GAAP (Noite de Horror)
            O  meu professor de filosofia grega é um cara esquisito, tem o tamanho de uma criança de doze anos, um bigode fino e desprezível,nos dias atuais ninguém usa esse bigode, óculos retro, sorriso de dentes pequenos, iguais ao de um tubarão, uma queimadura na face que enrugou a pele do olho esquerdo e a orelha do mesmo lado, onde não crescia cabelo, que a maioria dos alunos apelidaram de Mestre D(de demônio), não que ele fosse mal, era aquela cara dele e o formato da fala, baixo e rouco, ele disse que o incêndio tinha atingido a suas cordas vocais, todos gostavam dele, especialmente eu, Paula, Pedro e Nanda.
            Gostou tanto do nosso trabalho sobre Friedrich Wilhelm Nietzsche, foi  por isso que ele convidou os quatro para uma aventura, bem maluca, na antiga casa de campo do seu avô, no começo achei isso complicado, a maioria dos alunos de primeiro ano da faculdade de filosofia tem que trabalhar, eu e Nanda trabalhamos em uma locadora de carros, Paula não faz nada da vida só cuida da mãe inválida, Pedro, é o mais velho, já estudou medicina, mas um problema de saúde afastou da clinica, apaixonado por filosofia foi para a nossa turma, ninguém sabe o que ele teve, parece saber de tudo,de filosofia a técnicas avançadas de cirurgia plástica,mas conversa pouco calado, boa gente, na maioria das vezes da um sorriso quando falamos, sempre tem dinheiro e uma queda por Nanda, usa jaqueta de couro, dessas caras, mesmo no calor e boné, conversa muito com o professor.
            Chegamos ao local em uma Halux de Pedro, como disse ele era o cara do dinheiro,parecia o mais animado, disse duas palavras, que para Pedro é um discurso “ estou com sede”, falava e olhava para as pernas de Nnada, não vou discordar dele, era bonita, cabelos pretos, olhos cor de mel, usava na maioria das vezes os cabelos presos, mas quando soltos sua pele branca, de cabelos soltos e vestido curto e decotado, trasbordava sensualidade, , parecia estar corespondendo a Pedro.
            -Marcos – Nanda falou o meu nome, como estava distraído ela teve que repetir duas vezes – Marcos, olha essa casa e esse lago que coisa mais linda– A imagem realmente era belíssima, uma casa pequena, as paredes pintadas de verde com telhados coloniais, novos, como se tivessem sido trocados ontem, novos e um cercado de madeira atrás branco, como as cercas dos filmes americanos, portas firmes e teto alto, onde um homem comum pareceria um anão, muita água, um lago de águas claras e cristalinas, só de olhar para ele dava sede, fomos advertidos pelo professor, que olhava de longe, quase de dentro da casa.
            -Por favor, aproveitem o passeio, mas não pulem no lago – disse ascendendo o cachimbo – é uma pequena regra para aproveitar esse paraíso e discutirmos um pouco de filosofia, fazemos um churrasco, conversamos, andamos a cavalo, mas não pulem no lago.
            -Que regra estúpida professor – falou Paula, tipo intelectual de mulher, óculos da moda, cabelos curtos e sorriso que encantava  continuou a falar encantada pelos águas cristalinas do lago– no paraíso era a maçã, aqui é o lago, porque proíbem sempre as coisas boas?
            -Porque sem a proibição não seriamos racionais, sem razão não teríamos essa civilização – disse o professor -  alem do mais, por que é um desafio – mesmo no meio da natureza ele falava como um professor na sala de aula e tinha a nossa atenção – Gaap, da mitologia, é um poderoso príncipe do inferno, a lenda daqui diz que ele domina essas águas, segundo a Pseudomonarchia Daemonum,  Gaap controla especificamente o elemento de água e reina sobre ao elemento de água ou a "água dos demônios", então pela lenda daqui essa água pertence aos demônios, não há vocês.
            -Isso é brincadeira – eu disse dando um sorriso sem graça, mas ninguém respondeu o sorriso horroroso do professo com seus dentinhos serrilhados, aquela queimadura que fazia o olho repuxar e juro de onde saia uma secreção quando sorria, acho que os meus amigos também sentiram certo pavor com a história.
            -Sou um professor de filosofia – disse ele tocando o meu ombro – nunca brinco, por favor, não quebrem a regra, não toque na água, cada humano que tocar nessa água libera um tipo de demônio.
            Um vento frio passava de um lado para o outro nas minhas costas, a noite caia devagar e não haveria lua, logo só enxergaríamos o que a luz artificial iluminasse, Paula correu para ligar a luz da casa, mas não havia luz, teríamos que ascender velas, eu e Paula levamos as malas para dentro, tudo parecia muito mais feio lá dentro, com uma vela pequena e que produzia pouca luz não conseguia ver a parte de dentro direito e um cheiro horrível se apossou de meu corpo, Paula saiu da casa e vomitou.
            -Tem alguma coisa morta ai – disse Paula colocando a mão na barriga.
            Pedro ficou sentado na poltrona da Halux, olhamos para ele, do lado de fora já estava escuro, mas conseguíamos ver um pouco,dava para distinguir Pedro o carro e Nanda, foi só por um breve instante é que percebemos que ele não conseguia sair da Halux, seus olhos estavam vermelhos, com derrame de sangue nas conjuntivas e ele segurava o volante com as duas mãos, Nanda correu para ver o que estava acontecendo.
