O tempo na vida de nock

O tic-tac do relógio seguia os movimentos de Nock. A loja aguardava seu cansaço. A casa, o trancava numa mediocre vaga. A loja mais o prendia numa engaiolada necessidade de sobrevivencia.

Aonde fosse, aquele tic-tac de relógio o seguia acompanhando a tragicomédia diaria do homem só que era Nock.

"-Bons-dias!" Nock distribuia aos colegas e ao patrão.

Seus pensamentos, companheiros velhos, iam lhe tanjendo o humor. Agora Knock se encontrava já em pé atraz do balcão. Estava alí pronto para servir quem entrasse.

O dia transcorria como qualquer outro. Knock pensava em suas leituras. Sempre lera tudo sobre a antiguidade clássica. Rituais longinquos, aparentemente perdidos foram os laços daquelas tradições.

"-Qual teria sido o motivo que os antigos destruiram suas tradições?" Perguntava-se Nock.

"-Ao final de cada guerra se destruia os vestígios da civilização derrotada..." Continuava analizando Nock em seus pensamentos. "-Sempre era tudo queimado em fogo. O tempo se incubia de transformar tudo em pó...deixando leves restícios em ruínas que curiosos arquelógos tentavam pobremente decifrar..."

"Eh! Nock. Andas aí com o pensamento distante ehn?" Soltou Luis seu colega, parado alí em frente ao balcão olhando nos olhos de Nock.

Nock voltou a atenção para o seu colega e levou em frente a conversa:

"- É Luiz, hoje o movimento da loja está meio parado..."

Luiz sorriu observando:

"Ora Nock! quem vai se interessar de comprar peças de construção numa crise dessa?"

"É, a falta de dinheiro deixa as pessoas distantes."

Assim Nock e Luiz passaram a manhã trocando ideias. Nock nada comentava com o amigo sobre o tic-tac que ouvia. Tinha receio do amigo achar que algo de estranho se passava com êle.

Chegando a hora do almoço Sérgio, outro colega, chamou Luiz e Nock para irem comer alguma coisa com êle no restaurante da esquina.

Maria se ofereceu cordialmente para ficar no atendimento até que êles voltassem, quando ela também sairia para almoçar.

Os amigos então foram ao restaurante, Nock no entanto se sentia distante da conversa :

"-Um chopp. Nock?" Convidou Luiz a quem Sergio adicionou:

"-Sem o chopp o almoço fica sem gosto."

Nock disse um não, o que fez Luiz rir a dizer:

"-Bem, Nock hoje está distante das coisas terrenas."

Ao voltar para a loja pareceia que o tic-tac diminuia na cabeça de Nock. Rendeu Maria no serviço e esta saiu para almoçar, recomendando que tomassem conta da loja, uma vez que o patrão tivera de fazer uma viagem de última hora para ir atender um cliente. Só voltaria daí a alguns dias.

Maria ficara responsável pelo funcionamento da loja. Gerenciaria tudo e mais fecharia e abriria no horário de sempre.

A tarde veio e o calor lá fora empurrou alguns clientes. Geralmente o ar refrigerado os atraia nas horas mais quentes.

Maria voltou e se podia ver ela arrumando papeis e atendendo telefonemas por tráz do vidro do escritório.

Nock gostava de Maria. Sempre a gerente o tratara bem.

No final da tarde o movimento diminuiu. Luiz, Sergio e Nock esperavam a hora de fechar a loja, arrumar as coisas e sairem pela porta lá atráz.

Maria esperaria que terminassem o serviço para poder trancar tudo, foi então para o depósito ajeitar as coisas por lá.

O tic-tac na cabeça de Nock aumentava, cada segundo se tornando mais rápido. Mesmo assim êle acompanhou os amigos indo para uma estante arrumar as peças enquanto Luiz e Sergio trancavam a grande porta da frente da loja.

O tic-tac se tornava insuportável, Nock esfregava a cabeça, tampando os ouvidos com as mãos, fechando os olhos ao mesmo tempo.

De repente o tic-tac desacelerou, silenciou e Nock abriu os olhos.

