam o café da manhã Dagô disse que queria se casar com ele. Pensou que Bruce recusaria. Que era só mais um daqueles homens que não se entregaria á um compromisso. Mas para seu espanto, ele aceitou.

Começaram o combinar o casamento e casaram-se meses depois, numa cerimônia gigantesca, com quatrocentos convidados. Dagô só pensava na lua de mel, que passariam em Paris.

Viajaram na manhã seguinte.

Visitaram todos os pontos turísticos e fizeram amor todos os dias. Dagô sentia-se num conto de fadas.

Quando voltaram para o Brasil, Bruce disse que ela precisaria de alguém para cuidar do seu dinheiro. Ele mesmo se ofereceu para isso. Ela aceitou, e Bruce começou a investir seu dinheiro. Trazia contratos e mais contratos para Dagô assinar. Ela não entendia direito o que significavam todos aqueles papeis, mas confiava em Bruce.

Segundo ele, sua fortuna triplicaria em apenas um ou dois anos. E de fato aconteceu. Chovia dinheiro na casa de Dagô. Cada contrato que ela assinava era sinônimo de milhões.

Ela estava se tornando uma das mulheres mais ricas do Brasil. **Graças a Bruce. Meu príncipe encantado**.

Era um dia comum. Bruce apareceu com mais um contrato. Estava acompanhado de mais três homens. **Milionários, assim como eu**.

- Esses são os papeis mais importantes que eu trouxe para você assinar até hoje. – dissera ele com um sorriso brilhante.

**Que encanto**.

Ela assinou todos os papeis com seus rabiscos costumeiros, e Bruce saiu aos saltos. Foi comemorar. **Comemorar sem mim?**

Quando voltou, já era madrugada. Estava um pouco bêbado e acompanhado de uma mulher linda.

- Essa é minha mulher. – disse ele.

Dagô demorou para entender o que estava acontecendo, mas conforme Bruce falava, ela se deteriorava. O contrato que Bruce trouxera mais cedo era um documento em que Dagô passava toda a sua riqueza para o nome dele. Todos os seus bens, todas as suas contas, seus carros, sua casa. Ela não conseguia acreditar.

Bruce a expulsou de casa aos pontapés e a jogou na rua. Estava vestida com uma camisola de ceda.

- Eu prometo que devolvo suas roupas! – ele gritou.

O primeiro impulso de Dagô foi procurar um advogado, mas não havia nada que pudesse fazer. Ela havia assinado, e aqueles três homens haviam presenciado. Ela entregara todo o seu dinheiro para Bruce.

Era Dagoberta novamente.

V

Ela andou por dias e noites sem rumo. No fim das contas, era a menininha feia e fraca de sempre. Tinha medo de encarar Bruce. Tinha medo de tomar alguma providência.

Estava fraca, morta de fome. Estava acabada.

Viu Bruce nos jornais, um dos homens mais ricos do Brasil. Os jornais diziam que ele estava viúvo. **Então eu morri mesmo. De verdade**.

Só havia uma coisa que desejava fazer.

Foi até a estrada mais perto. Era noite de chuva. Sentia fome e frio, estava ensopada e suja. A água que caía gritava com ela. Dagoberta ouvia todos rirem dela. Via todos os olhares curiosos.

‘’A menina mais feia que já nasceu’’.

Ela viu a luz do farol de um caminhão ficar mais forte. Vou pular. **Esse sempre foi o meu destino. De um jeito ou de outro, isso aconteceria**.

‘’A menina mais feia que já nasceu’’.

O caminhão se aproximava. Estava cada vez mais perto.

- A menina mais feia que já nasceu. – ela sussurrou.

E então pulou.

Fernandes Carvalho
Enviado por Fernandes Carvalho em 02/04/2013
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