A Alameda dos Ventos

Chamo-me Francisco, sou um executivo de 32 anos, sempre fui um cara muito ocupado com meus trabalhos, dificilmente sobrava tempo para minha família. Rose, minha mulher e minha filha Julia viviam falando que eu não tinha tempo para elas e para dar um tempo aos trabalhos e pensar um pouco mais em minha família que, aliás já nem sabia o significado. Eu não tirava folgas, e quando eu chegava minha mulher e minha filha já estavam dormindo, mas isso acontecia porque a empresa estava passando por momentos difíceis e eu estava dando muito duro, mas eu precisava de alguns dias de folga. Foi então que resolvi falar com o meu chefe á respeito de minhas férias.

-Boa tarde Sr. Mario tem um tempinho para conversarmos?

-Boa tarde Francisco tenho sim vamos até minha sala.

-Diga o que eu posso ajudar?

-Então, como eu estou dando duro na empresa, não tenho muito tempo para minha família, realmente estou passando mais tempo aqui do que com que minha mulher e minha filha, e como eu não tiro férias já faz um ano, teria como o senhor me proporcionar alguns dias para descansar?

-Tem sim Antônio, vejo seu esforço e sua dedicação para ajudar nossa empresa e por isso merece descanso. Quer para quando?

-Teria como assinar os papéis hoje mesmo, é que pretendo viajar sabe, fugir um pouco das preocupações e problemas.

-Claro Antônio, assim que eu terminar de resolver uns probleminhas já assino os papéis pode ser?

-Pode sim Sr. Mario, muito obrigado pela atenção.

-Não me agradeça você também tem vida pessoal e precisa se valorizar.

Cheguei em casa mas estava cansado pois o dia tinha sido muito duro, mas finalmente estava com minhas férias nas mãos.

-Rose, finalmente consegui minha férias podemos viajar tranquilamente.

O Ano já estava no final e Julia estava de férias do colegial e Rose do seu trabalho de enfermeira, enfim poderíamos viajar sem complicações.

-Sério Antônio? Que ótimo! Estou muito feliz com a notícia.

-Agora podemos tirar um tempo para nos meu amor.

-Com certeza, eu irei adorar.

-Onde está Julia? Queria dar a ótima notícia para minha filhinha querida.

-Ela já está na cama, Antônio não viu o horário já passarão das 2h da manhã.

-É verdade, mais amanhã eu conto para ela, acho que até irei dar um presente porque ela merece, tirou férias mais cedo devido suas ótimas notas estou muito orgulhoso dela e essa viagem será inesquecível.

-Irá ser mesmo, mas agora está muito cansado, tome um banho e vá deitar e esqueça um pouco dos trabalhos, apenas relaxe.

No dia seguinte..

Acordei tarde, recebi café na cama, estava aproveitando minhas férias, mas ainda faltava escolher o lugar para onde iríamos nos hospedar. Pesquisei na internet logo que acordei, mas confesso que não vi nada de encantador, então fui a uma banca de jornal na esquina de casa e vi uns classificados. Eles diziam.

"Está procurando um lugar para descansar sem precisar gastar muito? Então o que está esperando venha logo para os campos do Horizonte"

Achei o lugar ótimo, ficava no norte de MG, vi algumas fotos, relato de pessoas dizendo que ficaram muito satisfeitas e o lugar não era caro, então informei a Rose.

-Querida olhe, achei esse lugar ideal para passarmos nossas férias, o que você acha?

-Nossa, ele é muito bonito, deve ser muito calmo também, aqui diz que o lugar mais calmo é a "Alameda dos Ventos" é muito bonito e bem barato. Gostei, acho que você podia dar uma ligada e ver o que podia fazer querido.

-E isso que irei fazer agora.

Logo embaixo dos lugares tinha o número, mas essa "Alameda dos Ventos" tinha um número a menos, achei um pouco estranho mas mesmo assim liguei. Começou a chamar e de repente fez um barulho de alguns ruídos.

-Alo, e da Alameda dos Ventos?

Uma voz um tanto macabra atendeu.

-Olá, eu vi que está interessado no lugar, quer fechar negócio?

-Sim, quando posso lhe entregar o dinheiro e quando podemos viajar?