Nock então se descobriu num salão enorme. Um pêdulo fazia seu movimento dentro de uma caixa de madeira. Aquele mesmo som de tic-tac. Consegui agora assosciar o ruido que ouvira antes ao movimento do pêndulo. Atônito, Nock não tinha a minima ideia de onde estava, o temor então foi se aproximando dele. A sala era iluminada por uma claridade que parecia ser artificial, dando a impressão ser uma luz que tendia ser amarelada o que a fazia muito forte. Não era a luz solar de jeito nenhum, chegava a irritar a vista.

Olhou confuso em direção a porta, lá estavam Sergio e Luiz, em pé, vestidos com saiotes curtos, metálicos, prateados, dobrados em uma prega. A cabeça coberta por capacetes também metálicos.

Maria não se encontrava mais na saleta da gerencia que agora se transformara. Ao invés da mesa, cadeira, estantes e arquivos podia se ver atráz do vidro uma enorme pedra polida, cinza, com nuances de lápisazule. A pedra era polida e de forma oval com seis colunas negras em volta. Em cada coluna que ladeava a pedra, uma estátua que mais lembrava as figuras dos antigos textos que Nock lera sobre a antiguidade.

A claridade e a distancia não dava para Nock distinguir as figuras, pois o antigo escritório estava coberto por uma luz arrocheada, embora brilhante , cobrindo os detalhes como uma cortina.

Ainda sem entender o que se passara, Nock assustado, voltou a olhar Sergio e Luiz. Estes segurando machados de face dupla e espadas embainhadas nas cinturas o ignoraram, nem um olhar trocaram com êle, pareciam olhar fixo para o tempo e estavam distantes. Olhavam em direção ao que antes era o deposito.

Nock, expressão abalada, se perguntava interiormente: "O que será isto?" Por um segundo voltou a tampar os ouvidos e fechar os olhos, quando os abriu viu que nenhuma mudança se passara desta vez.

"O que se passara com Sergio e Luiz? Seus amigos nem o viam..."

O tic-tac do pêndulo continuava na caixa de madeira, Nock olhou naquela direção, vendo que Sergio e Luiz ladeavam, um de cada lado, a peça de madeira.

Olhava para êles num misto de mêdo e desejo que lhe dessem uma explicação, quando ouviu um ruído vindo do que antes era o depósíto. O ruído crepitante silenciou, sendo seguido por passos que viriam sem duvida trazendo alguem.

"Seria Maria?" Pensou Nock. "Quem dera que fosse..."

Sem dúvida Maria lhe daria uma boa explicação de como viera parar alí. O que teria acontecido se não saira da loja?

Os passos não trouxeram Maria mas, sim o dono da loja.

"Oh! não! O que há nisso? Não estava ele viajando? Não havia deixado Maria em seu lugar?" Nock pensava enquanto olhava o dono da loja.

Ouviu um movimento e viu agora Sergio e Luiz ajoelharem-se e encostarem a cabeça no chão saudando respeitosamente "seu Pako-al" o dono da loja.

"Seu" Pako-al agora parado, vestia também um saiote curto de 2 pregas, dourado. Usava sadálias, cabelos longos e na cabeça um capacete de ouro com ornamentos de pedras preciosas e algumas penas.

Sergio e Luiz a um gesto de Pako-al voltaram a sua antiga posição de Guardiães do Pêndulo.

Pako-al olhava agora para Nock, que embora ainda conturbado e confuso, pode ver duas chamas saindo dos olhos de seu antigo patrão. Os olhos de Pako-al voltaram ao normal acompanhados por uma gargalhada arrogante.

Nock viu quando Pako-al colocou a mão no cabo dourado da espada, na cinta, examinando em volta do aposento. Se voltou então para a mesa de pedra tráz do vidro do antigo escritório. Num gesto chamou Sergio e Luiz que vieram para cima de Nock, o encontraram paralizado pelo medo.

