O cordão
Quando menina, pouco se sabe sobre a vida. A inocência nos ensina, com violência, aquilo que na escola não se pode aprender. Os pais protetores, escondem suas crias da realidade, as alienando. Mas há muita maldade no mundo, além daquilo que vemos nos jornais, ou que podemos suportar, ou acreditar.
Quando menina, o mundo lhe faz mulher, roubando a pureza da carne por entre as pernas finas, afogando o corpo em desejos e delírios que não pode se compreender, perdendo a própria alma em vontades alheias. A sombra de um homem, lhe veio em sonhos lúcidos, encantou seus ouvidos, dominou o seu corpo, fazendo-a desfazer em seus braços. Não havia nome, não havia rosto, apenas sensações.
E desta tempestade, gerou-se uma vida. A barriga volumosa, crescia cheia de dúvidas, fruto de uma imprudência, chutando o seu ventre lhe cobrando a culpa. O segredo foi ocultado, entre trapos e apertos, roupas largas e fugas noturnas.
Certa noite, sufocando os gemidos de dor, o trouxe ao mundo, deixando-o fluir indolente por entre as pernas úmidas, um o pequeno ser que pouco chorou. A menina-mulher-mãe, assustada, abafou o choro do pequeno, silenciando-o com um cadarço em volto ao pescoço. Logo, guardando o cadáver diminuto em uma caixa de sapatos.
Antes do amanhecer, a pálida menina de olhos encovados, enterrou o caixão de papelão no jardim, em uma cova rasa, sem nome, longe dos olhos do mundo.
Não havia culpa, ou remorso, nada que pudesse sentir...
Retornou para cama, com os dedos ainda sujos de terra e sangue, ninguém ouviu seus passos tonteados pelos corredores. Escutou a mãe ressonar em um sono alcoolizado no fim do corredor. Deitou-se enfim, suportando o peso do corpo, os ombros e ancas doloridas pelo esforço ao expulsar o pequeno intruso, devolvendo-o a terra. Os pensamentos ainda pairavam confusos, sentiu um vazio, como se tudo o que fora anteriormente tivesse sido expulsado com o feto. Era medo, mas como poderia sentir medo ou culpa? – ninguém me ensinou amar...murmurou.
Dias e noites correram soltas e no jardim, rosas vermelhas floresceram, onde havia sepultado o feto. Todas as manhãs, antes de ir à escola, as observava, reluzindo pela luz solar em um vermelho sangue violento, isto a incomodava como um espinho em sua consciência. Desviava o olhar, na tentativa de esquecer o crime cometido.
Aquela manhã em particular, tudo parecia estranho. Os gestos, os murmúrios de escárnio, os olhares inquisidores. A culpa lhe corroia, sentiu o ventre doer. Ouviu o eco de um choro longínquo. Tapou os ouvidos, mas eles continuavam em sua mente. Algo quente deslizava por entre as pernas, o sangue vivo, tingindo em rios, suas pernas, as calças, inundando o chão de tinta rubra.
Partiu em desespero, implorando para que não notassem seu descontrole. Aos tropeços e soluços, chegou em casa, clamando pela mãe, que pouco se importou, sacudindo a garrafa vazia entre os dedos moles, murmurando palavras bêbadas.
Inconformada pela ausência materna, trancou-se no banheiro, na tentativa inútil de limpar a tinta que escorria de sua carne.
Abrupto, o choro do bebê ainda tímido, tornou-se alto e insuportável aos seus ouvidos, os berros estridentes a torturavam. Implorou que parasse, mas apenas aumentava, de maneira que seus ouvidos poderiam explodir em dor. O bebê clamava sofregamente pela mãe desnaturada, que não ousou lhe dar ao menos um nome.
A menina, enlouquecida, correu até o jardim, arrancou as roseiras cheias de espinhos, cavou a terra com as mãos nuas até sangrar as unhas. Abriu a caixa apodrecida, retirando o embrulho sujo de sangue negro. Tomou nos braços o corpo pequenino junto ao seio. Lembrou-se do movimento que as mães fazem para acalmar os seus pequenos, cantarolou desajeitadamente uma canção qualquer. Fazendo-o adormecer em seus braços trêmulos e inseguros, ciente agora que o cordão entre a vida e a morte que os unia, jamais poderia ser desfeito. E assim permaneceu até que a encontrassem ao nascer do dia, deitada sobre a cova, repleta de terra, com o olhar perdido em algum lugar, com corpo de um feto pútrido em seus braços maternais, cantarolando pausadamente.
LETRA DA MúSICA
Come little children, come with me
Safe and happy you will be
Away from your homes, now let us run
With Hypno, you'll have so much fun
Oh, little children, please don't cry
Hypno wouldn't hurt a fly
Be free, be free be free to play
Come down in my cave with me to stay
Oh, little children, please don't squirm
Those ropes, I know, will hold you firm
Hypno tells you this is true
But sadly, Hypno lied to you
Oh, little children, you mustn't leave
Your families for you will grieve
Their minds will unravel at the seams
Allowing me to haunt their dreams
But surely, all of you must know
That it is time for you to go
Oh, little children, you weren't clever
Now you shall stay with me forever
TRADUÇÃO DA MúSICA
Venham criancinhas, venham comigo
Salvas e felizes vocês vão ser
Longe de suas casas, vamos correr
Com Hypno, vocês terão muita diversão
Oh, criancinhas, por favor não chorem
Hypno não faria mal a uma mosca
Sejam livres, sejam livre para brincar
Venham para a minha caverna ficar
Oh, criacinhas, por favor não fujam
Essas cordas, eu sei, irão lhes segurar firme
Hypno diz que isso é verdade
Mas infelizmente, Hypno estava mentindo
Oh, criancinhas, vocês não podem fugir
Suas famílias por vocês sofrerão
Suas mentes irei descuturar
Para assim, eu poder lhes assombrar
Mas certamente, tudo que vocês precisam saber
Já é a hora de vocês partirem
Oh, criancinhas, vocês não foram inteligentes
Agora vocês devem ficar comigo para sempre