Estranho presente

O homem chegou em casa nervoso. Marcara com a esposa de se encontrarem depois do trabalho, e ela não aparecera. Não foi ela quem reclamou que o casamento deles estava uma rotina, e que há tempos não saiam? Ele ficara como bobo esperando na porta do cinema. A mulher não estava nem na sala, nem na cozinha. Chamando por ela ele foi ate ao quarto. Ela estava caída ao chão imóvel. Seus olhos azuis arregalados fitando o nada. Assustado o homem se abaixou para tocá-la, mas nesse momento algo se moveu dentro das vestes da esposa. Curioso ele levantou a barra do vestido, e não conteve um grito. Um enorme inseto preto estava agarrado ao umbigo da mulher e sugava o sangue que gotejava. Histérico ele saiu correndo em busca de socorro, e nem notou uma caixinha de presente em cima da mesa. O rapaz dos correios tocou a campanha. Ainda bem que aquela era sua última entrega do dia. Estava faminto e exausto. Fitou ansioso o portão enquanto tornava a tocar. Ninguém apareceu. O silêncio era total. Sabia que era errado, mas decidiu deixar o pequeno embrulho em cima do muro. Logo os donos da casa deveriam chegar. Não devia ser nada importante, pensou. Passados alguns minutos uma criança passou por ali e levou embora a caixinha. Horas depois sua avó a encontrou morta no fundo do quintal, com um enorme inseto no ouvido. “Mamãe olha só oque estava na varanda!” Ocupada com a lavagem das roupas a mulher mal olhou o que a menina mostrava, apenas mandou que ela deixasse em cima da estante e fosse acabar de se arrumar. O ônibus escolar não demoraria passar. A criança fez o que a mãe mandou, foi para a escola e se esqueceu do achado. Mais tarde ao retornar, estranhou que a casa estivesse silenciosa. Não ouviu o costumeiro barulho da televisão. Estava com a bexiga cheia, mas ao abrir a porta do banheiro encontrou a mãe deitada no chão. Sangue escorria de um canto da boca, e havia um bicho preto colado em seu pescoço. Mesmo com medo, a garotinha cutucou o inseto com uma escova de dente. De alguma forma ela achava que o bicho era culpado por sua mãe estar machucada. O inseto se desprendeu do pescoço da mulher e rapidamente pulou no braço da menina se grudando de forma dolorosa. A criança gritou de dor e pavor tentando em vão se livrar, mas a morte chegou em poucos minutos. Em um bairro um pouco afastado da cidade, em uma velha casa estilo colonial, um senhor idoso brincava com a sua coleção de escaravelhos. Seus insetos eram sua companhia, e se suas pernas enferrujadas o impediam, seus amiguinhos negros o ajudavam a dar uma lição naquela gente esnobe que sempre o olhara com desdém.