Sergio e Luiz então empurraram Nock com o cabo de seus machados de face dupla. A paralizia de Nock devido a tensão dificultava seus passos. Numa tentativa de se ver livre daquilo, Nock fechou os olhos achando que quando os abrisse tudo estaria normal. Porém não foi o que aconteceu. Nock abriu os olhos e estava no mesmo lugar sendo ainda empurrado pelos antigos amigos. Os cabos dos machados forçaram Nock a andar em direção ao depósito.

Uma vez lá, Nock quase não enxergava direito, devido a sombra da penumbra a cobrir o lugar. Assim mesmo Nock divisou outro Pêndulo, sua caixa presa a uma cadeira.

Lá no fundo parecia ser mais cadeiras, que foram se aproximando enquanto Nock andava. Numa delas poude ver Maria amarrada, coisa que também aconteceu a Nock. Luiz e Sergio, olhar distante e duro como se nada vissem, parecendo automatos, amarraram Nock com nos firmes numa das cadeiras e depois sairam.

O depósito estava coberto pela penumbra. Nock podia ver Maria amarrada na cadeira. Ainda confuso pensou em como gostaria de desamarra-la. Como ela estaria? Será que chorava? Ouviu um som de voz vindo do canto aonde Maria estava. Ouviu-a chamá-lo:

"Nock!"

"Sim Maria, o que aconteceu? Fui arrumar as estantes e as prateleiras. Fechei os olhos um instante e quando os abri a loja havia se transformado na sala iluminada."

"Bem, Nock é uma longa estória e devo lhe contar antes que Pako-al volte."

"Pensei que você poderia saber de algo..."

"Você vê esta cadeira e este pêndulo aqui?"

"Sim, havia outro igual no salão iluminado..."

Maria então explicou a Nock, que os pêndulos eram uma porta de entrada no tempo. Maria perguntou a Nock se êle se lembrava dos livros que lera sobre a antiguidade. Lógico que Nock se lembrava. Maria então explicou que os antigos eram dirigidos pelas forças do Bem e do Mal quando estes atravessavam o Universo. Para que a porta fucionasse era necessário que um mortal ouvisse o tic-tac do Pêndulo. A pessoa serviria de chave para que as forças do mal se juntassem e entrassem na Terra, fomentando dor, guerras e pestilencia. Alguns reis na antiguidade se juntaram as forças maléficas, assim a discordia e a vingança carregavam os homens a loucura que adicionada a ambição os levava a fazer atos crueis.

Logicamente as forças do bem venciam, e o mal deixando o mundo em ruínas, ou perecia no fogo, ou voltava para o seu próprio Universo atravez do Pêndulo.

Maria explicou também a Nock que ela havia sido mandada a Terra pelas forças do Bem.

Quando chegara, Maria sabia quem era Pako-al, ela e êle sabiam que assim que achassem o homem que traria o Pêndulo, Pako-al o usaria para fazer o Pêndulo fucionar e soltar as forças do Mal.

"-Então aquele tic-tac que ouvi..."

"-Sim Nock, aquele era o som do Pêndulo."

Qundo Nock aparecera na loja, Pako-al o empregou imediatamente. Nock contou a Maria que desde que entrara na loja ouvira aquele tic-tac. Achou até que tinha ha ver com seu apelido, Nock que em Inglês queria dizer bater, seu nome verdadeiro era Paulo. Teria sido alguma premonição de quem o apelidou? Maria deu continuidade ao que falara antes. Sim, quem apelidara Paulo de Nock poderia ter sentido que algo iria acontecer, era um prenuncio dos fatos. Pako-al, continuou Maria, fora o nome de um rei Maya o qual se tem poucas informações e Al é também é um hieroglifo Egipcio.

"Como você ouviu o Pêndulo, Pako-al o reconheceu e precisava de você para traze-lo de volta. Como este outro Pêndulo já estava aqui e só funcionam juntos o outro viria atravéz de você... Assim Pako-al escravizou Sergio e Luiz usando hipnose..."

"E agora Maria? O que irá acontecer?"

"Teremos de destruir o Pêdulo, para que a passagem se feche."

"Mas, com? Se estamos presos e amarrados?"

