Perdão -DTRL

I

O cano frio em sua têmpora fazia seu corpo estremecer por completo.Estava sentado em uma cadeira de madeira com os pés e as mãos atadas, na sua frente centenas de pessoas rezavam e algumas chegavam a chorar.

-Por favor, me deixe ir.

-Por que ainda pede? Sabe que não vai sair daqui vivo mesmo.

A cabeça do padre era tomada por pensamentos sombrios, rezava mas sabia que não havia como escapar.O homem que estava lhe ameaçando era um conhecido homicida da cidade.

Lord Rodrigo se tornou famoso por assassinar dezenas de padres em praças públicas.O assassino drogava suas vítimas e as conduzia até praças famosas de Patos, atirava nos sacerdotes e sempre dava um jeito de fugir do local.

Quando a policia chegou na praça, tudo o que Rodrigo fez foi apertar o gatilho.O projetil invadiu o crânio do fiel e atravessou toda a estrutura, expelindo pedaços do cérebro no chão quente.

Ainda era o inicio da tarde.

Por incrível que se pudesse parecer, o algoz não fugiu do local.Apenas permaneceu parado atrás do corpo, fazendo gestos com as mãos para os policiais.

Parecia que estava os convidando.

II

A rua estava calma e silenciosa, crianças brincavam de esconde-esconde ao passo de que algumas mulheres concentravam-se na atividade de fofocar e de varrer as calçadas.

A tranquilidade foi abruptamente interrompida quando duas viaturas da policia dobraram a esquina em alta velocidade, ambas frearam em frente a delegacia. De dentro de um dos carros dois policiais desceram, os mesmos traziam consigo um homem algemado nas mãos e pernas.

Longe dali, pessoas saiam gritavam e corriam por quase todas as ruas da cidade.A notícia de que Lord Rodrigo havia sido preso espalhou-se como fogo em palha e não demorou para que vários habitantes fossem para frente da delegacia, afinal era motivo para festejar.

A sala de interrogatório era escura e repleta de câmeras, duas cadeiras decoravam o local.Em uma delas estava o assassino e logo um homem adentrou no local, pela farda era possível identificar que se tratava de um policial.

-Finalmente você perdeu, em?

-Eu não perdi.A voz de Rodrigo era extremamente grave, lembrava um rugido de cachorro.

-Ah, perdeu sim meu amigo.Você está preso agora, não entende?

-Como é seu nome?

-Sou em quem faço as perguntas aqui, rapaz.Agora me responda, por que matou todos aqueles padres? A voz do detetive soava calma, mas escondia o medo que ele sentia ao estar na presença do Serial Killer mais famoso da Europa.

-Para evitar mortes.

-É um pouco sem sentido, não? Quer dizer..matar pessoas para evitar mortes.

-Aqueles homens semeavam a discórdia.Todas as semanas diziam aos fiéis que os que não acreditavam em Deus mereciam ser excluídos, que eram obra do Satanás.

-Então você alega que matou todas aquelas pessoas simplesmente por que elas tinham fé? Uma espécie de curiosidade podia ser sentida no tom de voz.

-Não, eu matei porque eles distorciam a fé.Não aceitavam as diferenças e por isso mereciam morrer, o fedor deles estava contaminando toda a cidade.

-Você acredita em Deus, Rodrigo?

-Eu sou Deus.

-Hahahaha.A gargalhada proferida foi audível até mesmo para os que estavam do lado de fora da sala.Rodrigo mexeu-se desconfortavelmente na cadeira, parecia estar incomodado com alguma coisa.

-Você precisa de tratamento psicológico, louco! Dizia o policial, enquanto levantava-se da cadeira e seguia até a porta.Antes de sair escutou palavras que fizeram seu corpo tremer.

-Antes do fim do dia você vai entender, Daniel.

IV

Daniel estava em sua sala, observando a rua.A felicidade transbordava por todo o corpo, havia conseguido prender o homem mais procurado do país.

Iria utilizar aquilo para promover sua candidatura a deputado.

Estava caminhando em direção a máquina de café quando lembrou de uma coisa, pôs-se a pensar na sua conversa com Rodrigo. Ironicamente, não lembrava de ter dito seu nome para o assassino.

Quando começou a ir em direção á sala de interrogatório escutou um barulho extremamente alto, parecia que as paredes estavam sendo arremessadas umas contras as outras.Em pouco tempo a estrutura do prédio começou a tremer.

Quando abriu a porta, o homem teve uma das piores visões que alguém poderia ter.

Dezenas de policiais estavam mortos, os corpos pareciam ter sido estraçalhados por algum animal.Vísceras e órgãos espalhavam-se pelo chão ao passo de que membros e sangue fresco manchavam as paredes e alguns pedaços do teto.

O detetive não entendia como aquilo podia ter acontecido em questão de segundos.Olhou para o lado e avistou a coisa mais assustadora que já tinha visto na vida.

Rodrigo estava em pé, completamente livre e com uma cabeça na mão.O seu corpo completamente coberto por uma espécie de aura branca ao passo de que um par de asas exibia-se, imponente e poderosas.

Um Deus em sua perfeita forma.

-M-M-Meu De-Deus, perdão! Era o que suplicava Daniel, enquanto ajoelhava-se.

-Seu Deus está morto, Daniel.Sua raça o matou há muito tempo atrás quando trocou a fé pela vaidade.A voz do anjo agora era ainda mais forte e alta.

-Me perdoe.Lágrimas rolavam pelo rosto do humano, quando sua cabeça foi arrancada do pescoço.O tronco expelia sangue enquanto caia e completava a cena da chacina.

-Algumas coisas não devem ser perdoadas, Dizia Rodrigo enquanto caminhava para fora da delegacia.

Uma limpeza precisava ser feita.

FIM

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Morada Flutuante - Ilustrações”

Rayan Fernandes
Enviado por Rayan Fernandes em 27/04/2013
Reeditado em 15/09/2015
Código do texto: T4261642
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