            -Pedro?Está se sentindo bem? – perguntou Nanda, enquanto eu e Paula de pé observávamos paralisadas, repentinamente a luz da vela não era suficiente estávamos diante de um breu total e Paula ascendeu a lanterna, mal conseguíamos ver o vulto do carro e de Nanda, olhei para trás e o professor estava sentado na cadeira como se nada ocorresse.
            -Professor alguma coisa aconteceu com Pedro – eu disse olhando para a casa, ele não olhou nem para mim nem para Paula, tragou o carimbo e em uma voz estranha disse.
            -Ele bebeu da água – cada palavra saia de sua boca devagar, Paula começou a chorar, no mesmo instante ouvimos o barulho de vidros quebras, o para-brisa do carro rompeu em pedaços, outra pancada, Pedro quebrou o para-brisa do carro com a cabeça.
            -Meu Deus! Ele está muito machucado – disse Nanda – venham aqui.
            Pedro começou a se arrastar, descendo pelo capô, nunca vi nada igual, como se fosse uma  serpente  ou um réptil, deslizava, fazendo movimentos com a boca tentando morder Nanda, rasgando a pele e a roupa com o vidro, ele descia sem usar os braços que vinham junto ao corpo com se amarrados, um corte horrendo feito pelo vidro do carro partiu a sua face ao meio, uma imensa poça de sangue surgiu ao redor daquele corpo contorcido.
            O professor apareceu de forma sobrenatural, como um participante daquela monstruosidade e sua mão tinha um machado, surpreendendo, mesmo com sua pequena estatura. Demonstrou tremenda força e acertou a cabeça de Pedro com um machado, separando com um só golpe, como se fosse a guilhotina na revolução francesa, aquele golpe contundente fez a cabeça soltar do corpo e rolar em direção ao lago, minhas pernas não aguentaram, sem forças cai de joelhos e vomitei.
            -Ele não presta mais para nada – disse o professor – temos que separar a cabeça do corpo, um demônio réptil se apossou dele, eu disse, não toquem na água.
            -Para que trazer a gente aqui? – gritou Paula.
            -Meu mestre chamou vocês – disse olhando com olhos vermelhos na nossa direção.
            -Vou chamar a policia, quem é seu mestre? – disse Nanda.
            -Eu pertenço a essas águas, e um dia para ela retornarei, talvez hoje celebremos esse retorno a pedido do mestre – disse o professor.
            -Você o que? – disse Paula pegando nervosamente o celular – e nós somos o que?
            -O mestre queria vocês, mas é a desobediência que vai levar todos para dentro do lago e, é claro, a sede – tragou uma vez o cachimbo.
            -Deixa comigo eu chama o policia – disse pegando o telefone – você pegou um machado e cortou a cabeça dele!
            -Não existe policia para isso – disse o professor – teremos que passar a noite aqui, o carro está imprestável, fiquem longe da água, não olhe para ela, sede e água, um atrai o outro e não tem uma gota nessas redondezas, se obedeceram então tudo sairá muito bem.
            -Para de falar desse da água, que o demônios é você, quer ver? Vou provar – disse Nanda e correu mergulhando na água, parte das gotas espirou em Paula, o que aconteceu depois foi horrível, aqui andando nessa estrada, com tanta sede, quase não consigo relembrar. Nanda retornou do mergulho sem a pele do corpo inteiro e sem um dos olhos, gritava, parecia uma figura demoníaca com maculos e tendões expostos derretendo em uma espécie de acido, ela desesperada tentava sair da água, mas era impedida por uma força maligna, à medida que andava até a margem mais partes do seu corpo iam derretendo até somente sobrou o esqueleto cambaleante, depois alguns passos seus ossos caírem na margem e ,de alguma forma assustadora, uma lamina de água, como uma mão do mal recolheu os osso de volta para o lago.
            Paula entrou em transe e viu que o local onde as primeiras gotas de água cariam  começou a brotar pequenas arranhas  que cresciam rapidamente e devoravam a carne de Paula, comiam a sua carne e seus ossos ela gritava de dor, fiquei desesperado, peguei o machado da mão do professor e corri, pois queria livrar Paula das terríveis arranhas que comiam a sua carne, acertei tantas machadadas, meu único objetivo insano era matar as arranhas, comecei a dar as machadadas de olhos fechados e não parei até ela cair, quando abri os olhos não havia nenhuma aranha ali, apenas um corpo despedaçado pelo machado de um lunático.
Ajoelhei  segurando  o machado, o professor ficava parado me olhando, adormeci segurando o machado, exausto, quando acordei deitado na grama, não havia ninguém mais lá, apenas o professor com aquela cicatriz horrorosa sentado em um banco do meu lado e fumando cachimbo, era quase dia, meu corpo estava sujo por um sangue preto.
Não consegui falar.
-Respeite a água – disse o professor enquanto caminhava para dentro do lago, via sua transformação, mas ninguém acreditaria, pensando nisso andando nessa estrada a minha sede só aumenta talvez eu tenha que voltar até o lago e beber um pouco .
Fim
 


JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 19/04/2013
Reeditado em 23/04/2013
Código do texto: T4249672
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