"-Pako-al virá nos buscar mais tarde. Haverá uma conjução estelar maléfica, hoje anoite. Pako-al estará esperando essa hora para nos oferecer em sacrificio na mesa de pedra. Pako-al arrancará nossos corações e os oferecerá as forças do Mal. Assim elas atravessarão o portal do Universo e entrarão na Terra, causando a destruição."

Maria e Nock, faziam esforço para desatar os nós apertados, que amarravam seus braços, inutilmente. Maria então disse a Nock:

"- Na hora que Sérgio e Luiz nos vierem buscar seremos levados para a mesa de pedra. Lhe darei um pequeno sinal, levarei a mão a cabeça como se penteasse os cabelos, então teremos de agir rápido, correremos cada um em direção oposta, até os Pêndulos.Basta segurá-lo e parar seu movimento. Êle se consumirá em fogo e as coisas voltarão ao que era antes."

"-Irei na direção do Pêndulo do salão." Respondeu Nock.

"-Teremos de ser rápidos. Corra com todas as forças aproveitando a confusão instântanea."

Maria fez um psiu...Ouvia-se passos, isto indicava que Pako-al, Sérgio e Luiz estavam vindo para o depósito. Nock e Maria se calaram esperando.

Sergio e Luiz desamarraram Nock e Maria que foram então levados a sala da mesa de pedra aonde Pako-al os esperava.

Nock prestava a máxima atenção a Maria, esperando pelo sinal.

Por um instante pensou ver enormes asas douradas, resplandecendo em Maria um arco-íris. Viu então de soslaio os dentes ponteagudos de Pako-al e suas longas orelhas de morcego. Voltou rápido o olhar para Maria sem mais ver as asas e o arco-íris. Pako-al agora também voltara ao normal e olhava as baixelas e as longas facas, que descançavam na mesa pronta para o ritual. Nock dava mesmo era toda sua atenção ao sinal que Maria iria fazer.

As figuras antes paradas nas colunas emitiam agora um silvo incompreensível.

Sérgio e Luiz estavam olhando tão fixo Pako-al que nem se deram conta quando Maria levantou a mão para ajeitar os cabelos. Nock vendo isto, correu como um louco. Ouvia a voz de Pako-al gritar: "Pegue-no!"

Sérgio e Luiz ainda titubearam um pouco, o que deu tempo para Nock se distanciar deles quando começaram a correr.

Nock corria e corria o mais que podia em direção ao Pêndulo no salão iluminado. Em um pulo, conseguiu agarrar o Pêndulo e para-lo, imediatamente surgiu uma pequena chama na caixa de madeira.

Nock viu então Sérgio e Luiz pararem de correr e andarem agora na direção da porta principal.

Pako-al se encontrava ainda no antigo escritório, cercado pelas estátuas que cuspiam fogo o empurrando para a mesa de pedra. As labaredas aumentavam e o fogo consumia tudo. Pako-al e as estátuas desvaneciam, vindo a sumir nas labaredas.

Nock pensava em Maria, teria de ajuda-la a sair das chamas, quando se sentiu desmaiar.

Acordou com Maria a chamá-lo.

Estava na loja, caído perto das estantes onde antes vira o Pêndulo sumir nas chamas. Sergio e Luiz deram um até logo, como se nada tivesse acontecido, indo para a porta da rua normalmente.

"Ora Nock... estavas sonhando?" Disse Maria sorrindo. "Está na hora de fechar a loja."

Nock saiu, acompanhando Maria, Sergio e Luiz atravessavam a rua.

Maria dando uma boa noite a Nock, sem muitos comentários seguiu seu caminho.

Nock se perguntou: "Será que sonhei tudo aquilo? Dormi por um segundo arrumando a estante, só pode ser!"

Respirou fundo, aliviado vendo que o tic-tac em sua cabeça parara.

Olhou para o ponto do ônibus e ainda pode ver asas douradas em Maria resplandecendo um arco-íris como se acenassem para êle. O ônibus a levou então.

Fim

angela nadjaberg ceschim oiticica
Enviado por angela nadjaberg ceschim oiticica em 22/03/2007
Reeditado em 12/05/2008
Código do texto: T422175
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