O tal moço me passou o número de sua conta e me disse que se pudéssemos poderíamos viajar hoje. Achei muito estranho porque primeiro, teríamos que acertar algumas papeladas, e segundo eu entregaria o dinheiro pessoalmente e ele iria-me dizer sobre o lugar, mas desconsiderei, apenas queria descansar e me livrar de transtornos então disse que poderíamos. Ele me disse que deixaria as instruções e a chave logo no portão. Depois que terminei a conversa, chamei Rose e Julia para conversar.

-Rose, Julia, tenho uma novidade para contar as duas.

-Sério pai? E o que seria?

-Diga Querido.

-Nos vamos viajar está noite, acabei de conversar com o Dono da "Alameda dos Ventos" e ele me disse que poderíamos viajar hoje mesmo.

-Nossa que ótimo querido, então não vamos perder tempo não é? Julia comece a arrumar suas malas.

-Que ótimo pai, estou tão feliz que vamos ter um tempo para nós finalmente sem trabalhos e sem preocupações.

-Então vamos nos arrumar e arrumar as coisas que eu não quero sair muito tarde.

Quando estávamos prontos já passavam das 18 horas, antes de sair vi na internet a localização da tal "Alameda dos Ventos" e não encontrei nada, nem o nome. Achei muito estranho e liguei para o dono do local. Ele me disse que era 1 hora de viajem e devia pegar a BR 366 e quando agente passar o quilometro 80, teria uma placa indicando. Segui suas ordens e então pegamos a estrada. Não foi tão difícil achar a placa e logo chegamos ao lugar, mas confesso que tive um mau pressentimento, o lugar era muito calmo e muito sombrio, mas Rose e Julia estavam encantadas, o lugar parecia ate mais bonito do que nas fotos. Mas porque um lugar tão bonito seria tão barato?E porque não havia relato de pessoas contentes com o lugar?

Peguei a chave que já estava no portão junto com as instruções, abri e entrei com o carro. O quintal era muito grande, encostei e comecei a descarregar as bagagens. A casa era gigantesca, fiquei até com medo, parecia como nos filmes, mas com um toque real sabe? E por cima o céu estava com pinta de chuva, só para piorar a situação. Abri a tal casa e nunca pensei que iria dizer isso, mas tudo era lindo, bem cuidado com decorações de primeira, e nem me fale do piano que tinha, devia valer uma fortuna todos aqueles objetos da casa, Julia ficou paralisada com a variedade de objetos que a casa proporcionava desde entretenimento ate acessórios de serviços eu, por exemplo, vi objetos que nem tinham lançado no mercado, era realmente assombroso, mas como eu estava cansado de mais, descarreguei minhas coisas e logo dormi, não quis me aprofundar no assunto. Rose e Julia foram logo após.

No dia seguinte acordei com o sol batendo sobre meu rosto, fui para cozinha. Rose e Julia já estavam almoçando.

-Olhe filha, o dorminhoco acordou.

As duas começaram a rir.

-Nossa nunca dormi tão bem nesses últimos anos, acho que essa casa foi umas das melhores idéias que tivemos.

-É verdade querido, mas agora coma você deve estar com muita fome e eu fiz lasanha, sua comida predileta.

Eu adorava lasanha, almocei e logo depois tirei mais um cochilo, Rose ficou vendo TV e Julia saiu para brincar lá fora. Quando acordei o relógio batia 19hrs, não me importava com horários, estava de férias então só queria relaxar, mas levantei e resolvi dar uma volta naquele imenso quintal. Julia ainda brincava, parecia estar muito feliz com todos aqueles objetos, como pula-pula e patins.

-Filha, não quer dar uma pausa para comer alguma coisa e depois voltar?

-Não pai, não estou com fome, estou me divertindo muito.

Demais até, quando fui cochilar era 12hrs , acordei 7 horas após e ela ainda brincava. Entrei em casa e Rose estava dormindo no sofá, devia ter assistido muita TV e logo caiu no sono. Pensei em ver os objetos de empresa que estavam no quarto dos fundos, mas não quis tocar, vai que o dono desconfia que mexam nas suas coisas e fique brabo. Então resolvi ligar para ele, para agradecer pela ótima casa, comecei a discar, mas uma notícia me deixou super amedrontado.

“O número que você chamou não existe, por favor verifique se é algum erro de digitação e tente novamente“

O número estava certo, mas como pode ser? Tentei mais de dez vezes e todas elas apareciam essa mensagem. Não quis contar para Rose para não a deixar com desespero.

A noite caiu, Julia já estava na cama, estava muita cansada, pois brincou o dia todo. Rose estava vendo alguns catálogos e eu resolvi ver alguns objetos que tinham naquela salinha. Fiquei muito impressionado e comecei a pesquisar alguns na internet, mas dizia que esses modelos nem existiam, e que iriam sair daqui alguns anos. Mais como? Não é possível se eu estou segurando-os na minha mão. De repente o relógio bate 00h00, não vi a hora passar, Rose e Julia já estavam á dormir, e sem mais sem menos as coisas de casa começaram a envelhecer parecendo alguma maldição, não sei bem como dizer mas aqueles objetos derretiam e todas aquelas decorações de casa começaram a cair, era horrível, fiquei trancado naquela salinha, os objetos de trabalho também começaram a derreter, e ouviam batidas no reboco da casa. Estava certo, a casa era mal assombrada e não era só isso, ela tinha alguma espécie de maldição, tentei sair da sala, mas a tranca da porta estava derretida, então comecei a chutar, quando a porta se abriu a casa estava pegando fogo literalmente, foi à pior sensação de todas, não sabia o que fazer, e muito menos não sabia onde estavam Rose e Julia. Mas ignorei, peguei um pano que avistei no chão e tampei a cara.

-Rose, Julia podem me ouvir?

Não ouvia uma só palavra das duas, pensei em pegar o extintor de incêndio mas ele também havia derretido. Então fiquei pensando em alguma solução no momento, mas tinha que ser muito rápido, pois a vida de minha mulher e minha filha estava em jogo, não pensei duas vezes e pulei da janela, cai logo sobre um arbusto e ele amorteceu minha queda. No meu carro sempre guardo um kit de primeiros socorros, Rose e Julia sempre acharam ridículo, mas eu sabia que um dia ainda iria precisar. A chave do carro estava na sala onde literalmente estava com fogo, então peguei um pedaço de madeira e comecei a macetar o porta-malas, até que ele se abriu, foi então que peguei o extintor de incêndio que havia ali dentro e uma capa de couro. Já entrei com o extintor acionado e logo vejo Rose no chão, fui com cautela, pois a casa estava se desintegrando aos poucos, peguei Rose, ela estava com vida graças a Deus, mas só tinha muita fumaça em seu pulmão, a levei para fora de casa e perguntei de Julia.

-Onde está nossa filha?

-Não sei Francisco, assim que vi o fogo Julia saiu correndo e eu fui logo atrás, mas acabei caindo e desmaiando com a fumaça.

-Droga, eu vou entrar, sem minha filha eu não volto!

-Me deixaeu ir contigo!

-Não, você já está muito ruim, fique ai e melhore, logo voltarei com nossa filha.

Entrei novamente e já fui para o quarto de Julia, as chamas estavam tomando conta de tudo, eu já estava começando á ficar tonto, mas não podia desistir ali, minha filha precisava de mim, e eu não iria decepcioná-la. Olhei para todos os lados, mas ela não estava lá percebi que a casa iria desmoronar e sai correndo, mas com o sentimento de fracasso na cabeça, o que eu faço agora? Perdi meu bem mais precioso. Assim que sai peguei Rose e a afastei mais do local, logo tudo desmoronou.

-Onde está Julia?

Não sabia o que falar, estava arrasado, envergonhado, destruído, mas de repente uma voz me reconstrói novamente.

-Pai, Mãe sou eu Julia.

-Querida, que bom que está bem, graças aos céus.

-Filha, Onde você se meteu, fiquei com muito medo de te perder, você nem imagina o medo que eu estava.

-Pai, calma eu só me lembro de ter acordado, e depois eu vim brincar no quintal com os objetos da casa, e agora estou aqui.

-Certo você não precisa saber de nada mais, vamos embora daqui para nunca mais voltar!

Entramos no carro com o porta-malas todo amassado e pegamos na estrada, não sei como os objetos que Julia estava brincando não derreteram, não sei se realmente o dono desta casa existiu, não sei o que aconteceu com esta casa, mas eu sei que estou são e salvo com minha família e estamos voltando para casa.

Rafael Fernando Cibi
Enviado por Rafael Fernando Cibi em 06/05/2013
Reeditado em 06/05/2013
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